Já
recebi críticas sobre este veículo de comunicação e das suas edições muitas
vezes catastrofistas. Principalmente, quando se trata de falar de aspectos
políticos, como os da corrupção. Aliás, se quisesse enveredar por esta ótica teria
assunto toda a semana, pois não nos falta essa temática a todo momento. Também
sou criticado algumas vezes quando falo do tema ambiental. E quero dizer que
ele me é muito caro, pois já fiz dele trabalhos de conclusão de curso por duas
vezes, uma falando sobre a vida e a obra de José Lutzemberger, na especialização em ciências sociais aplicadas em 2002, e outra em que
tratei da noção do desperdício, no mestrado em educação sob a batuta do mestre Chassot em 2008. Aliás, este tema tem poucos estudos e ainda é
meu sonho retomá-lo com maior contundência em futuro breve.
Todavia,
não consigo deixar de pensar que também tenho uma certa responsabilidade por
este espaço que conquistei e pelos leitores que me seguem há mais de 5 anos.
Esta responsabilidade tem a ver com a informação, com o elogio e também com a
denúncia. É lógico que elogiar é bem mais fácil, pois assumimos uma posição confortável.
Mas, criticar e denunciar é bem mais difícil, pois na maioria das vezes a gente
se envolve com polêmicas. E assumir uma posição diante das polêmicas é
arriscado e requer coragem. Pois essa que quero tratar hoje é mais uma que vem
da causa ambiental. E muito mais grave ainda, uma denúncia que lida com a saúde
de todos nós.
Começo
falando das minhas rotinas matutinas às escolas técnicas, quando
enfrento, como outros tantos motoristas, os percalços da BR-116. Mas, para uma coisa importante este transito travado e enfadonho tem
servido: várias reflexões. E uma delas começou a perturbar-me nos últimos meses.
Acompanho quase que diariamente o transito dos caminhões que descem a Serra e o
Vale do Taquari em direção à Central de Abastecimento – CEASA. É curioso
perceber a quantidade de frutas, verduras e hortaliças que carregam caminhões em
direção àquela central. Pensando no consumo disso tudo, me aprofundei um pouco
para saber do estado destes produtos que a população consome. E fiquei muito
preocupado por tudo que li. Acreditem: “O Brasil ocupa o primeiro lugar no
ranking mundial de consumo de agrotóxicos”. Segundo a Associação Brasileira de
Saúde Coletiva, um terço dos alimentos consumidos pelos brasileiros diariamente
está contaminado por agrotóxicos.
Bem, eu poderia trazer outras estatísticas aqui para confirmar tudo que escrevi acima. Mas, vou ser mais enfático neste tema e mostrar o “pau” depois de matar a cobra. No caso do Brasil, infelizmente para nós todos, com todas as letras se pode afirmar que “o veneno está na mesa”. E sei que alguns de meus leitores poderão contestar o que pondero aqui: “Ah! Mas e aí professor Jairo? O que vamos comer então?” Eu lhes respondo que “Também não sei!”.
O filme produzido pelo documentarista Silvio Tendler é de arrepiar. Assistam e depois me digam se não há razões para tamanha preocupação. Algumas cenas inclusive me fizeram relembrar a obra que li da escritura estadunidense Rachel Carson, Primavera Silenciosa, na qual ela retrata os danos à natureza trazidos pelo uso dos agrotóxicos. Tendler é um especialista em documentar a história brasileira. Já o fez a partir de João Goulart, Juscelino Kubitschek,Carlos Marighela, Milton Santos, Glauber Rocha e outros nomes importantes. Neste último documentário, Silvio não define nenhum personagem em particular, mas dá o alerta para uma grave questão que atualmente afeta a vida e a saúde dos brasileiros: o envenenamento a partir dos alimentos.
E
dentro do filme de Silvio Tendler, lançado em agosto do ano passado, as cenas
mais chocantes não foram os depoimentos de agricultores e de pessoas que
sofreram com o uso e o consumo dos agrotóxicos. O mais impactante foi ver a defesa
do uso dos agrotóxicos na comissão de agricultura e reforma agrária pela
senadora Kátia Abreu, uma liderança política em favor da monocultura e do
agronegócio. Segundo ela, o uso do agrotóxico é feito para baixar o preço dos
alimentos para o consumidor. Isso aconteceu porque o diretor da Anvisa,
entrevistado pelo jornal francês Le monde, destacou a quantidade de venenos
aplicados nos produtos brasileiros, e que fogem até mesmo ao controle da fiscalização.
Ao que ela replicou da seguinte forma:
“Essas
pessoas se esquecem que elas também comem, e que elas querem comer barato. Se
ele tem um bom salário na Anvisa, não é o caso de milhares e milhares de
brasileiros que ganham salário mínimo ou que não ganham nada e que, portanto,
precisam comer comida com defensivo sim, porque é a única forma de produzir
barato. (…) Não compreendo onde essas pessoas querem chegar. Elas querem
atingir as pessoas pobres, que não podem pagar comida cara? Ou eles estão
revoltados que o Brasil reduziu o preço da comida a não sei quantos por cento?
(…) O pior de tudo isso, o mais desonesto dessa luta, é que a bandeira é
bonita: é a saúde humana em jogo. A população toda fica a favor deles”.
Se alguns de meus leitores não acreditam naquilo que está escrito acima, uma imagem vale mais que mil palavras. Por isso, disponibilizo uma parte do filme “O veneno está na mesa”, e que pode ser acessado em seu conteúdo total no You Tube, no endereço http://www.youtube.com/watch?v=8RVAgD44AGg
Pois
bem, depois de fazer este relato semanal, e me desculpem os leitores, mais uma
vez de forma catastrofista, desejo confessar que minha consciência está um pouco mais
aliviada. Eu, que como uma maioria de vocês aprecia o consumo de frutas,
verduras e hortaliças, também me coloco preocupado por estas notícias. Mas tenham
a certeza de que não poderia dormir tranquilo se não utilizasse esse blogue
como palanque neste final de semana. Grato a todos vocês por compartilharem
essa aflição e que me deram olhos e ouvidos mais uma vez.
DUAS PERDAS SIGNIFICATIVAS
TINOCO (1921 - 2012)
Morreu nesta sexta-feira, 04 de maio, aos 91 anos, o cantor Tinoco da dupla sertaneja TONICO & TINOCO. Uma dupla responsável por uma das maiores expressões da cultura brasileira, a música sertaneja de raiz. Em 60 anos de carreira, Tonico e Tinoco realizaram quase 1000 gravações, divididas em 83 discos. As gravadoras a que eles pertenceram já lançaram no mercado um total de 60 discos. Tonico e Tinoco venderam mais de 150 milhões de cópias, realizando cerca de 40.000 apresentações em toda a carreira.
HILDA ZIMMERMMAN (1924 - 2012)
A ambientalista gaúcha Hilda Zimmermann, 88
anos, morreu na manhã desta quinta-feira em Porto Alegre. Ela se
recuperava de uma pneumonia. Natural de Santa Rosa, Hilda foi uma das pioneiras do movimento ambientalista no
Estado e fundadora da Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural
(Agapan). No movimento ecológico, trabalhou ao lado de José Lutzenberger.
2 comentários:
Meu caro Jairo, mais uma vez este blogue que faz anúncios, faz também uma oportuna denúncia: o veneno à mesa pode ser mortal.
Não conhecia Hilda Zimmerman. Obrigado pelo ensinamento.
Um bom domingo desde Frederico Westphalen,
attico chassot,
com um convite para almoçarmos juntos esta semana
Nossa professor...É degradante e chocante ver o documentario mas, o que esta ali é "fato".
Super infeliz a opiniao da senadora ou o que seja.
No começo do "Doc." na sua integra da um relato e por palavras o pesquisador vai relatanto o verdadeiro perigo dos agrotoxicos usados no Brasil.(reamente ai me deu medo)
Obrigado por mais uma vez nos alertar Professor.
Abraço do ex aluno!
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