05 junho 2010

DIA MUNDIAL DO MEIO AMBIENTE (Nada prá comemorar...

Meu envolvimento com as questões ambientais se deu não faz muito tempo. Embora algumas situações me chamassem a atenção, foi somente em 1998, quando me envolvi em Brasília com o professor José Luiz de Andrade Franco, um historiador das questões ambientais, que realmente me conscientizei do que estamos deixando como futuro às gerações vindouras. Foi com ele que aprendi sobre Desenvolvimento Sustentável, tema ao qual se dedica como coordenador de pesquisa na UNB (Universidade de Brasília), e consegui perceber também o quanto estamos distantes de um comportamento responsável com os recursos que o planeta Terra levou milhões de anos para nos disponibilizar.

A partir desse envolvimento é que tive contato com outras fontes da questão ambiental, tais como o historiador José Augusto Pádua, o ambientalista José Lutzenberger e o pesquisador José Augusto Drummond, dentre tantos. Aliás, a vida de José Lutzenberger foi tema de minha monografia de pós-graduação em 2002, orientada pelo professor Jose Luiz de Andrade Franco na UPIS de Brasília. Também foi ali que tive meu primeiro contato com a obra de James Lovelock, este pai do Movimento verde. Formado em química, medicina e biofísica, Lovelock é considerado hoje um dos cem maiores intelectuais do mundo, título que pode ser comprovado se acessarmos a Revista Prospect do Reino Unido (http://www.prospectmagazine.co.uk/2008/05/intellectualliveslz/). E é um pouco da obra deste cientista que quero trazer neste dia tão apropriado: 05 de junho, Dia Mundial do Meio Ambiente.

A primeira obra de James Lovelock que li foi “A Vingança de Gaia”, onde o autor expõe sua teoria sobre um Planeta Vivo que possui autoregulaçao. Ou seja, a superfície da Terra, que sempre temos considerado o meio ambiente da vida, é na verdade parte da vida. A manta de ar - a troposfera - deveria ser considerada um sistema circulatório, produzido e sustentando pela vida... Quando os cientistas nos dizem que a vida se adapta a um meio ambiente essencialmente passivo de química, física e rochas, eles perpetuam uma visão mecanicista seriamente distorcida, própria de uma visão de mundo falha. A vida, efetivamente, fabrica, modela e muda o meio ambiente ao qual se adapta. Em seguida este 'meio ambiente' realimenta a vida que está mudando e atuando e crescendo sobre ele. Há interações cíclicas, portanto, não-lineares e não estritamente determinista". Na verdade, A Vingança de Gaia foi um apelo para despertar a humanidade em relação à destruição do meio ambiente. Parece, entretanto, que o apelo não surtiu o esperado efeito. Tempo atrás escrevi aqui a respeito. (http://profjairobrasil.blogspot.com/2010/01/vinganca-de-gaia-ii.html).

Se observarmos nosso comportamento, nada mudou nos últimos anos, embora todos os avisos e alertas. A Religião do Progresso aliada à ideologia da Sociedade Industrial, como bem observou Lutzenberger em seu Manifesto Ecológico Brasileiro de 1980, possui adoração incondicional pela máquina e pela produção, com um fervor missionário e uma força de convicção jamais vistos na história da humanidade. Em todas as esferas da Economia Moderna só se fala em “crescimento”. Mas a pergunta que fica é: Até quando? Note que nenhum empreendimento, seja público ou privado, abdica de crescer em algum nível percentual ano a ano. Parece que não temos mais medidas no uso dos recursos naturais disponíveis. Até mesmo a população mundial não pára de crescer, tal como Lutzenberger observou, adotando o termo Avalanche Humana.

Recentemente, James Lovelock reconheceu que sua obra “A Vingança de Gaia”, cujo maior objetivo era um apelo para alertar a humanidade, não surtiu efeito. Por isso, resolveu publicar “Gaia: Alerta Final”, advertindo que os problemas ambientais do século XXI são ainda mais ameaçadores do que havia denunciado anteriormente: as calotas polares estão derretendo de modo acelerado, e a escassez de água e os desastres naturais são ocorrências mais comuns que em qualquer outra época da historia recente. As civilizações de muitos países estarão ameaçadas, e a vida, tal como a conhecemos, corre sérios riscos.

Observadores profissionais revelam que a maioria das previsões sobre a velocidade das mudanças climáticas no planeta subestimou seu impacto e rapidez, que, hoje, podem avaliados de modo mais consistente. Como comunidade global, continuamos obcecados pelas idéias “verdes” convencionais e acreditamos que elas irão salvar nosso mundo. Segundo Lovelock, a Terra abriga pessoas e animais em excesso – e essa é a raiz do problema, pois tudo que fazemos hoje, mesmo que de forma mínima, resulta em impacto ambiental. Basta que pensemos no desastre ambiental recente na costa dos Estados Unidos, onde há mais de 40 dias a empresa britânica BP não consegue deter um vazamento diário de 2 a 3 milhões de litros de petróleo.
Parece-me, então, que pouca coisa se tem a comemorar nesse dia 05 de junho. Além disso, quando cientistas e ambientalistas ressaltam a importância de uma nova forma de encarar a vida no Planeta, corriqueiramente são taxados de catastrofistas ou de se transformarem em obstáculos para o crescimento econômico da humanidade. Creio que o tempo será o grande e impiedoso juiz desta causa. A não ser que...

Um comentário:

Attico CHASSOT disse...

Meu caro Jairo,
Visito teu blogue no aeroporto de Porto Velho retornando à Porto Alegre, fazendo escalas em Cuiabá / Campo Grande / Curitiba, chegando a meia noite. Por coincidência teu blogue e o meu buscaram a mesma inspiração: James Lovelock.
Concordo contigo, pelo visto estes quatro dias de Rondônia, que não que comemorar na data de hoje.
Com renovada esperança
attico chassot

http://mestrechassot.blogspot.com
www.atticochassot.com.br