Concórdia foi meu primeiro contato com uma cidade interiorana |
Posso
me considerar um homem nascido e criado em região metropolitana e, por isso, corri o risco de não saber sobre a realidade das cidades interioranas. Ainda
bem que, num certo momento de minha vida, ocorreu uma guinada muito grande e tomei contato com aquela realidade.
Próximo dos meus vinte anos fui convidado a conhecer a realidade da
cidade do interior. Através de meu amigo Noé de Vargas, coordenador de relações
públicas da Sadia na época, fui convidado a trabalhar em Concórdia,
no vizinho estado de Santa Catarina. Eu que até então conhecia mais amiúde somente
a metrópole gaúcha e as cidades circunvizinhas, pude me acercar de um mundo
totalmente diferente, com peculiaridades que jamais imaginei. E quanta riqueza
neste contato.
Aos
poucos fui me inteirando daquela realidade, e observei que ali habitavam personagens que assumiam papel preponderante na comunidade. Uns desempenhavam
papel de mobilizadores, e eram capazes de defende-la em vários momentos. Dentre estes, os mais
conhecidos eram o juiz, o delegado e o padre. Mas também havia outros capazes de espreitar
oportunidades para se aproveitarem da população, principalmente dos menos instruídos.
Nestas questões normalmente estavam presentes os políticos, tanto os candidatos quanto os já
eleitos. E todo mundo se conhecia, e também sabia o que cada um seria capaz
de fazer “pela” e “contra” a cidade.
E
isso não conheci somente em Concórdia, mas também em outros pequenos recantos
onde vivi e trabalhei posteriormente. Foi assim em Blumenau (SC), em Londrina e
Rolandia (PR), em Taguatinga e Brazlandia (DF) e em Mandirituba (PR).
Mas
uma das coisas que sempre me chamou a atenção foi o “sermão” da missa dominical,
quando o pároco não deixava de aproveitar a comunidade reunida prá passar uma “carraspana” nas personalidades públicas. Ali ele aproveitava para reivindicar
e exigir. Ali o padre se tornava porta-voz da comunidade para pedir e denunciar
sem constrangimentos, pelo respeito do cargo que a Igreja lhe conferia. Por incrível que pareça, muita coisa ficava conhecida do público da cidade ali na missa de domingo, pelo sermão do padre.
Pois
há poucos dias, fui tomado pelas lembranças destes personagens das cidades pequenas. Isso aconteceu porque tomei conhecimento das inúmeras denuncias de corrupção próximas da
capital gaúcha, numa cidade que possui as mesmas características daquelas que
tive a oportunidade de conhecer tempos atrás. Uma cidade que desconhecia a riqueza
antes de lá se instalar um empreendimento de grande porte, habitada por um povo
humilde e muito trabalhador. O município de Triunfo é considerado um lugar
histórico, onde nasceu Bento Gonçalves e onde está enterrado Jerônimo de Ornelas, colonizador e fundador de Porto Alegre.
Padre Genico é um defensor da comunidade de Triunfo |
Padre
Genico, como é conhecido, já teve inclusive de deixar a cidade em 2010. Uma
denuncia feita pelo repórter da RBS sobre o abuso das diárias de vereadores
(utilizadas para viagens de compras em Foz do Iguaçu, e que repercutiu no programa
dominical Fantástico da Rede Globo) fez com que o padre recebesse telefonemas de intimidação.
Padre Genico destacou na época que: “Triunfo era uma antes da instalação do
Pólo Petroquímico, e virou outra depois. Todo mundo depende economicamente da
Prefeitura, tem alguém da família empregado ali, ou na Câmara, ou numa escola,
ou no Posto de Saúde. Por isso, o medo de enfrentar a corrupção.” Na época
destacou também que a Câmara de Vereadores não possuía oposição,
dificultando ainda mais a investigação das denúncias de corrupção.
O juiz Ivan Fernando assinou as ordens de prisão |
São
estas então as vozes da cidade. Pessoas que assumem o papel de cobrar das
autoridades melhores condições para a população, denunciar os desmandos locais
e defender os menos esclarecidos. Assim conheci diversos personagens nas
cidades pequenas por onde passei, e aprendi a valorizar e admirar suas ações.
Um comentário:
Jairo,
meu caro,
precisamos muitos padre Genicos.
Obrigado por levar-nos ao oeste catarinense e depois à históricoa Bom jesus do Triunfo.
A admiração do
attico chassot
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