01 julho 2017

NR36 - MAIS UM FRIGORÍFICO NOTIFICADO

Quem achava que a NR36 havia chegado só para constar como mais uma norma publicada, esta semana constatou que ela veio prá combater a negligencia com a saúde e integridade física dos trabalhadores do segmento de processamento de carnes.

Desta vez, o Ministério Público do Trabalho notificou o frigorífico Boa Esperança Agroindústria, no município de Santo Antônio da Patrulha. Foram dois dias de inspeção na fábrica, na terça e quarta-feira desta semana, dentro da programação de uma força-tarefa criada para esta finalidade. Isto quer dizer que outras empresas poderão receber a visita dos fiscais nos próximos dias.  

Frigorífico de abate de bovinos de Sto. Antonio da Patrulha-RS
Segundo o MPT, no Boa Esperança foram encontradas treze irregularidades marcantes e que contribuem para tornar o ambiente de trabalho hostil aos funcionários da empresa. Dentre elas, a inexistência de uma CIPA e um SESMT terceirizado que funciona de maneira muito precária. Os principais programas exigidos pela legislação encontrados na empresa eram os populares PPRA e PCMSO “de gaveta”, aqueles que são elaborados por empresas adeptas do “copia/cola” e que são tão genéricos que não se consegue reconhecer ao que se aplicam.

Fez parte da equipe de fiscalização a reconhecida e experiente tecnologista da Fundacentro, Dra. Maria Mucillo, que destacou que a empresa deixa claro que Segurança e Saúde no trabalho não fazem parte da sua política de negócios. Disse ela: “Como organização empresarial se mostrou uma incubadora de acidentes e doenças relacionadas ao trabalho, colocando em perigo a sua própria permanência no mercado diante do desafio da competitividade, como a inoperância relativa às questões que afetam diretamente a vida de seus trabalhadores“.

Dra. Maria Mucillo, uma das maiores autoridades
em tecnologia de Higiene Ocupacional
Para os fiscais, principalmente em termos de documentação, muita coisa deverá ser regularizada. Além disso, a empresa deverá comprovar a sua aplicação na prática, coisa que muitas empresas deixam a desejar. Com a notificação do MPT, foram concedidos prazos de 30 a 90 dias para a regularização dos problemas constatados.

Como prestador de serviços na área documental e de politicas de segurança do trabalho e saúde ocupacional, temos visto uma quantidade enorme de profissionais que se habilitam para elaborar PPRA e PCMSO. Alguns deles conseguem fornecer estes documentos às empresas sem sequer conhecerem o chão de fábrica ou o ambiente laboral. E acabam sendo preferidos pelas empresas por causa dos valores módicos cobrados, em detrimento da qualidade e da efetividade. Por isso, somente quando submetidas a uma fiscalização, estas empresas se deparam com o equívoco cometido na contratação de prestadores de serviços de baixo preço e sem qualidade.

PPRA e PCMSO, dois programas imprescindíveis em qualquer empresa
Outras irregularidades constantemente observadas são os treinamentos mal executados. Há uma enorme disponibilidade de “profissionais” no mercado sem competência suficiente para a capacitação de funcionários.

Outro dia fiquei sabendo que um técnico de segurança do trabalho, recém formado, ministrava palestras de hora e meia sobre a CIPA e fornecia certificados de 20 horas às empresas, tudo por um preço muito vantajoso. Outro instrutor ainda, ministrava treinamento de Espaço Confinado de 4 horas, inclusive com aquela conhecida “parte prática” de rapel, e fornecia certificado capacitação em NR33, que exige 16 horas na formação de Vigia e Autorizado. 

O Ministério Público do Trabalho tem intensificado as
fiscalizações nas empresas de processamento de carnes
E assim muitas outras irregularidades podem ser constatadas por aí.

Portanto, é de grande importância a atuação da fiscalização para salientar às empresas que busquem profissionais reconhecidos e com registro formal nos respectivos conselhos, para elaborar documentos de qualidade e ministrar treinamentos eficazes.

Quem prefere escolher pelo preço pode a qualquer momento ser visitado por uma força-tarefa e constatar que foi ludibriado por aproveitadores. 

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