E o ano mais uma vez
vai findando, demonstrando que o tempo é implacável com todos nós. Somos
adeptos das belezas da juventude eterna, de rejeitar aquelas rugas que aos poucos
vão surgindo de maneira implacável, como a nos lembrar que ninguém se livra tão
fácil desta sina. Mas, e o que então pode fazer com que o avanço da idade seja
recebido de maneira inteligente e motivadora? É possível isso? Mesmo com as
marcas que o tempo nos impinge, as rugas, a flacidez e os torcicolos?
Nossa sociedade é intrinsecamente uma sociedade de aparências, onde o maior valor reside nos figurinos de “Apolo”, aqueles moldados em academias e sob o jugo dos “personal trainers”. Aliás, contei aqui tempos atrás sobre uma cidadezinha do interior, onde fiquei hospedado durante dois dias, e que pude ver muita gente malhando na academia, trocando as caminhadas de final de tarde pelo cárcere da modelagem corporal. Fiquei bastante intrigado com aquela realidade, jamais por mim imaginada tempos atrás.
Sêneca viveu no início da Era Cristã |
Espero que gostem do
artigo e que nos faça refletir no ocaso de 2012, onde até mesmo o “fim do mundo” foi previsto. Boa leitura!
O jovem almeja viver muito, mas dificilmente se imagina
idoso. A juventude parece-lhe eterna e raramente verá no velho diante de si o
espelho que reflete a sua imagem futura – isto se tiver a sorte, ou azar, de
viver muito, pois a ninguém é garantido atingir a velhice. Os jovens, em geral,
sentem-se imortais, a morte parecem-lhes mais apropriada aos que chegaram à
terceira idade – recusam-se a pensar na morte e nisto são acompanhados por
muitos idosos iludidos com a seqüência do passar dos dias. Alguns até desdenham
dos mais velhos – talvez, inconscientemente, seja uma reação de auto-proteção e
de recusa do futuro que se anuncia. “Um jovem”, escreve Ernst Bloch, “pode
imaginar-se como homem, mas dificilmente como idoso: a manhã aponta para o meio
dia, não para a noite. Em si é estranho que o envelhecimento, na medida em que
se refere à perda da condição anterior com ou sem razão sentida como mais bela,
só comece a ser percebido por volta dos 50anos. Não haveria perda para o jovem
que deixa para trás a criança? E não haveria uma perda para o homem quando
deixa a florescência da juventude, quando o impulso se atrofia?” [2]
O culto ao físico e à imagem são marcas da nossa sociedade atual |
Não é preciso enganar-se, fazer de conta de que o tempo não
passou, nem cair em depressão diante das dificuldades que o avançar da idade
impõe. Basta encarar com naturalidade. Começamos a morrer tão logo nascemos, é
a dialética da vida. Os jovens não estão isentos do sofrimento e as dores do
tempo não são exclusividade dos idosos. “Mas incomoda”, dizes, “ter a morte em
vida.” Em primeiro lugar, ela está sempre presente, quer para o velho ou para o
jovem – e não se trata aqui de consenso surgido de uma votação. Depois, ninguém
é tão velho que não possa reivindicar para si mais um dia. Um dia é um degrau
na vida”. [4]
Saber viver e envelhecer é uma arte |
A medida da vida está em olhar para si mesmo e contabilizar
não o tempo, mas as ações e as relações humanas construídas. Se olharmos para
trás e sentirmos que valeu a pena viver, então a vida foi plena. Por que,
então, temer a velhice? A morte não escolhe idade, por que temê-la? “É um homem
muito feliz e com plena posse de si mesmo o que espera o amanhã sem inquietude.
Todo o que diz “já vivi” recebe cotidianamente mais um dia como lucro”. [6] O amanhã não nos pertence! Portanto,
encaremos com alegria ter vivido o que nos foi permitido. Ainda que o tempo
imprima marcas indeléveis no corpo e alma que chega aos 50 anos de existência,
nos alegremos por cada dia acrescentado ao viver. Afinal, a velhice tem as suas
vantagens!
[1] SÊNECA. Aprendendo a viver. São
Paulo: Martins Fontes, 2008, p. 35-36.
[2] BLOCH, Ernst. O Princípio da
Esperança I. Rio de Janeiro: EdUERJ: Contraponto, 2005, p. 43.
[3] SÊNECA. Aprendendo a viver. São
Paulo: Martins Fontes, 2008, p. 34.
[4] Idem, p. 10.
[5] Idem, p. 91-92.
[6] Idem, p. 11.
Um comentário:
Meu caro Jairo, em 2012 este blogue, em cada uma de suas edições, teve a densidade de 'uma revista semanal crítica. parabens!
chassot
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