Quando se é criança parece haver uma ansiedade
em nos tornarmos adultos. Não é incomum ouvir como resposta das crianças, após
perguntadas sobre o que mais desejam no momento, que querem logo se tornarem
adultos. Principalmente porque pensam elas que aos adultos tudo é permitido.
Pelo menos é o que sonhadoramente supõem.
As primeiras etapas da vida humana se caracterizam pelo desenvolvimento gradativo da personalidade |
Depois chegamos à adolescência, fase da contestação
de tudo que está estabelecido, principalmente às regras impostas pela
sociedade. Aos poucos vamos construindo e desconstruindo nossos heróis. E nessa
constante tarefa de reformas muitas vezes nos decepcionamos, não é verdade?
Este período é um dos mais importantes de nossa evolução, onde formamos nossa
personalidade, e onde nossos valores começam a ser construídos.
Depois a fase adulta nos impõe quantidade
enorme de responsabilidades, alem de uma busca incessante pelos sonhos
profissionais. Nisso também muitas vezes nos decepcionamos, porque apesar de
aconselhamentos e receitas prontas de amigos e colegas, somos instados a seguir
nosso ego e nossas convicções.
Alguns consideram a Idade da Razão como aquela mais avançada nos anos |
Mas e depois dos 40? E depois dos 50?
Bem, aí, só quem realmente já chegou lá,
para falar com mais autoridade, ou, respeitosamente, com um pouco mais de experiência.
Muita gente descreve esta etapa da vida como a idade da razão. Tenho minhas
dúvidas, porque devemos tomar o cuidado sobre que razoes são estas. Já vi muita
gente passar dos 50 e agir totalmente fora da razão, como se ainda fora
adolescente em algumas questões.
Mas uma coisa é certa. Depois de mais de
cinco décadas de existencia, a vida nos mostra a importancia de tomar decisões tomando
por base o acúmulo de experiências. Até porque vale o velho ditado: “Errar é humano. Errar duas vezes é burrice!” Apesar de que, ao se fazer uso
da experiência nas nossas decisões, não há qualquer garantia de total sucesso.
Outro dia alunos e alunas me perguntavam na
sala de aula, em que faixa de idade eu me sentia mais feliz. Não soube
responder, e também evitei o velho pendor de que a fase atual, carregada de experiência,
seria a que eu mais gosto. Sou saudoso logicamente de minha juventude permeada
por certa irresponsabilidade e, quando a força física me permitia, executar
atividades hoje impossíveis. Também os sonhos daquela época me fizeram trilhar
caminhos jamais imaginados. Parti na década de setenta de Porto Alegre e só
retornei em meados do século XXI. Morei em vários lugares do país, sempre em busca
dos meus sonhos e de meus desafios.
Para muitos, os desafios é que tornam a vida mais interessante |
Hoje ainda me sinto instigado por desafios,
embora os recursos físicos de que disponho façam com que eu descarte uma grande
quantidade deles. Meus recursos agora são mais do intelecto, e a estes tenho me
dedicado com mais afinco neste momento.
Por isso, creio que os grandes motivadores
de nossas vidas são os desafios. Outro dia falava para meus alunos e alunas da importância
de nos desafiarmos constantemente. É esse o grande combustível do sucesso e de
nossa sobrevivência. Não adianta imputar a culpa de nossos insucessos a outras
pessoas. Conheço até gente que culpa os pais por não terem investido em seus
filhos. Mas será isso verdade mesmo? Muitas vezes não assumimos nossas
responsabilidades.
Agora, quando neste maio de 2014, completo quase seis décadas, tenho tentado ser mais tolerante, mais compreensivo e mais
reflexivo, na medida em que sou mais anoso. Mas este julgamento só é completo se for referendado por outras pessoas, para que tenha o devido valor. Ainda acho que muito
tenho a melhorar. Por vezes me acomete a tristeza de observar que, embora se
tenham passado muitos séculos de evolução da humanidade, o ser humano
recorrentemente volta a adotar comportamentos primitivos, da “Lei do Talião”, no surreal linchamento da mulher de Guarujá-SP, no caso do vaso sanitário arremessado em Recife-PE, no cruel assassinato do menino de Três Passos-RS.
Mas também admiro pessoas que vivem de bem
com a vida, apesar da idade avançada. Como aquela senhora que encontro
semanalmente debaixo do Viaduto Obirici, distribuindo sorrisos e o jornal
gratuito por entre os carros ali no semáforo. De todos os dias que ali passei
nunca a vi tristonha ou reclamando de sua tarefa. Me faz bem a maneira
empolgada como encara a vida todas as manhãs. Ainda não consegui saber seu
nome, pois sempre o semáforo abre quando vou inquiri-la a respeito.
Neste sábado, pré Dia das Mães, abria as redes
sociais e via a postagem da ex-colega de Mestrado na Unisinos, Eluza Flores, de
Montenegro. Me aposso agora do texto trazido pela Eluza, com sua permissão, de
autoria do educador e escritor Rubem Alves, como forma de encerrar esta edição e trazer uma reflexão
final de tudo que escrevi. Tenho certeza de que é um texto procedente e faço
minhas as palavras do autor.
“Contei
meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para frente do que
já vivi até agora. Sinto-me como aquele menino que ganhou uma bacia de
jabuticabas. As primeiras, ele chupou displicente, mas percebendo que faltavam
poucas, rói o caroço.
Já não
tenho tempo para lidar com mediocridades. Não quero estar em reuniões onde
desfilam egos inflados. (...) Já não tenho tempo para administrar melindres de
pessoas que, apesar da idade cronológica, são imaturas.
Meu
tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma tem
pressa...
Sem
muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana;
que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera
eleita antes da hora...
Caminhar
perto de coisas e pessoas de verdade, desfrutar desse amor absolutamente sem
fraudes, nunca será perda de tempo. O essencial faz a vida valer a pena. Basta
o essencial!”
Ruben
Alves
4 comentários:
Meu caro Jairo,
Há uma frase atribuída a vários autores, inclusive a Rita Levi-Montalcini, que te encantou esta manhã no meu blogue.
NÃO QUERO MAIS DIAS DE VIDA, MAS MAIS VIDA EM MEUS DIAS.
Esta a inspiração que me trazes nesta tua blogada.
Nesta quarta e quinta poderia almoçar contigo. Semana que vem estarei ausente.
Saudades
attico chassot
O texto a Idade dos Maduros pertence ao poeta angolano Mario Pinto de Andrade.
SilD
O texto a Idade dos Maduros pertence ao poeta angolano Mario Pinto de Andrade.
SilD
Olá, quero mencionar que o texto "A Idade dos Maduros" é do poeta angolano Mario Pinto de Andrade.
SilD
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