25 setembro 2010

NEYMAR NO LIMITE

A adolescência é a fase da vida em que a pessoa se descobre como individuo separado dos pais. Isso gera um sentimento de curiosidade e euforia, porem também gera sentimentos de medo e inadequação. Um adolescente está descobrindo o que é ser adulto, mas não está plenamente pronto para exercer as atividades e assumir as responsabilidades de ser adulto. Assim sendo ele procura exemplos, de pessoas próximas ou não – ídolos artísticos ou esportivos, entre outros – para construir seu caráter e seu comportamento.

Também é visível a necessidade do adolescente de contrariar a vontade ou as idéias dos pais. Esse comportamento opositor aos pais acontece em decorrência da necessidade do adolescente de separar-se dos pais, ser diferente deles, para construir sua própria identidade como pessoa. Ao mesmo tempo, o adolescente pode não se ver capaz ainda de se separar desses pais, gerando então nele um sentimento de medo. De um lado a necessidade de separar-se dos pais para ser um individuo diferente e de outro lado a dificuldade de assumir a posição adulta (com suas responsabilidades e desejos) levam o adolescente a uma fase de intensa confusão de sentimentos, com uma constante mudança de opiniões e metas, e com um comportamento bastante impulsivo.

Essa talvez tenha sido a lógica encontrada no comportamento observado em jogador famoso do futebol brasileiro recentemente. Atitudes de impulso e rebeldia contra os responsáveis pela condução de todo um grupo em busca de objetivo específico, o título da temporada 2010.

Tudo o que foi relatado anteriormente é cabível em termos de análise comportamental nesta fase da vida do indivíduo: o processo de separação dos pais, o sentimento de curiosidade e euforia, o medo e a inadequação, a falta de preparo para enfrentar responsabilidades, o comportamento impulsivo e a procura de exemplos para se mirar.

Dentro dessa visão, muitas vezes o que se observa no comportamento adolescente é a falta de imposição de limites desde a idade juvenil, quando mães e pais acossados pelas atividades profissionais que reduzem o tempo de convivência com os filhos, acabam incentivando atitudes consumistas, numa espécie de compensação pela ausência. Uma espécie de “mea culpa”.

Todavia, os limites devem ser impostos aos adolescentes demonstrando que, assim como há direitos, há também deveres. E a imposição desses limites corresponde à velha máxima: “Meu direito termina onde começa o direito de outrem”. Sendo assim, o adolescente apresentado à lógica dos direitos e deveres começará a entender que a responsabilidade adulta está intrinsecamente ligada com direitos e deveres.

Por isso, fiquei bastante preocupado com a diretoria do clube, ao dispensar sua equipe técnica, por causa do confinamento imposto ao jogador adolescente em virtude de seu comportamento impulsivo. Também me preocupou o Supremo Tribunal de Justiça Desportiva ao inocentar o jogador de qualquer punição, depois de ser julgado esta semana. Parece que esses são os exemplos que acabam ficando para nós e para os adolescentes que vivem à margem dessa ciranda da fama. Ou seja, fica a impressão de que tudo é possível, principalmente por parte daqueles que deveriam se tornar exemplo para uma imensa maioria, sem que haja qualquer reprimenda. Aonde nossos adolescentes vão se mirar para crescerem com responsabilidade e respeitando os direitos e deveres? Se até mesmo a mídia é capaz de criticar a atitude dos técnicos Dorival Junior e Mano Menezes, como o fez recentemente o jornalista Ricardo Boechat da Rede Bandeirantes, ao afirmar que havia um complô de técnicos esportivos contra o menino Neymar?

Por isso, cada vez mais poderemos ter a presença de outros “Neymar” afrontando ordens, regras e direitos por aí. Será que esse é o papel desses exemplos do esporte? Será também esse o papel da mídia?

Um comentário:

Rainê disse...

Momento infeliz do Boechat, fiquei indignado.