24 maio 2014

SEPARANDO O JOIO DO TRIGO

Assistir televisão não tem sido um de meus programas favoritos nos últimos tempos; mesmo os canais pagos, que pelo preço que nos impõem deveriam ter mais qualidade. Separar o joio do trigo nesta hora é bastante difícil. Por isso, me apetece muito mais um livro ou os desafios da rede mundial, bebericando notícias de jornais eletrônicos.

Também tenho por costume, e sempre admirei quem age desta forma, não dar “pitaco” em assunto que não me compete. A não ser que seja conclamado para tal. Cada um possui competências naquilo que mais entende [ou pelo menos acredita que entende] e para qual certamente foi talhado ao longo da vida. Não há coisa mais chata, principalmente para nós que já passamos de meia centena de anos de existência, e criamos um senso crítico aguçado, escutar incompetentes com pose de sabichão.

Darcy Ribeiro, nosso maior antropólogo
Pois foi por esta ótica, e muito indignado, que assisti na TV a entrevista do Sr. Joseph Blatter, presidente da maior e mais rica entidade esportiva mundial, a FIFA. Como se dominasse um largo e vasto conhecimento sociológico, político e psicológico da nação brasileira, falando a uma emissora de rádio e TV suíça, desbocou verborragia infame afirmando que “o povo brasileiro precisa ter vontade de trabalhar”. Ora, nem Darcy Ribeiro, estudioso competente do perfil antropológico nacional, seria capaz de classificar assim o indivíduo nascido na Terra Brasílis. Agora, um alienígena em nosso país, como esse Sr. Blatter, cujo maior empenho neste momento é abarrotar os cofres da insaciável federação futebolística internacional, emitir um parecer sobre aquilo que desconhece, foi para mim um disparate sem tamanho. Falasse ele então sobre as denuncias de corrupção que ligam o ex-dirigente João Havelange e outros investigados pela Interpol há tempos. Aliás, tal como aquele nosso conhecido Rei do Futebol, deveria ter se mantido calado a respeito disso.

Assista aqui a entrevista completa de Irene Ravache no programa Roda Viva

Mas nem tudo foi desperdício de tempo na televisão esta semana. Assisti uma entrevista na TV Cultura, em seu programa semanal “Roda Viva”, com a atriz Irene Ravache. Simplesmente uma aula de cultura, sabedoria e principalmente, cidadania. Experiencias de vida que nos trazem ensinamento e admiração cada vez maior por uma atriz consagrada no meio artístico nacional. Seu depoimento e pensamento a respeito da política brasileira, por exemplo, se coadunou totalmente com aquilo que penso a respeito do cenário atual. Ravache destacou que o partido que prepondera na administração do país, já teve seus momentos de glória e, atualmente, prescinde de uma falta de ética cada vez mais latente. Talvez esse seja o motivo do enorme descrédito de uma classe média que o apoiou, e que agora poderá abandoná-lo, alterando a sequencia esperada no poder para as próximas eleições; mesmo que não se apresentem outras alternativas confiáveis até o momento.

Irene Ravache no Roda Viva
Irene Ravache perguntada “porque desacreditava na administração atual do país” foi enfática: “Não se pode fazer alianças com todo mundo, independente do pensamento que elas representem. Em algum momento houve a necessidade de se dar um basta! E isso não aconteceu. Aí mora a minha e a desconfiança de uma grande parcela da população”. Frisou que esta atitude ainda está em momento propício para ser tomada, mas que não parece ser da vontade de quem administra o país; ou que se deixa subordinar por um programa partidário que prejudica a imagem do mandatário da nação.

Pois toda a argumentação da atriz se mostrou exatamente de acordo com aquilo que é meu pensamento no cenário atual da política, sem tirar nem pôr. A realidade que vivemos hoje está impregnada destas articulações políticas em todas as esferas de poder: municipal, estadual e federal.

A ausência de oposição tem sido uma característica
das atuais administrações
Por exemplo, observo em minha cidade natal, Canoas, que não há mais oposição na administração municipal. O prefeito Jairo Jorge aprova tudo que envia à Câmara, sem qualquer restrição. Este tipo de democracia é temerária, pois representa uma “ditadura de maioria arranjada”, onde há uma imposição das decisões da administração. É também o que ocorre no cenário nacional, onde partidos como o PMDB, PTB e PDT impõem exigências de verbas públicas em troca de votarem junto com o partido da situação, o PT.


Mas quanto aos programas de televisão, não quero pousar de exemplo ou imputar meu gosto aos leitores. Os gostos são os mais variados e devem ser respeitados. No caso da política, sou um admirador da ciência. Também me atraem os musicais, alguns filmes e documentários. Assim, pode-se ver que a televisão vez por outra nos traz conhecimento e prazer em programas de bom conteúdo, mas também tem poderes de nos alienar se não houver cuidado. Basta senso crítico, um pouco de paciência e determinação.   

Um comentário:

Attico CHASSOT disse...

Meu caro Jairo!
não é sem razão que RODA VIVA é o único programa de televisão que está na minha pauta.
Valeu a crítica a esse quase interventor no Brasil, via FIFA.
A admiração de
attico chassot