21 julho 2017

A MARCA SANTANA

Julho de 2017: morre o autor da marca "Imortal Tricolor"
A Infância e Adolescência são períodos inesquecíveis de nossa vida mesmo. Pelo menos para mim o foram. Seguidamente me pego recordando aqueles tempos. Morando em Canoas nestas épocas, a vinda à capital era costumeira, pois grande parte dos atrativos de final de semana aconteciam no “Portinho”. E dentre aquelas que mais me recordo estão os jogos de futebol no antigo estádio “Olímpico”.  Ali assisti grandes confrontos, como aquela memorável despedida de Pelé com a equipe do Santos, antes de se transferir para o Cosmos .

Mas neste tempo de frequentar o estádio Olímpico, uma figura marcava os minutos iniciais de qualquer confronto. Um comentarista meio doido incendiava a torcida antes do jogo. Naquela época não tínhamos os “smartphones” e muito menos Facebook e Whatsapp. Mas junto ao ouvido todos traziam colados o radinho para ouvir os gritos de GOOOOOLLLLL do Armindo Antonio Ranzolin e os comentários do Lauro Quadros. E ali na beira do campo, ninguém mais do que Paulo Santana incitava a galera na arquibancada. E foi ele o criador da marca "Imortal Tricolor". 

A equipe esportiva que marcou minha adolescência
Por isso, posso lhes afirmar que SANTANA fez parte da minha vida, neste período e em outros tantos. E me senti triste, como se um pedaço da minha adolescência fosse embora nesta quinta-feira fria de julho.

Mas fica, como sempre, o seu Legado. Ao longo dos anos aprimorou a arte da escrita, e fez com que lêssemos muitas vezes o jornal “de trás para frente”, buscando sempre em primeiro lugar a “coluna do Santana” para saber sua opinião, primeiramente sobre o futebol; mas depois sobre outros assuntos.

Pois bem, na edição desta semana, resolvi trazer uma das muitas crônicas de Paulo Santana, para que vejam a qualidade da escrita deste inquieto, polêmico e autêntico ícone do radio, TV e jornal gaúchos. Espero que apreciem como apreciei durante muito tempo.

Salve SANTANA... 

A ROUPA E A NUDEZ
Quais terão sido os primeiros impulsos humanos? Depois que os bebês choraram, única prática humana sem aprendizado, foram ensinados a se alimentar, a engatinhar, a falar e a caminhar. Então a criança defrontou-se com seu corpo e sentiu pudor, também ensinado. Tratou aí de encobrir seu corpo, uma maneira de não entregar-se totalmente aos outros, a castidade é uma forma de poupança, ela será entregue como um tesouro para quem a merecer, devem ter pensado as virgens virtuosas.
A lingerie trouxe mais sensualidade
para a mulher
Assim os homens (e as mulheres) decidiram desde cedo que encobririam seus corpos, alguns com vegetais, cordas, madeiras, os guerreiros com metais. Mas convencionou-se finalmente que a nudez seria coberta por roupas. E as roupas acabaram por valorizar a nudez.
Em alguns países muçulmanos, a nudez é ainda mais valorizada porque as mulheres são obrigadas a cobrirem-se da cabeça aos pés. Talvez, assim, lá a lascívia e a concupiscência mais incendeiem a imaginação masculina: é que o desejo é ainda mais ardente quando não se conhece o objeto desejado.
Já nós, ocidentais, fomos aos poucos expondo nossos corpos num processo milenar. As luvas deram lugar aos anéis, os sapatos às sandálias, as calças às bermudas, as saias às minissaias e aos shorts. E, no campo feminino principalmente, até os talhes foram brindados com os decotes, tudo em função da sedução. As roupas, que tinham o pretexto do agasalho, foram assumindo a função exponencial de atrair o sexo oposto, de mãos dadas com a vaidade.
No sentido contrário do chador árabe, as roupas ocidentais partiram para a atração explícita, em vez do segredo muçulmano de vestimentas que deixavam o corpo blindado a sete chaves, abriram-se para os olhares alheios. Os corpos inteiros encobertos pelo vestuário foram dando aos poucos lugar às roupas sumárias, só deixando indescobertas as partes pudendas, a atração primal, embora os seios já tenham desabrochado para um processo de total exposição.

No meio dessa evolução surgiram tanto as roupas transparentes quanto as justas no corpo, as que melhor e sedutoramente configuram as verdadeiras formas corporais. De tal sorte a moda se incorporou à civilização que certa vez uma mulher célebre declarou que quando se mostrava bem-vestida isso lhe dava uma tal tranquilidade interior que nem a religião podia lhe transmitir.
De tal sorte o vestuário se transformou de obstáculo em cúmplice da nudez que se consagraram no mundo inteiro as lojas de lingerie. Com a lingerie, a arte e a ciência encontraram um meio de a mulher tornar-se mais sedutora com aquela roupa leve e suave do que se estivesse nua. É o homem substituindo o criador, a técnica do design superando a natureza.
Texto publicado em 19/02/2006

       

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