Enchentes, enxurradas, desmoronamentos. Tudo dentro do previsto. Muitos estudiosos chamavam a atenção sobre os cuidados em relação às questões ambientais. Foram taxados de catastrofistas, alarmistas e críticos do progresso e do desenvolvimento mundial. Afinal, quando há um excesso de pluviosidade, são os moradores de favelas e habitações irregulares à beira de rios e lagos que sofrem as consequências. Por isso, não há com o que se preocuparem os indivíduos de bom poder aquisitivo, pois possuem moradas seguras e estão alheios aos desastres ambientais. Certo? Então, por quê um lugar paradisíaco como Angra dos Reis, onde um metro quadrado de construção custa uma verdadeira fortuna, sofre agora com uma tragédia natural?
Observemos que o que acontece nesse momento, é uma repetição da tragédia de Santa Catarina no verão passado. Morros e encostas da região Sudeste são escavados e desmoronados por chuvas de grande intensidade, cujo volume excede o previsto pelos institutos de meteorologia. Os mortos são contados às dezenas nesses locais, cujas habitações, em algumas localidades, chegavam ao valor de 4 milhões antes da tragédia, valor que hoje some junto com a terra que a água lavou.
Lembro-me do ano passado, quando estive na região do Vale do Itajaí, e pude perceber vários imóveis de alto valor, construídos nas encostas, totalmente abandonados. Fiquei a imaginar o quanto esses eventos da natureza são implacáveis, indepedentemente de classe social e renda dos proprietários. Em relação a isso, escrevi na oportunidade um artigo onde falava da sintonia do vale com a natureza. ( http://profjairobrasil.blogspot.com/2009/01/o-vale-do-itaja-sintonia-com-natureza.html )
Tempos atrás, mais especificamente em 13 de fevereiro de 2006, escrevi um artigo sobre a teoria de Gaia do ambientalista inglês James Lovelock, e que foi publicado na Folha do Meio Ambiente ( http://www.folhadomeio.com.br/publix/fma/folha/2006/02/ponto165.html ), periódico dedicado às questões ambientais. Ali tratei de repelir o comportamento de procrastinação das autoridades governamentais e dos políticos brasileiros, sempre levando de barriga as coisas públicas a serem resolvidas. Relatei minha opinião de que também em relação ao meio ambiente, as decisões são procrastinadas, não somente pelos políticos e pelas autoridades, mas também por nós em nossa sanha consumista rotineira. Recentemente, retornando da capital pela BR-116, um cidadão de meia idade, em sua camionete preta Pajero, que ia à minha frente, arremessou uma garrafa plástica com restos de água pelo vidro do motorista. Imaginemos que este senhor, pelos bens que possui, tenha sido contemplado com um mínimo de educação. Que se dirá do pobre catador de papelão, que remexe as lixeiras em busca de pedaços de plástico, latinhas, madeira e metais? Ve-se então que somos incapazes de contribuir para uma nova postura em relação ao meio ambiente. Muitos de nós crêem que o Planeta é nossa lata de lixo.
E prá não dizer que a minha voz é uma daquelas que clama no deserto, meu querido Mestre Chassot também faz excelente blogada neste 7 de janeiro sobre a temática, tecendo o seguinte comentário em um de seus parágrafos:
"Quando há repetições anuais de deslizamento de encostas na Mata Atlântica, com casas arrastadas fazendo mortes às dezenas, será que não se poderia ter evitado algo? “O mais dramático nesses e em tantos outros casos é a repetição. Sugere inércia e uma irresponsabilidade insuportável que, passado o impacto inicial de vidas perdidas e a devastação de patrimônios tão duramente conquistados, retoma a rotina. E o discurso de que foi o excesso de chuvas a razão do desastre. Áreas frágeis e não recomendadas para habitação continuam a ser ocupadas. Medidas preventivas permanecem sendo tomadas de maneira paliativa, com pouca verba, empenho e prioridade” disse Marina Silva, ex-Ministra do Meio Ambiente em artigo nesta segunda-feira." (http://www.mestrechassot.blogspot.com/)
Sou adepto, confesso, da Teoria de Gaia de Lovelock, pois acredito também de que o Planeta é um organismo vivo que reage às agressões sofridas. E isso, que continuamos vendo acontecer em várias regiões, não somente do Brasil, como também mundo afora, é a constatação da Teoria de Gaia. Devemos render aqui um tributo a esse médico do Planeta, professor Sir James Lovelock, e que tanto nos alertou de que a Terra está doente e precisa de mais cuidados. Também rememoro aqui as ponderações de Lutzemberger em seu "Fim do Futuro", chamando a atenção para o nosso extremo consumismo, que leva em conta tão somente a preocupação com o Produto Interno Bruto e o constante crescimento ecônomico.
Quem sabe no futuro possamos ouvir mais atentos aos conselhos desses considerados catastrofistas. Conselhos como esse de James Lovelock:
"Já estamos cultivando mais solo do que a Terra pode suportar, e se tentarmos cultivar a Terra inteira para alimentar as pessoas, mesmo com agricultura organica, seremos como marinheiros que queimam a madeira e cordames do navio para se manter aquecidos. Os ecossistemas naturais da Terra não existem para serem transformados em terra cultivável, mas para conservar o clima e a química do planeta."
Ou ainda o conselho de um outro catastrofista, Lutzemberger:
"Quando nos empolgamos com nosso fabuloso poderio tecnológico e nos orgulhamos do "domínio da natureza", nosso entusiasmo pueril nos torna cegos diante dos verdadeiros custos das modernas tecnologias e não nos permite ver nossa total incapacidade de repor, com a mesma facilidade, o que destruímos."
Um comentário:
Meu caro colega e amigo Jairo,
nossos dois blogues hoje se fazem uníssono no mesmo brado:
UM OUTRO MUNDO É POSSÍVEL.
Com admiração
attico chassot
http://mestrechassot.blogspot.com
www.atticochassot.com.br
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