A escola tem perdido o controle sobre os alunos |
Nós educadores sabemos o quanto a
sala de aula tem se modificado nos últimos tempos. Também sabemos quanto está
cada vez mais difícil prender a atenção dos alunos e alunas; e a concorrência
do mundo tecnológico não perdoa a Escola. São muitos os artefatos tecnológicos
que atraem esses indivíduos e os tornam reféns desta tecnologia, fazendo com
que percam cada vez mais o interesse por outras coisas do mundo real.
É sabido que o conhecimento
tecnológico tem importância e contribui para o crescimento intelectual. Mas só
isso não basta, pois o mundo real não é feito só disso. Então, uma maioria é
tomada de assalto por grande alienação, ou seja, há uma diminuição
da capacidade dos indivíduos em pensar e agir por si próprios.
As tecnologias invadem o espaço da sala de aula inevitavelmente |
O que tenho visto constantemente em sala de aula é o uso de smartphones,
ipods e ipads. Muitos alunos e alunas se mantem conectados todos as horas do
dia, incluindo a sala de aula. E está cada vez mais dificil estabelecer regras
no ambiente escolar. Mesmo com a legislaçao que proibe o uso de telefone
celular dentro da sala, muitos mantem o artefato atrás dos cadernos e vivem a receber e enviar mensagens, sem
tomar conhecimento da fala do professor. Considero uma grande falta de respeito
essa atitude, que cada vez mais foge ao nosso controle. Todos perdem com isso:
perde o aluno que nao participa da aula e unicamente se preocupa com as
futilidades, perde o professor que acaba se distraindo e comprometendo sua
atuação.
Hudson de Araujo Couto, médico do trabalho, doutor em administraçao e
coordenador do curso de pós-graduação em Medicina do Trabalho e consultor de
empresas, escreve na ediçao da Revista Proteção deste mes artigo tratando do
assunto. Enfatiza ele que, da mesma forma que o motorista que atende um
telefone celular quando está dirigindo, o aluno que fica conectado em sala de
aula, e preocupado em responder as mensagens que chegam, a simultaneidade de
tarefas é algo prejudicial ao individuo em qualquer situação. Segundo ele, esta
simultaneidade não permite que desenvolvamos de forma eficiente nem uma nem
outra tarefa.
Araújo: "Interrompo minha fala" |
Diz ele na pagina 72 da Revista Proteçao:
“...estar permanentemente conectado se trata de um vício, talvez o maior
vício dos tempos atuais, quase comparavel à dependencia química.
Não tenho qualquer dúvida quanto às enormes perdas relacioandas a esses
processos. E faço o que está no meu limite de autoridade técnica e situacional.
Em salas de aula, workshops ou reuniões nas empresas em que presto consultoria,
quando percebo que a luzinha do smartphone ou do tablet acende e que o
interlocutor ou aluno baixa os olhos, imediatamente interrompo minha fala para
que o interlocutor retome o bom senso.”
Por último diz ele ainda, conclamando:
“Engenheiros de Segurança, tenham a coragem de proibir o uso de telefones
celulares e smartphones na maioria das situacoes de trabalho, mesmo que isso
pareça politicamente incorreto e antiquado. Nao sei se este texto de
advertencia irá superar o enorme charme dessas novas tecnologias de
comunicaçao, mas nao digam que nao avisei. Procurem na internet relatos de
acidentes ocasionados pela simultaneidade ligada ao uso dos smartphones e
saibam mais sobre o assunto.”
É claro que dificilmente em sala de aula o uso destes eletronicos
simultaneamente com a explanaçao de um conteudo irá se transformar em acidente
de trabalho. Mas essa epidemia a cada dia tem invadido a sala de aula de forma
arrasadora, mostrando quem está ali para aprender e quem vem em busca tao
somente de um certificado.
Nádia: "O homem hoje está desbussolado" |
Mas nao é de hoje que estes artefatos trazem prejuizos aos alunos e alunas.
Lembro aqui de um ex-aluno meu, recém
formado, e que recebeu uma oportunidade ímpar como Técnico de Segurança do Trabalho em empresa de atuação nacional.
Fazia viagens toda a semana para acompanhar atividades com líquidos inflamáveis
por várias regiões do país. Sua tarefa era inspecionar as equipes, chamando a
atenção para a obediencia aos preceitos de prevenção por parte dos
trabalhadores. Desde a época de sala de aula lembro que não abandonava os fones de
ouvido, e foi demitido durante o período de experiência desta grande
oportunidade por cair no pecado mortal de não modificar sua atitude. Depois do
curso, continuou escravo dos aparatos eletrônicos tecnológicos, até mesmo no
trabalho.
Segundo a professora Nádia Laguárdia, da Faculdade de Filosofia e Ciencas
Humanas da UFMG, em pesquisa realizada com adolescentes no uso das redes
sociais:
“...o que se observa é que os grandes ideais, valores e significados
sociais que um dia nortearam a vida das pessoas desapareceram. Alguns autores
dizem que o homem hoje está “desbussolado”. As instituições tradicionais, como
igrejas e escolas, perderam seu poder e sua capacidade de mediarem o saber e a
informação. Todo mundo consegue a informação que quer no Google. Na atualidade,
os jovens tem mais dificuldades em construir sua identidade em função da queda
dos grandes ideais sociais e da multiplicidade de referências. Isso apresenta
duas facetas: de um lado, sugere maior liberdade de opções; por outro, gera
angústia, dificuldade em fazer escolhas. A internet tanto pode servir ao apagamento
das diferenças individuais, padronizando discursos, imagens e significados,
quanto pode servir às manifestações
singulares e criativas, favorecendo a reflexão crítica e o laço social.
Infelizmente, minha pesquisa nas redes sociais com adolescentes apontou para o
predomínio da primeira situação.”
A internet disponível em muitos lugares |
E por este tipo de situação, da mesma forma que a professora Nádia e o Dr. Hudson Araújo, observo
que é hora de se adotar uma postura um pouco mais radical na condução destes
indivíduos. Mesmo que isso signifique uma certa antipatia por parte dos
discentes em relação ao professor. Tenho repensado minha forma de atuar e chego
à conclusão que, restringir o uso destes artefatos eletrônicos em sala de aula
traz mais benefícios do que prejuízos aos futuros profissionais; pelo menos neste
momento.
E não podemos renegar que o presente e o futuro passam pela inevitável
utilização cada vez maior desta tecnologia em sala de aula. Eu mesmo, há muito
tempo, deixei de utilizar cadernos e apostilas para conduzir minhas aulas. A
partir deste ano adotei definitivamente o arquivamento da maioria de meus
conteúdos em meio eletrônico, pela facilidade com que se armazena enorme
quantidade de dados em um só local.
Quem sabe aos poucos se possa conduzir alunos e alunas a uma situação de
utilizar esta tecnologia fantástica em prol do conhecimento, com maior
responsabilidade e eficácia.
Fontes Consultadas: Revista Proteção - Ediçao de setembro 2012
www.ufmg.br/entrevista - acesso em 22.07.2012
Um comentário:
Meu caro Jairo,
é de profunda atualidade a blogada desta semana. Li-a na esteira de nossa conversa na quarta-feira.
Surpreendente e preocupante a afirmação do Dr. Hudson: “...estar permanentemente conectado se trata de um vício, talvez o maior vício dos tempos atuais, quase comparavel à dependencia química. Só ele vale a edição.
Obrigado pelo importante alerta
attico chassot
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