Algumas coisas nos incomodam mais que outras. Depende de como enxergamos essas coisas. Eu, por exemplo, descobri, e isso não faz muito tempo, que as notícias de corrupção na política me deixam imensamente frustrado com o futuro deste país e indignado, sem muita coisa a fazer. Aliás, faz pouco tempo escrevi aqui nesse espaço uma crítica à corrupção, e que esteve disponível no Blog em 18 de setembro ( http://profjairobrasil.blogspot.com/2009/09/o-por-que-da-corrupcao.html )
Em nível regional, o caso Detran, que usurpou cerca de 40 milhões de reais do dinheiro do contribuinte gaúcho, e a Merenda Escolar em Canoas, que abocanhou cerca de 3 milhões de reais na gestão do corrupto governo Marcos Ronchetti, também amealhados do dinheiro do contribuinte gaúcho canoense, são dois exemplos. Ou seja, até agora ninguém foi responsabilizado por essas façanhas. O que dizer então da fraude dos Correios na Assembléia Gaúcha? Sabem no que deu?
Em nível nacional, de constatação bem recente, o mensalão implantado pelo governador José Roberto Arruda, no governo do Distrito Federal, é mais um exemplo de ação espúria de um mandatário escolhido pelo povo candango. E o que faz esse governo? Trai pela segunda vez a população que depositou sua confiança através do voto.
Da história canoense conheço bem menos do que a do Distrito Federal, pois lá morei de 1994 a 2003, mais apropriadamente em Taguatinga, cidade satélite das mais populosas da região. Prá começo de conversa, a câmara legislativa do DF foi criada em 1986, sob o pretexto da representatividade do povo e sob a pressão de políticos profissionais que vasculham oportunidades de cargos públicos. Ali então era criada mais uma câmara legislativa com 24 cargos de deputados distritais, com seus assessores e muito mais direitos do que deveres, lugar comum nesses casos. A termo de comparação, gostaria que observassem o mapa que disponibilizo nesta página, para que reflitam sobre a necessidade de tamanha estrutura política para território tão exíguo, e que em tempos passados ficava sob responsabilidade de um administrador escolhido pelo Presidente da República.
José Roberto Arruda iniciou sua carreira de servidor público como diretor da Novacap (Companhia Urbanizadora da Nova Capital), ainda no fim dos anos setenta. Em meados dos anos 80 tornou-se diretor da CEB (Companhia Energética de Brasília), período em que estreitou seus laços com políticos tradicionais, como José Aparecido de Oliveira e Joaquim Roriz. Com a eleição e a conseqüente posse de Joaquim Roriz no cargo de governador do Distrito Federal, Arruda, como é conhecido, assumiu a chefia de gabinete do governador e ainda no primeiro ano de governo deixou este posto para assumir o cargo de secretário de obras do Distrito Federal, tendo sido um dos responsáveis pela execução de uma das obras mais polêmicas do primeiro governo Roriz, o metrô de Brasília, que tempos depois teria sua obra embargada por suspeitas de irregularidades.
Aqui realmente vale a expressão: “Diga-me com quem andas, que eu te direi quem és!” Prá quem não lembra, Arruda renunciou ao Senado depois de, juntamente com Toninho Malvadeza, como era conhecido o senador Antonio Carlos Magalhães (que Deus? o tenha), ser flagrado na violação do painel eletronico do Senado Federal, quando da votação da cassação do colega senador Luis Estevão.
Depois de enfatizar de forma contundente sua inocência no episódio do painel, a certa altura reconheceu o delito e pediu desculpas ao povo de Brasília. Um pedido de desculpas empanado pelas lágrimas de jacaré derramadas na tribuna. Mais tarde voltaria à cena pública como candidato a deputado federal, pedindo nova oportunidade aos eleitores locais. Absolvido pelas urnas retorna com grande suntuosidade, ostentando uma das maiores votações da história local. Começava aí a jornada para o segundo ato da vida pregressa do político enganador: a articulação para chegar ao Palácio do Buriti. Depois de financiar as campanhas de seus aliados, implantou um processo de pagamento de propinas, impondo aos empresários locais um “caixinha” comandado por seu algoz e delator de toda a quadrilha: Durval Barbosa.
Surpreendidos pela Operação “Caixa de Pandora” da Polícia Federal, a quadrilha teve seus momentos gravados com detalhamento indiscutível. Parece que o unico avesso às câmeras e áudio foi o vice Paulo Octavio, dono de construtoras e um fiel servo da Igreja Sara Nossa Terra. Sem saber o que dizer num primeiro momento, o governador Arruda chegou a tripudiar com a inteligência do eleitor, afirmando que o dinheiro surrupiado fora utilizado na compra de panetone para a pobreza regional. Já a deputada Eurides Brito, secretária de educação do governo Roriz, fecha a porta, abre a bolsa e recolhe as cédulas com muita desenvoltura. Depois ocupa o púlpito da Câmara Distrital para argumentar que há um complô querendo derrubá-la. Os pastores, que são maioria na casa, também não se fizeram de rogados e “encheram as sacolinhas”, não sem antes fazer orações e pedir escusas a Deus pela fraqueza da fé e por meter a mão no patrimônio alheio.
Costurando esses fatos de corrupção ocorridos tanto em Brasília, quanto aqui nas nossas barbas, é triste observar que nesse Natal muitas famílias sequer terão o feijão e o arroz para uma refeição decente. E saber que em 2010 acontece mais um ato do espetáculo eleitoral, com a escolha de governanças e representatividades em níveis estadual e federal. O que deveria ser uma festa democrática, abominando os tempos ditatoriais, parece se tornar cada vez mais um espetáculo de horrores, com a escolha de uma maioria perniciosa para conduzir nosso futuro. Que Deus nos oriente nessa hora, pois a única arma que temos é o voto.
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