11 abril 2009

O MEU PAÍS

Nesta Sexta-feira Santa, fui surpreendido à frente da televisão por uma cena não incomum de nossa realidade, a disputa por comida entre a população pobre de uma região do Rio de Janeiro. Um grupo de pessoas disputava de forma hostil e violenta alguns quilos de peixe descartados de uma feira na cidade maravilhosa. Esta cena certamente não é exclusividade da região Sudeste, mas predomina em muitos recantos do nosso país.

Há alguns meses escutava solitariamente em casa uma poesia em disco compacto, minha forma preferida de curtir o descanso semanal, declamada de forma excepcional por um cantor gaúcho. Ela falava da realidade brasileira e me emocionou profundamente. Escutei mais umas duas vezes e observei o quanto de verdade há em suas estrofes. Achei conveniente dividir com vocês esta preciosidade. Observem porque estou trazendo aqui, esta que considero uma das composições poéticas de maior criatividade que ouvi nos últimos tempos, pois se alinha adequadamente à realidade observada.

O MEU PAÍS

Livardo alves, Orlando Tejo, Gilvan Chaves, Ricardo Chaves e Annete Chaves

Um país que crianças elimina e não ouve o clamor dos esquecidos,
Onde nunca os humildes são ouvidos e uma elite sem Deus é que domina,
Que permite um estupro em cada esquina e a certeza da dúvida infeliz,
Onde quem tem razão baixa a servis e maltratam o negro e a mulher,
Pode ser o país de quem quiser, mas não é, com certeza, o meu país!

Um país onde as leis são descartáveis, por ausência de códigos corretos,
Com noventa milhões de analfabetos e multidão maior de miseráveis,
Um país onde os homens confiáveis não tem voz, não tem vez, nem diretriz,
Mas corruptos tem voz, tem vez, tem bis e o respaldo de um estímulo incomum,
Pode ser o país de qualquer um, mas não é, com certeza, o meu país!

Um país que seus índios discrimina, e a ciência e a arte não respeitam,
Um país que ainda morre de maleita, por atraso geral da M
edicina,
Um país aonde a Escola não ensina e o hospital não dispõe de Raio X,
Onde o povo da Vila só é feliz, quando tem água de chuva e luz de Sol,
Pode ser o país do futebol, mas não é, com certeza, o meu país!

Um país que é doente, não se cura, quer ficar sempre no Terceiro Mundo,
Que do poço fatal chegou ao fundo, sem saber emergir da noite escura,
Um país que perdeu a compostura, atendendo a políticos sutis,
Que dividem o Brasil em mil brasis, para melhor assaltar de ponta a ponta,
Pode ser um país de faz de conta, mas não é, com certeza, o meu país!

Um país que perdeu a identidade, sepultou o idioma português,
Aprendeu a falar pornô e inglês, aderindo à global vulgaridade,
Um país que não tem capacidade, de saber o que pensa e o que diz,
E não sabe curar a cicatriz, deste povo tão bom que vive mal,
Pode ser o país do Carnaval, mas não é, com certeza, o meu país!

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