Julho de 2017: morre o autor da marca "Imortal Tricolor" |
A Infância e Adolescência são
períodos inesquecíveis de nossa vida mesmo. Pelo menos para mim o foram.
Seguidamente me pego recordando aqueles tempos. Morando em Canoas nestas
épocas, a vinda à capital era costumeira, pois grande parte dos atrativos de
final de semana aconteciam no “Portinho”. E dentre aquelas que mais me recordo estão
os jogos de futebol no antigo estádio “Olímpico”. Ali assisti grandes confrontos, como aquela memorável
despedida de Pelé com a equipe do Santos, antes de se transferir para o Cosmos .
Mas neste tempo de
frequentar o estádio Olímpico, uma figura marcava os minutos iniciais de
qualquer confronto. Um comentarista meio doido incendiava a torcida antes do
jogo. Naquela época não tínhamos os “smartphones” e muito menos Facebook e Whatsapp.
Mas junto ao ouvido todos traziam colados o radinho para ouvir os gritos de GOOOOOLLLLL
do Armindo Antonio Ranzolin e os comentários do Lauro Quadros. E ali na beira do campo,
ninguém mais do que Paulo Santana incitava a galera na arquibancada. E foi ele o criador da marca "Imortal Tricolor".
A equipe esportiva que marcou minha adolescência |
Por isso, posso lhes
afirmar que SANTANA fez parte da minha vida, neste período e em outros tantos. E me senti triste, como se um pedaço da minha adolescência fosse embora nesta quinta-feira fria de
julho.
Mas fica, como sempre, o seu
Legado. Ao longo dos anos aprimorou a arte da escrita, e fez com que lêssemos muitas vezes o jornal “de trás para frente”, buscando sempre em primeiro
lugar a “coluna do Santana” para saber sua opinião, primeiramente sobre o futebol; mas depois sobre outros assuntos.
Pois bem, na edição desta
semana, resolvi trazer uma das muitas crônicas de Paulo Santana, para que vejam
a qualidade da escrita deste inquieto, polêmico e autêntico ícone do radio, TV e jornal gaúchos.
Espero que apreciem como apreciei durante muito tempo.
Salve SANTANA...
A ROUPA E A NUDEZ
Quais terão sido os
primeiros impulsos humanos? Depois que os bebês choraram, única
prática humana sem aprendizado, foram ensinados a se alimentar, a
engatinhar, a falar e a caminhar. Então a criança defrontou-se com seu corpo
e sentiu pudor, também ensinado. Tratou aí de encobrir seu corpo,
uma maneira de não entregar-se totalmente aos outros, a castidade é
uma forma de poupança, ela será entregue como um tesouro para quem a
merecer, devem ter pensado as virgens virtuosas.
A lingerie trouxe mais sensualidade para a mulher |
Assim os homens (e
as mulheres) decidiram desde cedo que encobririam seus corpos, alguns
com vegetais, cordas, madeiras, os guerreiros com metais. Mas
convencionou-se finalmente que a nudez seria coberta por roupas. E
as roupas acabaram por valorizar a nudez.
Em alguns países
muçulmanos, a nudez é ainda mais valorizada porque as mulheres são
obrigadas a cobrirem-se da cabeça aos pés. Talvez, assim, lá
a lascívia e a concupiscência mais incendeiem a imaginação masculina:
é que o desejo é ainda mais ardente quando não se conhece o
objeto desejado.
Já nós, ocidentais,
fomos aos poucos expondo nossos corpos num processo milenar. As
luvas deram lugar aos anéis, os sapatos às sandálias, as calças
às bermudas, as saias às minissaias e aos shorts. E, no campo
feminino principalmente, até os talhes foram brindados com
os decotes, tudo em função da sedução. As roupas, que tinham o
pretexto do agasalho, foram assumindo a função exponencial de atrair
o sexo oposto, de mãos dadas com a vaidade.
No sentido contrário
do chador árabe, as roupas ocidentais partiram para a atração
explícita, em vez do segredo muçulmano de vestimentas que deixavam o
corpo blindado a sete chaves, abriram-se para os olhares alheios. Os
corpos inteiros encobertos pelo vestuário foram dando aos poucos
lugar às roupas sumárias, só deixando indescobertas as partes
pudendas, a atração primal, embora os seios já tenham desabrochado
para um processo de total exposição.
No meio dessa
evolução surgiram tanto as roupas transparentes quanto as justas no
corpo, as que melhor e sedutoramente configuram as verdadeiras formas
corporais. De tal sorte a moda se incorporou à civilização que certa
vez uma mulher célebre declarou que quando se mostrava bem-vestida
isso lhe dava uma tal tranquilidade interior que nem a religião podia
lhe transmitir.
De tal sorte o
vestuário se transformou de obstáculo em cúmplice da nudez que se
consagraram no mundo inteiro as lojas de lingerie. Com a lingerie, a
arte e a ciência encontraram um meio de a mulher tornar-se mais
sedutora com aquela roupa leve e suave do que se
estivesse nua. É o homem substituindo o criador, a técnica do
design superando a natureza.
Texto publicado em 19/02/2006
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