Três momentos do cinegrafista Santiago Andrade |
A semana foi permeada pelo assunto da morte do
cinegrafista Santiago Andrade, da rede Bandeirantes de televisão. E não podia
ser diferente, principalmente dadas as circunstâncias pelas quais ela ocorreu.
Acompanhei com bastante atenção os momentos que
antecederam a prisão dos envolvidos, tanto do rapaz que inicialmente se
entregou por causa da identificação das câmeras, assim como, daquele que num
primeiro momento “virou pó”, e que, aconselhado pela namorada e pelo advogado,
resolveu também pisar na cena com medo de ser “retaliado”. Digo retaliado
porque me refiro a “retaliações” que poderia sofrer, mas também pode ser
entendido como “retalhações” (aos pedaços), tal o poder da mídia e a velocidade
da informação hoje em dia. Por certo, até no interior da Bahia, onde o réu
tomava um fôlego para prosseguir em fuga à casa do avô no Ceará, poderia ser “retalhado”
caso fosse reconhecido.
Toda vez que fatos como esses ocorrem, faço uma
reflexão e me pergunto: “O que pode ter contribuído para que esses adolescentes
tivessem tomado tais atitudes? De reunirem-se em meio a uma multidão para
disparar rojões e coquetéis molotov contra a polícia e contra jornalistas que
trabalhavam na cobertura? Será que não foi a sensação de anonimato que lhes
conferiu coragem?”
O jovem torcedor boliviano Kevin Espada |
Acredito que sim! O mesmo anonimato que acometeu
alguns membros da torcida corinthiana em fevereiro do ano passado na Bolívia,
quando um morteiro atingiu fatalmente o menino Kevin Espada. Na certeza de se
acobertar sob o manto da impunidade que graça em muitos tumultos esportivos
nacionais, um dos acusados, menor de idade, ainda aguarda o julgamento em
liberdade em Guarulhos. Os demais ficaram presos 156 dias no país vizinho,
mostrando que a justiça lá é menos condescendente do que a nossa.
Outro momento em que presenciei um ato destes, em
que o anonimato encorajou atitude similar, foi quando morava em Brasília e
recebemos a notícia da morte do índio Galdino. Ele que dormia num ponto de
ônibus de Brasília, aguardando as comemorações do Dia do Índio, foi incendiado
em seu colchão durante a noite por três adolescentes. Em depoimento após o
crime, os acusados alegaram que acreditavam ser um mendigo, e que resolveram
somente fazer uma “brincadeira” com ele. Como se fosse possível fazer brincadeiras
isentas da responsabilidade que há nestas atitudes.
O que fica destes três casos escabrosos, e
observados sob a lente da responsabilidade da sociedade como laboratório desta
juventude que aí está, são várias questões. Algumas relacionadas à responsabilidade
da família na criação de nossas crianças, outras em relação à educação e à sua
eficácia como forma de formar o cidadão e outras ainda sobre a justiça que tem
se mostrado incompetente para punir e recuperar os desvios de conduta.
Agora, mais do que tudo isso, fiquei boquiaberto com a argumentação do
advogado dos acusados da morte do cinegrafista, ao justificar o ocorrido com um
provável subsídio das manifestações por partido político ou outra instituição.
De que são eles que financiam e até instrumentam estes jovens para cometer vandalismos desta espécie. Como se não houvesse por parte de cada indivíduo a “capacidade do discernimento” entre o que é certo e o que é errado. Pois mesmo sob os auspícios de quem seja, individualmente se deve levar em conta a responsabilidade por nossos atos.
A diferença no semblante de Caio antes e depois do crime |
Me pareceu que, fazendo uso de um expediente tipo
“cortina de fumaça”, o advogado desmereceu as instituições de investigação
policiais e arremeteu a culpa para o financiamento dos movimentos. Ideia essa
que pareceu surgir de improviso, quando acossado pelos órgãos de imprensa. Ou
seja, seus clientes são meros “marionetes” de uma organização criminosa financiadora
dos atuais protestos de rua. Eles não possuíam qualquer intenção de fazer
aquilo que ali foi visto ali e documentado. Observe na imagem de Caio Silva de Souza, o semblante arrogante do manifestante e a imagem patética e assustada de suspeição. Dolo ou culpa?
Por parte do advogado, um “sofisma” tendencioso,
uma falácia na tentativa desesperada de buscar alternativas para livrar os
meninos de uma responsabilidade que não assumiram quando para lá se dirigiram
no final da tarde. Quando lá se encontraram e resolveram acionar o rojão.
Típico comportamento de quem crê que o anonimato é sempre possível,
principalmente quando se está em dupla, reunido em grupo. Ledo engano, pois
aprendi desde cedo com meu pai que “a multidão é burra, e não responde por seus
atos”. Basta ver o que pode acontecer num estádio de futebol lotado. Todo mundo
ali é corajoso, até que algo dê errado e que se exponha a nudez em palco público,
onde ninguém quer assumir a autoria diante das responsabilidades.
Aprendi também com meu pai a observar as
“lideranças negativas”, capazes de atiçar o fogo e ficar só de longe vendo a
cena incendiária! É isso que falta a estes jovens aprender dentro de casa, com
a família. E não agora tentar "terceirizar a culpa"!
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