21 maio 2011

A IMPORTÂNCIA DE OUVIR

Uma das questões que muito tenho debatido em sala de aula, nos cursos Técnicos de Segurança do Trabalho, é a importância que os futuros técnicos devem dar à capacitação e treinamento dos funcionários, principalmente com relação aos riscos ambientais aos quais eles estão submetidos diariamente e às medidas de prevenção ou redução que as empresas adotam. Quer dizer, tudo aquilo que faz parte do conteúdo do nosso conhecido PPRA, constante da Norma Regulamentadora NR 09.

Mas não somente isso. O Técnico de Segurança do Trabalho deve dar ouvidos também às representações do trabalhador. Estar a par do que é discutido na CIPA, participar das reuniões daquela comissão, apoiar suas ações e iniciativas valorizando-as e prestigiando-as.

Também deve escutar mais do que falar, predicado que muitas pessoas esquecem. Já observei muitos profissionais que são donos da palavra, e sequer dão espaço para que o trabalhador se expresse, trazendo suas angústias e dificuldades. São técnicos que dão as costas ao trabalhador e que de forma arrogante desconsideram a importância desse feedback valiosíssimo. Posteriormente, quando eventos ocorrem e pegam de surpresa a área responsável pela segurança do trabalho, muitas vezes se quer imputar a culpa às vítimas.

Pois bem, esse mês a Revista Proteção traz um relato recente e preocupante ocorrido em empresa de grande porte. Ele mostra um pouco daquilo que tenho me referido constantemente em sala de aula, quando critico essa postura profissional que muitas vezes acomete alguns profissionais de segurança do trabalho. Observem.

Funcionário readaptado sofre outro acidente de trabalho

Data: 20/05/2011 / Fonte: Diário do Grande ABC

O funcionário da Pirelli Marivam da Cruz, 36 anos, teve o braço decepado na máquina em que trabalhava, na madrugada do dia 19 de maio. Essa foi a segunda vez que o trabalhador sofreu acidente de trabalho na empresa. Cruz era readaptado na fábrica por ter deslocado o ombro e feito cirurgia.

Diante do caso, o Sindicato dos Borracheiros de São Paulo e Região paralisou as atividades durante toda a manhã. "Testamos a máquina para verificar se havia algum problema. Mas, o funcionamento estava normal. Agora, vamos aguardar a perícia e o laudo que será realizado pela Pirelli", conta o vice-presidente do sindicato, Márcio Ferrera.

Documentos sobre os maquinários e a contratação do trabalhador foram pedidos pelo sindicato à fábrica de pneus. "O departamento de segurança no trabalho e da Cipa (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes) estão nos ajudando na apuração do ocorrido."

Ferrera conta que o operário tem estabilidade no emprego, porque já era vítima de acidente de trabalho. "Devido a isso, ele foi recolocado dentro da fábrica e trabalhava em um setor onde tinha condições, de acordo com a avaliação médica", explica o dirigente.

Fontes ouvidas pelo Diário afirmam que o funcionário reclamava de dores e falta de agilidade no braço. "Ele pedia para ser transferido de setor, mas nada foi feito. Para manter o emprego, decidiu continuar trabalhando", disse uma das pessoas ligadas ao operário.

Quando socorrido, Cruz foi levado para o Centro Hospitalar de Santo André, a Santa Casa. Depois foi transferido, de helicóptero, para o Hospital das Clínicas de São Paulo, onde segue internado. Ontem, o operário passou por cirurgia para tentar implantar o antebraço, e segue acompanhado por familiares. Até o fechamento desta edição não havia informações sobre o procedimento médico.

O vice-presidente do sindicato diz que vai esperar a liberação da visita ao trabalhador para saber como aconteceu o acidente. "Só ele pode nos dar detalhes do caso."

A Pirelli, que produz pneus para caminhões e máquinas agrícolas, confirma o acidente e informa que está prestando toda a assistência necessária ao funcionário. "O equipamento utilizado nesta operação conta com mecanismos de proteção adequados. As causas do acidente ainda estão em apuração", diz a empresa. Procurada, a família do profissional não quis falar sobre o assunto.

Ou seja, o funcionário recém readaptado necessita de um acompanhamento mais estreito, onde se possa perceber suas dificuldades na retomada, bem como, atentar para o aspecto psicológico e traumático dessa reintegração. É isso que se deseja de um SESMT atuante e preocupado com a integridade física do trabalhador. Entretanto, muito se tem visto que na formação de alguns profissionais, a escola prepara mais para um viés de preocupação com proteção de máquinas sem levar em conta a proteção do trabalhador. Há uma espécie de fogueira de vaidades quando se trata de buscar alternativas para proteger o trabalhador, não dando espaço para sugestões que vêem do chão de fábrica ou buscar aprender com aqueles que estão mais próximos dos riscos existentes no processo.

Talvez a mudança de comportamento passe pela premissa de que é necessário “ouvir mais e falar menos”. Sábias palavras do senador romano Marco Prisco: “Somente quem sabe ouvir, para aprender, tem recurso para ensinar.”

Um comentário:

Attico CHASSOT disse...

Meu caro Jairo,
li embargado a cruenta história do Maurivam. Não tenho palavras para comentar.
Congratulo-me contigo e com teu blogue por ensinar-nos a ouvir.
Tomara que aprendamos.
Com admiração e profunda emoção
attico chassot