Espetáculo de abertura da Copa do Mundo 2014 |
O espetáculo de abertura do evento foi
simples e, ao mesmo tempo, elucidativo. Resgatou cenas de nossos costumes e do
nosso folclore, mostrando como somos e de onde viemos. Imagens que correram o
mundo. Concordo também que a música e os cantores que a interpretaram deixaram
bastante a desejar, mesmo que a Claudia Leite tenha ostentado um “modelito” de
quase 3 milhões de dólares, segundo os críticos de moda de plantão.
Presidenta foi hostilizada na abertura da Copa |
Mas na sequencia da abertura da Copa, o que
se viu foi uma grande e lamentável demonstração de verdadeira selvageria, tal
qual aquela que ilustrou as manchetes de junho do ano passado. Agressão e
vandalismo foi o que se viu em plena Arena São Paulo, com palavrões vociferados
em alto e bom som contra a presidente da república. Naquela hora fiquei a
imaginar que sentimento perpassava seu íntimo. Se não estavam ali os conhecidos “black-blocs”
quebrando vidraças, arrancando placas de sinalização e se apoderando de eletrodomésticos,
desta vez não foi muito diferente. O coro que ecoou no estádio mostrou um
descontentamento geral que poderia, pelo menos, ter ficado só na “vaia”. Mas
não! Acobertados pela falta de identidade característica da multidão medíocre quando
se reúne, vândalos entoaram efusivamente um “Dilma, vai tomar no cu!” [E coloco
aqui o palavrão exato, ouvido e repercutido mundialmente pela rede de televisão,
para que talvez alguns se sintam tão constrangidos quanto me senti esta semana].
Em casa, na frente do televisor, juro a
vocês que fiquei atônito e boquiaberto. Ao ver as cenas me perguntei: “Onde
está o respeito pela autoridade constituída? E constituída por uma maioria que
a escolheu como liderança maior?”
Vídeo mostra torcedores hostilizando a presidenta na abertura da Copa
Analisando as imagens, não se pode dizer que
aqueles “vândalos” vieram da periferia. Pois quem puxava o coro de vozes daquela
falta de civilidade, é parte de uma elite capaz de adquirir ingressos a preços
exorbitantes, sem se queixar. Certamente não estão cadastrados no Bolsa-Família,
nem dependem de qualquer um dos programas sociais do governo. Aliás, o que
alguns jornais relataram nesta sexta-feira sobre o caso eu me recuso a
acreditar. Grande parte deles destaca que a maioria dos palavrões entoados
tiveram origem na área Vip do estádio, onde se faziam presentes algumas
personalidades e artistas de televisão. Uns e outros inclusive com acesso
gratuito para assistirem ao jogo inicial da Copa. Principalmente do camarote Vip do Banco Itaú, empresa que patrocinava o acesso de alguns, como ficou constatado.
Florestan Fernandes Júnior, competente jornalista da TV Brasil e
âncora do Repórter Brasil, foi muito feliz em seu comentário desta sexta-feira.
Pergunta ele:
“Onde
estavam ontem os políticos que festejaram a escolha do Brasil como sede da Copa
do Mundo de 2014? [...] Ontem, coube a uma única mulher receber toda a agressão
de uma torcida rica e privilegiada que conseguiu ingressos para o jogo de
abertura em São Paulo. Uma elite raivosa que não perde a chance de destilar seu
ódio de classe, seus preconceitos e sua falta de educação. Parabéns, presidenta
Dilma, você não se escondeu nos palácios da República como fizeram os
governadores”.
Também o editor de mídia e jornalista de
Carta Capital, Lino
Bocchini, falou do ocorrido. Disse ele que o acontecido suscita uma reflexão
por parte da presidenta; de como poderá adotar uma nova postura daqui pra
frente.
“Em um
evento como o desta quinta 12, vaias e mandatários são comuns, quase a praxe. O
que aconteceu em São Paulo na abertura da Copa do Mundo, contudo, foi além. Não
foi uma vaia, como na abertura da Copa das Confederações, em Brasília. Foi uma monumental
grosseira “made in Brazil”. Uma falta de educação abissal e carregada de
simbolismo. (...) Difícil saber como Dilma registrou essa agressão, mas espero
que tire uma lição do que presenciou em Itaquera.
Não
faz o menor sentido continuar governando prioritariamente para estas pessoas. E
não é uma questão de “gratidão”, nada disso. Dilma é, claro, a presidenta de
todos os brasileiros. Mas não se justifica o número de concessões e agrados que
ela se obriga a fazer para poderosos em geral, sejam eles do agronegócio, evangélicos
fundamentalistas, banqueiros ou donos de redes de televisão.
No dito popular, “sem
quebrar ovos não se faz uma omelete”. Alguns argumentarão: “mas no Brasil isso é
impossível, as estruturas estão aí há séculos, não dá para mudar tudo de uma
vez”. Concordo. Tudo é uma coisa, e de uma vez é muito rápido. Mas entre o
chavismo e os Estados Unidos há muitas possibilidades. Temos que criar nosso próprio
modelo. E aí não tem jeito: Dilma tem que quebrar alguns ovos. E se não dá para
quebrar a caixa inteira, pelo menos alguns tem que ir para a frigideira. Por
exemplo:
a) Reforma política profunda, minando o próprio sistema
que a faz refém de picaretas históricos por um par de minutos na TV;
b) Taxação de grandes fortunas, começando pelas astronômicas
e inaceitáveis heranças que perpetuam a desigualdade no país;
c) Reforma agrária real, abandonando o incômodo posto de
governo que menos assentou famílias;
d) Democratização real da comunicação, revendo concessões
públicas e alocando melhor as verbas publicitárias governamentais;
e) Direitos humanos de verdade, encarando de forma
contundente o racismo, a homofobia e o machismo.
Sobre os autores que destaquei acima, ambos trouxeram críticas e ponderações na
mesma direção da qual sou adepto. De acordo com Florestan Fernandes, aqueles
que estiveram nos palanques e homenagens em busca do evento Fifa, esta semana
se enclausuraram sem mostrar a cara. Uma verdadeira covardia. E foram muitos, como Lula, Sérgio Cabral, Eduardo Campos, Aécio Neves, José Serra, Jaques Wagner, Ieda Crisius, Cid Gomes, Wilma de Faria, Roberto Requião, José Roberto Arruda e Blairo Maggi. E até Marina Silva, que queria uma sede no estado dela, o Acre.
Já, para Lino Bochinni, os xingamentos
demonstram a possibilidade de uma mudança nos rumos da governabilidade do país.
E isso é bem possível e plausível, pois o pleito que consolidou o acesso de
Dilma ao poder teve no norte e nordeste seu maior quorum. Então, porque não priorizar
as ações de governo para estes? Que apesar da ignorância que lhes inflige a
sociedade culta brasileira, ainda sabem tratar com respeito suas lideranças.
Um comentário:
Meu caríssimo Jairo,
sou leitor de primeira hora de teu blogue. De vez em vez posto comentários. Neste chuvoso sábado junino não posso silenciar aqui.
De todas as edições que produziste nestes anos, nenhuma como a de hoje é tão importante e tão significativa.
Ela poderia ser sintetizada neste excerto, que desconhecia:
Florestan Fernandes Júnior, competente jornalista da TV Brasil e âncora do Repórter Brasil, foi muito feliz em seu comentário desta sexta-feira. Pergunta ele:
“Onde estavam ontem os políticos que festejaram a escolha do Brasil como sede da Copa do Mundo de 2014? [...] Ontem, coube a uma única mulher receber toda a agressão de uma torcida rica e privilegiada que conseguiu ingressos para o jogo de abertura em São Paulo. Uma elite raivosa que não perde a chance de destilar seu ódio de classe, seus preconceitos e sua falta de educação. Parabéns, presidenta Dilma, você não se escondeu nos palácios da República como fizeram os governadores”.
A admiração do
Attico chassot
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