Romera era apresentador de rádio e televisão e divulgava a tradição gaúcha |
Nesta nossa efêmera existência temos pessoas que
passam e outras que marcam nossas vidas. Aquelas que passam, pouco serão lembradas
no futuro. Aquelas que marcam, dificilmente serão esquecidas. Aquelas não nos
tocam, porque nada tem a ver conosco. Nada há de empatia com elas. Estas, sim,
fazem marcas em nós. E deixam “timbradas” em nossa alma as lembranças de suas presenças. Pois nesta semana perdi um amigo que foi destas
pessoas que marcou minha existência. E esta perda também me fez lembrar de tios queridos que já perdi: Tio Delmo, meu padrinho e gremista muito amigo, o saudoso Tio Derli e, recentemente, Tio Dácio lá de Viamão.
Houve um tempo em minha vida que estive às
voltas com a tradição gaúcha, lá pelos idos da década de 1970. Era a fase da juventude e, por influencia de meus pais, fazia parte de um CTG de Canoas,
campeão dos primeiros festivais de folclore estadual. Tudo começou em 1977.
Naquele e nos outros dois anos (1978 e 1979) conquistamos o título estadual, o
que nos permitiu levar o troféu em definitivo. Essa era a regra para quem o
conquistasse por três temporadas.
O 35 CTG foi onde Romera se tornou conhecido |
Com esta conquista fomos convidados a participar de
diversos eventos, tanto na capital quanto no interior do estado, e também em
algumas capitais do país. Além da participação anual no Festival de Cinema de
Gramado, estivemos na Festa Nacional do Folclore que acontecia no Anhembi em
São Paulo.
Aqui em Porto Alegre, apresentamos nossas danças e músicas nas Penhas Crioulas
do 35 CTG, uma reunião de cantores, declamadores, dançarinos e sapateadores ali na
avenida Ipiranga. E as penhas tinham um apresentador reconhecidamente efusivo e
competente. Seu nome? Vilmar Romera.
Recebendo a Medalha do Mérito Farroupilha em 2014 |
Romera se destacava pelo característico linguajar campeiro, e
uma entonação forte no final de suas frases quando chamava os artistas ao palco, o que empolgava o público em geral. Sua voz se tornou a marca dos
encontros do 35 CTG. Também foi patrão deste CTG, além de lançar e incentivar inúmeros
cantores e conjuntos de música gaúchos. Foi fundador dos “Cavaleiros da Paz”,
grupo de cavalarianos que percorre vários países divulgando a cultura gaúcha. No
último setembro de sua vida recebeu a Medalha do Mérito Farroupilha, homenagem
da Assembleia Legislativa Estadual por serviços relevantes no desenvolvimento econômico,
social e cultural do Estado.
O Comandante da Cavalgada do Mar |
Depois que me mudei para outros Estados, onde morei desde
então, me distanciei do grande apresentador. Num destes acasos da vida,
encontrei-o no Parque da Cidade, em Brasília, na Expotchê, feira de produtos da
região Sul, que reúne conterrâneos e artistas da música gaúcha. Também por notícias
que me chegavam em outras plagas, fiquei sabendo de sua iniciativa sobre a “Cavalgada
do Mar”. O percurso inicia em Torres e tem seu epílogo em Dunas Altas, próximo
ao Balneário de Quintão. Bastante
contestada, principalmente pelos ambientalistas, o desfile dos cavaleiros pelo
litoral teve a sua participação ainda no verão deste 2014, mesmo desafiando a doença
que lhe tomava os órgãos sem trégua. Mostrou coragem até o fim. Certamente na
cavalgada deste 2015, ficará a saudade do grande comandante.
Fica aqui a minha homenagem a este personagem da
cultura gaúcha, e que foi daquelas pessoas capazes de marcar minha existência.
Ao amigo Romera, que agora nos mira
lá de cima, fica um trecho da poesia de Colmar Duarte, “Último Ato”:
“A morte chegou de
quieto,
com alpargatas
barbudas
de tanto campear
viventes.
[...]
Estava assim
distraído,
quando ela tocou seu
ombro.
Quis levantar
mas tombou, soltando
a cuia da mão.
A cuia rolou prá
longe
deixando um rastro e
um som
a morte o deixou
caído;
Quebrou a cuia do
mate,
sofrenou seu
coração.
Quando alguém chegou
à porta,
que emoldurava o
silêncio
daquele quarto
vazio,
acho seu corpo, de
borco,
com o rosto contra o
chão;
o chão – um tronco
de angico,
ele – a casca de uma
cigarra,
deixada na mutação.
Morreu tal como
vivera,
sem aviso, sem
alarde. [...]
O gesto característico de Vilmar Romera |
Meu querido Vilmar Romera, que o Patrão Velho te
acolha!
A ti eu desejo o
mesmo que em tuas palavras finais desejavas aos telespectadores do “Fogo de Chão”, na Ulbra TV, fazendo aquele gesto que se tornou característico desde os tempos do 35 CTG:
“Um abraço do
tamanho do Rio Grande!”
Um comentário:
Meu caro Jairo,
mesmo não tendo teu DNActg, Vilmar Romera está forte no meu imaginário gaúcho.
Por tal permito-me aderir a tua comovente homenagem.
Com espraiada emoção.
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