Dados Estatísticos facilitam a interpretação e mostram caminhos |
Trabalhar com dados estatísticos é um desafio que se impõe
a qualquer profissional de excelência. Aprender a interpretá-los é parte do
aprendizado em todas as escolas que desejam formar técnicos e especialistas. Seja nas
ciências exatas quanto nas ciências humanas, há necessidade de entender o que
os números querem nos dizer. São estes dados capazes de mostrar-nos o caminho que
deveremos trilhar na busca de soluções. Qualquer que seja a profissão técnica ou
de pesquisa, não se pode deles abdicar.
No caso dos profissionais prevencionistas não há isenção
neste aspecto. Um técnico de segurança do trabalho deve estar atento aos números
e, mais do que isso, saber interpretá-los. Por isso, eu também vez por outra
busco informações para analisar como estão os números que dizem respeito a esse
trabalho aqui no Estado. E os dados são preocupantes, pois a realidade de
outrora não é a mesma de hoje. Alguns municípios gaúchos parecem ter empresa que investiram em segurança do trabalho ao longo de décadas, reduzindo a acidentalidade, e
outros receberam novos empreendimentos, mas que estão contribuindo para
engrossar os dados de maneira negativa.
Anualmente o Ministério da Previdência publica dados estatísticos importantes |
Quanto aos números apresentados pelo Ministério da Previdencia,
embora todo o esforço empreendido pelo órgão para torná-los confiáveis, não há como
acreditar em sua veracidade. Uma grande quantidade de empresas, principalmente
aquelas de pequeno porte, negligenciam a entrega de documentação e deixam de
registrar ou mascaram os dados reais, cientes de uma improvável fiscalização, principalmente
pela deficiência de um quadro de fiscais aquém das necessidades. Portanto, ao
se observar os dados disponíveis, não há como duvidar que eles refletem de
forma equivocada o que acontece na prática.
Mesmo assim, vejamos os números apresentados abaixo, e
que selecionei esta semana. Fiz um ranking de municípios de nosso Estado, de
acordo com o número total de acidentes apresentados pelas empresas que enviaram
seus dados para o órgão da previdência.
Ranking dos Dez Municípios gaúchos mais acidentários |
Na ponta da tabela já era de se esperar a liderança da
capital gaúcha na quantidade de acidentes. Ela que concentra um grande
contingente populacional, também emprega uma parcela significativa da população
local e, por estar próxima dos órgãos fiscalizadores, possui números pouco mais
confiáveis.
Em segundo lugar, acredito que também fosse se esperar
a presença do município serrano que concentra um polo industrial metalúrgico de
grande porte. Mesmo assim, os acidentes de trajeto, as doenças ocupacionais e
acidentes sem registro de CAT são pouco críveis. Acredito que estes valores
devem superar a casa do milhar.
Erechim está entre os cinco mais acidentários |
O terceiro colocado é Gravataí, demonstrando que o
município cresce em números de empresas, além logicamente da instalação do polo
automotivo da GM, em que uma grande quantidade de fabricantes de autopeças ali
também se faz presente.
A quarta colocação do município de Erechim chama a atenção,
superando Canoas que, na maioria das vezes esteve naquela posição. Todavia, no
caso de Erechim é possível observar a grande diferença entre os acidentes
registrados via CAT e os sem registro. Isto pode denotar que em localidades
interioranas ocorre um fenomeno conhecido de nossos profissionais, o
acobertamento de acidentes pela falta de registro e a dificuldade do acesso do
trabalhador aos órgãos de fiscalização.
Canoas em quinto lugar, município detentor de uma
quantidade relativa de processos metalúrgicos, mostra números bem similares aos
de Passo Fundo, embora este tenha processos em grande parte direcionado á agroindústria,
com consertos e fabricação de implementos e suas atividades complementares. No
caso destes dois municípios, os dados demonstram uma maior fatalidade no
município metropolitano.
Caxias do Sul só é superado pela capital gaúcha |
Por fim, analisando os quatro últimos da tabela, depreende-se
uma mudança no posicionamento de São Leopoldo, que antigamente ocupava posição intermediária
na tabela, e atualmente foi ultrapassado por Rio Grande, e até mesmo Santa
Rosa. A conclusão possível é certamente a instalação do polo naval naquela região,
e em Santa Rosa a intensificação da fabricação de veículos agrícolas e
implementos para a agricultura. Sem contar aí também as atividades rurais que
contribuem para uma maior acidentalidade.
Numa análise rasa, minha intenção esta semana é tão somente
demonstrar aos leitores, e principalmente aos alunos e alunas, a importância que
se pode atribuir aos dados estatísticos, e de quanto uma simples tabela nos
fornece riqueza de informações. A análise acima tem a minha visão. Certamente
muita coisa mais pode ser concluída a partir de outras óticas. Basta que se esteja atento à realidade que nos
cerca, para que possamos deduzir e refletir sobre estes números. E dentro da
empresa não é diferente. Resgatar dados internos podem nos levar a adotar ações
corretivas que contribuam para evitar acidentes de trabalho e preservar a saúde
dos trabalhadores.
Um comentário:
Estimado colega e amigo Jairo!
Ler com teus óculos estas estatísticas nos oferece uma visão de realidade que, de vez em vez, nos passa despercebida.
Surpreso com dolorosa cruenta realidade que apresentas.
Obrigado pelos oportunos esclarecimentos
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