15 abril 2009

PORQUE DIGO "NÃO" À RECICLAGEM

Este artigo que aqui publico, escrevi-o há tempo atrás, quando o IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas) , organismo da ONU (Organização das Nações Unidas) responsável por informações científicas a respeito do clima global, divulgou relatório em 02 de fevereiro de 2007, afirmando com 90% de certeza de que a humanidade é responsável pelo aumento da temperatura do planeta.

Neste momento eu construía minha dissertação de Mestrado, onde tratava da temática do desperdício ("A Noção do Desperdício: Narrativas Docentes em três níveis do Ensino Básico" - UNISINOS - Março - 2008) e ressaltava a política dos "Três Rs": Reduzir, Reutilizar e Reciclar. De forma mais reflexiva, notava naquele momento o quanto poderíamos ser mais eficientes na adoção destas idéias, e quão importantes são os primeiros dois ERRES: Reduzir e Reutilizar.

O artigo que reproduzo a seguir, foi publicado em várias revistas eletrônicas, inclusive no periódico "Folha do Meio Ambiente" (http://www.folhadomeio.com.br/), tão bem editada pelo amigo Silvestre Gorgulho em Brasília, e que me oportunizou diversas vezes a participação como colaborador.

Recentemente o mesmo artigo foi tema de entrevista minha ao portal ENERGIA MAIS, um espaço de informações mantido pelo professor Flórido Martins, e onde pude responder algumas perguntas acerca do tema "Reciclagem" e destacar minha opinião a respeito. A entrevista completa está acessível através do link - http://sites.google.com/site/portalenergiamais/.

A seguir disponibilizo o artigo escrito naquela oportunidade (fevereiro de 2007).

PORQUE DIGO "NÃO" À RECICLAGEM

Autor: Prof. Jairo Brasil (*)

Mais um relatório sobre as condições climáticas do planeta mostra a ameaça que nos espera doravante. Mas, desta vez, mesmo que mudemos o paradigma moderno de crescimento constante, isso não significará alterações expressivas. O que o relatório do IPCC diz é que, as mudanças no clima da Terra são reais e conseqüência de atitudes irresponsáveis.

Como Lutzenberger enfatizou em seu Manifesto Ecológico Brasileiro de 1980, não houve até o presente momento uma geração tão indolente quanto a nossa. Dentre aquelas tantas que habitaram o planeta até agora, somos a que mais dilapidou os recursos naturais do planeta, sem levar em consideração as gerações precedentes.

Mas alguém poderia dizer: “Sim! Mas estamos avançando na reciclagem de alumínio, plástico, papel, etc.” Somos a geração que mais tem reciclado materiais utilizados nas mais variadas formas de objeto de consumo.

Digo-lhes então: “E basta somente isso? Nossa geração inovadora não foi aquela que inventou e incentivou o “descartável” e o “supérfluo”?”. Não fomos nós que inventamos o curso superior de Propaganda & Marketing?

Aliás, eu diria: “Não estaria na hora de deixarmos a reciclagem de lado e pensar de forma mais profunda os outros “erres” da educação ambiental? Parece que os outros “erres” ficam esquecidos nos tempos atuais”.

Bem! Vejamos:

O primeiro “erre” é aquele ao qual devíamos dar importância fundamental em toda cadeia produtiva. Ou seja, vamos “reduzir”. Esta seria a palavra mágica para fazer do planeta um lugar habitável por mais algumas centenas de anos. Reduzir o consumo! Reduzir o desperdício! Reduzir o esbanjamento! Mas aí vem a dúvida: “Será que eu posso viver com um só aparelho de televisão em casa? Ou necessito pelo menos uma no quarto e outra na sala? Será que posso viver com um celular sem câmera? Ou devo comprar um celular com câmera e uma câmera digital para colocar as fotos no “orkut””?

O segundo “erre” seria alternativa essencial para expandir a vida útil dos recursos naturais que sugamos do planeta e que demoraram cerca de três milhões de anos para serem acumulados. Ou seja, vamos “reutilizar”. Este seria o verbo adequado para quem se preocupa verdadeiramente com o futuro. Novamente pode-se perguntar: “Alguém reutilizaria aquela camisa amarfanhada que o irmão mais velho esnobou em muitas festas e baladas? Calçaria aquele tênis demodê que o tio usou duas ou três vezes e abandonou? Usaria aquele antigo celular que, embora não tendo câmera digital, ainda é útil para ligações nacionais e internacionais?”.

E o terceiro “erre”? Por que só nos preocupamos com o terceiro “erre”? Por que queremos somente reciclar? Por que ele é o mais confortável de todos os três? Nele eu continuo consumindo os recursos do planeta e jogando todo o lixo separado para o “catador”. E ele? Que se vire com o refugo por mim descartado?

Que tal este desafio de refletirmos a respeito?

(*) Licenciado e Pós-Graduado em Estudos Sociais pela UPIS de Brasília-DF e Mestre em Educação pela UNISINOS de São Leopoldo-RS.

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