29 abril 2017

GREVE PRÁ QUÊ?


A Greve Geral desta semana parou o país
Sobre a paralisação desta sexta-feira, observei opiniões diversas de meus alunos e colegas de trabalho, se era válida ou não, prá que e prá quem ela servia. Alguns comentaram inclusive porque não se fazia em finais de semana, como ocorreu nas grandes manifestações anteriores?

Na minha opinião, o movimento deste 28 de abril tem grande valor. Ele ocorre num momento preocupante para a classe trabalhadora. E se ela não demonstrar coesão, não haverá tempo de resistir ao que está sendo planejado sorrateiramente neste governo que aí está.

Sou e sempre fui favorável a mudanças e à modernização! Acredito que o arcaico e o retrógrado devem ser temas costumeiros de quem lida com a educação. Fossilizar nossas ações e atitudes faz com que aos poucos sejamos engolidos pela tecnologia e superados como agentes de mudança. Mas tudo tem um limite, e não podemos “jogar nosso passado no lixo”. Ele tem valor e é fruto de grandes lutas, de grandes esforços e custou até mesmo vidas.

Me preocupam neste momento as ditas “reformas” deste governo que aí está.

A Previdência Social também está entre os itens de reformas

Se sou a favor da “reforma da previdência”? Sou sim, pois a longo prazo, se nada for feito, não haverá como pagar as aposentadorias.

Mas este é um tema que deve envolver várias representações, num debate amplo de cunho nacional. Modificações também devem ser realizadas nas aposentadorias milionárias do serviço público, da classe política, e até mesmo, nas aposentadorias de ex-presidentes e ex-governadores, que ainda abarcam parentes por anos e anos.

E o que o congresso tem demonstrado com essas medidas “goela abaixo” do povo, é que o problema da escassez de recursos da previdência está tão somente na precocidade das aposentadorias privadas. E os próprios autores dessas medidas já acumulam varias aposentadorias. Uma vergonha...

Vários parlamentares se manifestaram contra a Reforma Trabalhista
aprovada na Câmara
Se sou a favor da “reforma trabalhista”? Sou sim! Os tempos mudaram, e a nossa CLT, que nasceu com Getulio Vargas lá na década de 1940 parece necessitar adequações ao século XXI. De lá pra cá muita coisa mudou, os tempos são outros. Vivemos uma época da velocidade da informação, de tecnologia de computadores, e onde a maioria das tarefas manuais se vê a cada dia mais tragada pela automação. Portanto, há necessidade de nos adequarmos ao novo contexto. Mas não com uma legislação “goela abaixo”, sem debates com os organismos de representação dos trabalhadores. Isso não se faz desta forma.

Trabalho Remoto, Trabalho Intermitente – tudo isso ainda é novidade para mais de 95% da população. E o governo trata isso como se fossemos um país de primeiro mundo, sendo que temos um serviço ridículo de internet, totalmente despreparado para estas questões. Além disso, no Trabalho Intermitente há necessidade de uma fiscalização eficiente, pois corremos o risco de grande exploração e precarização da mão-de-obra, tal como se dá hoje nos contratos de terceirização.

Porto Alegre não teve transporte público no dia da paralisação

Pois, falando em “terceirização” da atividade-fim, este é outro tema que sequer foi discutido com a sociedade brasileira, e já está aí, praticamente aprovado. Certamente vai gerar polêmicas e muitas contradições, até que se consiga chegar a um consenso. Nem sei se isso será possível.

Nem vou falar do parcelamento das férias, pois é outro tema contraditório e que requer mais discussões.

Por fim, quero comentar a questão das contribuições sindicais. A alternativa de aceitar ou não o desconto na folha de pagamento traz um grande risco à classe trabalhadora. Refirmo que não temos uma população educada e politizada a ponto de entender a importância da representação sindical. [É a mesma coisa que ocorre quando se fala de Voto Facultativo nas eleições.] Qualquer centavo a mais que possa ser economizado pelo trabalhador será bem-vindo, e o governo tenta com esta medida desmobilizar o movimento sindical, enfraquecendo-o. Sem a contribuição, os sindicatos não terão a mesma força para representar os trabalhadores. E isso parece que não foi entendido por grande parte da classe.

Gelson Santana do STICC:
"Sindicatos não se modernizaram"
E os sindicatos não se modernizaram ao longo destes últimos anos, como reconheceu o presidente do STICC – Sindicato dos Trabalhadores da Indústria da Construção Civil, Gelson Santana, em recente evento aqui em Porto Alegre. Alguns perderam legitimidade por agirem de maneira dócil, outros foram esfacelados pela pulverização. Mesmo assim, são de suma importancia nas negociações, e perder essa representação será trágico ao trabalhador.  

Portanto, Sim! A GREVE desta sexta-feira tem sentido e objetivos. Há um movimento em curso no congresso nacional para desmobilizar a classe trabalhadora. Diante da apatia geral que toma conta da sociedade brasileira neste momento, e diante das medidas aprovadas por este governo, fica a pergunta:

“Somente quando nos retirarem o último direito sem qualquer objeção é que vamos para as ruas protestar?”                  

2 comentários:

Anônimo disse...

A maioria dos que se dizem contra o protesto e as manifestações nem ao menos sabem ou procuram saber do que se trata.

Prof. Jairo Brasil disse...

Sem dúvida, Valéria.