UM ATO DE COVARDIA

Ação da Brigada ocorreu à noite e foi desproporcional 

Michel de Montaigne, pensador e filósofo francês que viveu entre 1533 e 1592, cunhou uma frase que retrata os valores de quem está imbuído deste sentimento:

“A Covardia é a mãe da Crueldade”.

E foi exatamente isso que ocorreu numa reintegração de posse na última madrugada de quarta-feira, dia 14 de junho, em plena zona central da capital gaúcha, numa demonstração de crueldade e de truculência por parte dos agentes policiais. Numa ação coordenada, os agentes da Brigada Militar encurralaram diversas famílias que haviam se acomodado num prédio público na Rua Andrade Neves, esquina General Câmara.

Num ato de grande covardia, com policiais armados de cassetetes e balas de borracha, além de bombas de efeito moral e gás de pimenta. Isso tudo utilizado no atendimento de uma solicitação da Justiça Gaúcha.

Bombas de efeito moral e gás de pimenta para desmobilizar manifestantes 

O objetivo final, de esvaziar o prédio público, foi atingido conforme a solicitação do Poder Judiciário. Mas, as consequências sequer foram estudadas pelos responsáveis da ação: pessoas dispersadas sem saber para onde se deslocarem em plena noite. E ainda mais, inúmeras crianças atingidas num momento em que as famílias se preparavam para o descanso noturno. Um verdadeiro absurdo, um ato de crueldade.

Analisando amiúde a atitude truculenta dos policiais, é praticamente impossível de entender porque em ações que envolvem pessoas simples e fragilizadas há contingentes fortemente armados e quando há necessidade de combater o crime organizado há falta de policiais. Só mesmo para um secretário de segurança pública como o ex-prefeito de Santa Maria, responsável por uma das maiores tragédias brasileiras, até hoje sem punição dos verdadeiros culpados.

César Schirmer, um dos responsáveis pela tragédia
da Boate Kiss, hoje secretário da segurança pública do Estado

E na ação que ali ocorreu esta semana, não se deve e nem se pode imputar a responsabilidade aos policiais, já que cumpriam o que havia sido ordenado. Os verdadeiros responsáveis pela atitude insana da reintegração de posse que atingiu os “Lanceiros Negros” são as autoridades públicas que não mediram as consequências da ação realizada em plena noite. Aliás, por falar em covardia, basta que se estude esta parte da história gaúcha de que fizeram parte estes lanceiros, para se ver o absurdo que com eles foi praticado em nosso passado não tão glorioso assim.  

Estamos a constatar cada vez mais uma população revoltada com as atitudes inconsequentes e irresponsáveis de autoridades públicas que se mostram totalmente despreparadas no trato com a sociedade. Quando não estão preocupadas em se apropriar dos recursos públicos de maneira desonesta, adotam atitudes e ações sem qualquer avaliação prévia, como se fossem proprietários do Estado, e não representantes de uma sociedade que ali os colocou em seu nome.

Não são nossos representantes, mas tão somente “covardes praticando a crueldade” a todo momento.