Você já leu alguma obra de escritor nacional tratando da seca do Nordeste, e das muitas histórias de vultos sombrios que se movem numa terra incandescente, sob a forma tão somente de pele e ossos? Essa realidade está retratada na obra de Guimarães Rosa, Grande Sertão: Veredas, escrita em 1956. Outra obra relevante, quando se trata de observar o Nordeste e seu povo, é Vidas Secas, de Graciliano Ramos. Escrito em 1938, o livro retrata a vida de pessoas que vivem no sertão brasileiro e o sacrifício delas para sobreviver. Tendo como tema a luta pela sobrevivência diante do flagelo da estiagem, o autor traz em seus personagens muito da alma nordestina nos traços de Fabiano e sua família. Essas foram algumas das obras que li quando em janeiro de 1975 prestei vestibular. E dessas leituras tirava muitas lições, dentre elas o quanto o povo sofrido daquela região viva em enorme penúria, realidade distante de nossa gente do Sul. Pensava eu: “Porque essa população se sujeita a esses Senhores de Engenho e a esses políticos corruptos adeptos do curral eleitoral?”
De lá para cá, muitas coisas mudaram. Passaram-se décadas desde 1970, trazendo melhorias e desenvolvimento para aquela região. E o Sul? Que outrora já se considerava politizado e tão desenvolvido economicamente? Seria no novo milênio uma terra de fartura e prosperidade? Observa-se que esse prognóstico não se concretizou. O Sul hoje é uma região estagnada, com muitas dívidas públicas para com sua população e esmolando junto ao governo federal o saneamento de suas dívidas.
Mas outras leituras hoje e a participação em eventos me possibilitam enxergar horizontes anteriormente impossíveis. Primeiramente morei quase três décadas fora do Estado, me acercando de realidades outras. Segundo, pude fazer comparativos, e isso é enriquecedor para o entendimento.
No final de 2008 realizei duas palestras no mesmo mês em localidades diferentes, uma dominada pelo agronegócio extensivo, Vacaria, e outra onde preponderam as pequenas propriedades e os pequenos e médios negócios, Farroupilha. A diferença é abissal. São matizes totalmente díspares. Na Vacaria dos Pinhais, nome dado pelos jesuítas, uma parcela das ruas ainda possui o paralelepípedo nos calçamentos, demonstrando um certo atraso. Nas ruas predominam pessoas com trajes pouco luxuosos em veículos de tração animal, dividindo espaço com caminhonetes cabine dupla "Hilux". Já a Nova Milano, um dos primeiros nomes da pujante Farroupilha, encanta pela beleza de seus jardins, suas ruas bem calçadas, seus prédios e suas casas. E o que se observa nas ruas é um equilíbrio nas condições sociais da população.
Mas alguem me poderia contestar: “Ah! Mas Vacaria é mais antiga que Farroupilha!” Pois eu responderia que não se argumenta a estagnação de um lugar pela idade que possui, porque o decorrer dos anos pode trazer benefícios extraídos da experiência acumulada. A não ser que alguém esteja tirando vantagem dessa estagnação. E me parece que aí reside a razão para essa dicotomia. Há regiões no Rio Grande do Sul dominadas por uma elite que se locupleta às custas da miséria alheia, enquanto outras primam pelo aspecto do crescimento e do desenvolvimento de toda sua população.
Comparativamente, o Rio Grande é uma amostra dos tipos de colonização que inicialmente predominaram nos Estados Unidos e no Brasil: aquela de fixação e esta de exploração. Uma região possui características de pequenas propriedades, tal como nas Treze Colônias da América do Norte. Outra região teve o predomínio da colonização predatória, aquela semelhante à dos portugueses no Brasil, onde além de não formarem famílias, o objetivo único era amealhar a maior quantidade de riquezas para retornar às suas origens. Pode-se afirmar que naquela, a participação imigrante fez prosperar o sistema de pequenas propriedades e a distribuição equitativa da riqueza local. Esta é a região da Serra Gaúcha. Nessa última, os grandes proprietários da terra, predominantemente do agronegócio, sugaram e continuam sugando todos os recursos disponiveis para o Estado. São eles que a cada safra frustrada empilham reivindicações em Brasilia na busca de recursos e financiamentos. Sem contar o lobby poderoso que possuem com grande representatividade no legislativo nacional. Essa é a famosa região da Campanha Gaúcha, onde aconteceram as maiores batalhas, incluindo a Revolução Farroupilha, das mais importantes.
Pois é essa região do Estado que contribui de forma exponencial para o êxodo rural, asseverando o cinturão de pobreza nos núcleos urbanos. A choradeira em tempos de dificuldade contrasta com o silencio em tempos de fartura. Nunca se apresentam para dar sua contribuição ao Estado. Vivem a pedir recursos públicos, seja pessoalmente ou através de seus representantes políticos. (E se quiserem ouvir seus apelos na mídia cotidianamente, atentem para a articulista da RBS, Ana Amelia Lemos, que traz sempre nos jornais da rede, desde Brasília, as últimas benesses reivindicadas pela "elite ruralista").
E aos peões e prendas farroupilhas restam os “Vinte de Setembro” para comemorar o que não se sabe se é plausivel comemorar. Será que a Revolução Farroupilha realmente foi para redimir o Estado? Ou para redimir as dívidas e os interesses de alguns poucos senhores da pecuária e das charqueadas? Que tal nesse Vinte de Setembro nos quedarmos também, não só na música e na poesia gaúcha, mas também na leitura crítica desse movimento e suas origens?
De lá para cá, muitas coisas mudaram. Passaram-se décadas desde 1970, trazendo melhorias e desenvolvimento para aquela região. E o Sul? Que outrora já se considerava politizado e tão desenvolvido economicamente? Seria no novo milênio uma terra de fartura e prosperidade? Observa-se que esse prognóstico não se concretizou. O Sul hoje é uma região estagnada, com muitas dívidas públicas para com sua população e esmolando junto ao governo federal o saneamento de suas dívidas.
Mas outras leituras hoje e a participação em eventos me possibilitam enxergar horizontes anteriormente impossíveis. Primeiramente morei quase três décadas fora do Estado, me acercando de realidades outras. Segundo, pude fazer comparativos, e isso é enriquecedor para o entendimento.
No final de 2008 realizei duas palestras no mesmo mês em localidades diferentes, uma dominada pelo agronegócio extensivo, Vacaria, e outra onde preponderam as pequenas propriedades e os pequenos e médios negócios, Farroupilha. A diferença é abissal. São matizes totalmente díspares. Na Vacaria dos Pinhais, nome dado pelos jesuítas, uma parcela das ruas ainda possui o paralelepípedo nos calçamentos, demonstrando um certo atraso. Nas ruas predominam pessoas com trajes pouco luxuosos em veículos de tração animal, dividindo espaço com caminhonetes cabine dupla "Hilux". Já a Nova Milano, um dos primeiros nomes da pujante Farroupilha, encanta pela beleza de seus jardins, suas ruas bem calçadas, seus prédios e suas casas. E o que se observa nas ruas é um equilíbrio nas condições sociais da população.
Mas alguem me poderia contestar: “Ah! Mas Vacaria é mais antiga que Farroupilha!” Pois eu responderia que não se argumenta a estagnação de um lugar pela idade que possui, porque o decorrer dos anos pode trazer benefícios extraídos da experiência acumulada. A não ser que alguém esteja tirando vantagem dessa estagnação. E me parece que aí reside a razão para essa dicotomia. Há regiões no Rio Grande do Sul dominadas por uma elite que se locupleta às custas da miséria alheia, enquanto outras primam pelo aspecto do crescimento e do desenvolvimento de toda sua população.
Comparativamente, o Rio Grande é uma amostra dos tipos de colonização que inicialmente predominaram nos Estados Unidos e no Brasil: aquela de fixação e esta de exploração. Uma região possui características de pequenas propriedades, tal como nas Treze Colônias da América do Norte. Outra região teve o predomínio da colonização predatória, aquela semelhante à dos portugueses no Brasil, onde além de não formarem famílias, o objetivo único era amealhar a maior quantidade de riquezas para retornar às suas origens. Pode-se afirmar que naquela, a participação imigrante fez prosperar o sistema de pequenas propriedades e a distribuição equitativa da riqueza local. Esta é a região da Serra Gaúcha. Nessa última, os grandes proprietários da terra, predominantemente do agronegócio, sugaram e continuam sugando todos os recursos disponiveis para o Estado. São eles que a cada safra frustrada empilham reivindicações em Brasilia na busca de recursos e financiamentos. Sem contar o lobby poderoso que possuem com grande representatividade no legislativo nacional. Essa é a famosa região da Campanha Gaúcha, onde aconteceram as maiores batalhas, incluindo a Revolução Farroupilha, das mais importantes.
Pois é essa região do Estado que contribui de forma exponencial para o êxodo rural, asseverando o cinturão de pobreza nos núcleos urbanos. A choradeira em tempos de dificuldade contrasta com o silencio em tempos de fartura. Nunca se apresentam para dar sua contribuição ao Estado. Vivem a pedir recursos públicos, seja pessoalmente ou através de seus representantes políticos. (E se quiserem ouvir seus apelos na mídia cotidianamente, atentem para a articulista da RBS, Ana Amelia Lemos, que traz sempre nos jornais da rede, desde Brasília, as últimas benesses reivindicadas pela "elite ruralista").
E aos peões e prendas farroupilhas restam os “Vinte de Setembro” para comemorar o que não se sabe se é plausivel comemorar. Será que a Revolução Farroupilha realmente foi para redimir o Estado? Ou para redimir as dívidas e os interesses de alguns poucos senhores da pecuária e das charqueadas? Que tal nesse Vinte de Setembro nos quedarmos também, não só na música e na poesia gaúcha, mas também na leitura crítica desse movimento e suas origens?
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