23 julho 2011

DILMA: UMA REFÉM NO PLANALTO

Se tem um assunto que mexe comigo é a corrupção que desvia e liquida com o dinheiro público. Nada me deixa mais indignado do que essa forma de buscar vantagens solapando os valores que cada um de nós deixa para os cofres públicos a todo momento, para que seja utilizado em benefício nosso com investimentos em saúde, educação e segurança. Aliás, essas são as áreas onde mais carecemos de atenção por parte das políticas públicas. Tempo atrás, aqui no Blog publiquei duas edições que falavam especificamente desta temática. No dia 18 de setembro de 2009 escrevi "O Porquê da Corrupção" ( www.profjairobrasil.blogspot.com/2009/09/o-por-que-da-corrupcao.html ), tomando por base a obra do professor da USP José Antonio Martins.
Depois, em 19 de dezembro do mesmo ano escrevi "O que nos Incomoda" ( www.profjairobrasil.blogspot.com/2009/12/o-que-nos-incomoda.html ), sobre a corrupção descoberta no governo Arruda do Distrito Federal. A última vez que havia tratado do tema corrupção foi em 08 de maio de 2010, quando escrevi "A corrupção mais perto de nós" ( www.profjairobrasil.blogspot.com/2010/05/corrupcao-na-seguranca-do-trabalho.html ), falando da corrupção envolvendo engenheiros de segurança do trabalho.

E aí então vem a notícia de que o Ministério do Transportes, através de seu Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes aloja uma quadrilha há mais de 8 anos, com a conivência do próprio ministro Alfredo Nascimento da sigla PR - Partido Republicano. Além disso, nas fileiras do ministério, interferindo e articulando a maioria das negociatas e influências do partido nas entranhas do governo federal, uma figura notória e já conhecida de muitos de nós desde o escândalo do Mensalão, Valdemar da Costa Neto.

Na semana passada, Valdemar da Costa Neto foi denunciado por um empresário paulista. O empresário afirmou que estava sendo alvo de chantagens, ameaças e cobrança de propina por parte do deputado Valdemar Costa Neto (PR-SP) e outros políticos do Paraná do mesmo partido. O deputado Valdemar Costa Neto já foi citado em outro caso de cobrança de propina, desta vez relatado pelo vereador Agnaldo Timóteo (PR) em carta para a Câmara Municipal de São Paulo. Vê-se que a corrupção e o tr
ato com o dinheiro público em benefício próprio é uma especialidade do deputado.

Escolhi um artigo publicado em Zero Hora deste 23 de julho, tratando da corrupção no Ministério dos Transportes escrito pelo jornalista Flavio Tavares, onde ele registra a situação delicada que se impõe à presidenta Dilma Roussef, no momento em que procura fazer uma faxina naquele ministério.

Tempos atrás, lembrei que o verbo “roubar” vem do alemão, “rauben”, mas desfruta de tanta reverência entre nós que parece até ter nascido aqui como nosso Imperador Primeiro e Único. Ou não é isto que mostra a devastadora roubalheira descoberta no Ministério dos Transportes?

Sempre que nos indignamos com a rapina do dinheiro público, surge uma frase-clichê repetida como analgésico a nossa repulsa: “Corrupção existiu sempre e não começou agora”. É até verdade. A ladroagem de outrora, porém, era feita ao acaso por indivíduos isolados dentro do aparelho do Estado. Era imoral, mas não chegava ao tom brutal e avassalador que aparece agora e que agiu impunemente desde o primeiro período presidencial de Lula da Silva. Já não há corruptos, mas quadrilhas organizadas para o assalto, mascaradas de partidos políticos. E tudo em grande escala, envolvendo centenas de milhões ou bilhões de reais.

Na regência da banda de ouro está o Partido da República, PR, comandado por seu dono e secretário-geral, Valdemar Costa Neto. Antes, chamava-se Partido Liberal, PL, e como tal, em 2001, negociou por R$ 10 milhões o apoio à candidatura de Lula da Silva pelo PT, indicando José Alencar como candidato a vice. O apoio aumentava em quase 20% o espaço de Lula no rádio e TV.

Era apenas o início...

As fraudes de superfaturamento (e outras) são tão abertas que, após a denúncia da imprensa, a presidente Dilma Roussef demitiu o ministro dos Transportes e (até agora) outros 15 auxiliares de alto escalão, todos do inefável PR. Para não parecer que desdenhava o aliado, poupou da varredura o secretário executivo do ministério, também do PR. E, Paulo Passos, filtro de tudo que lá ocorria, virou novo ministro!

Mas a corrupção é uma teia expansiva. A avalanche do escândalo eriçou o tal de PR e quando a presidente ordenou “uma devassa” no ministério, os parlamentares do partido ameaçaram “retaliar”.

Nenhum dos seus 41 deputados ou sete senadores fez qualquer crítica à roubalheira. Nenhum refutou os números bilionários do assalto, difundidos na imprensa. O Departamento Nacional de Infraestutura dos Transportes, Dnit, é feudo do PR há oito anos, mas o partido calou-se quando o controlador geral da União, Jorge Haage, fez um trocadilho com a sigla: “O Dnit tem o DNA da corrupção”.

Além da ameaça de “deixar a base aliada” no Congresso, a reação mais visceral dos parlamentares do PR (um deles é vice-líder do governo) é associar o Partido dos Trabalhadores às fraudes.

E aí entra assunto direto dos gaúchos: a duplicação de 348 quilômetros da BR-101, de Osório a Palhoça (SC), por exemplo, custou quase R$ 2 bilhões ao longo de seis anos, com 23 contratos de obras e 268 “termos aditivos” que aumentaram o preço em R$ 317,7 milhões, pelo menos. (Os “termos aditivos” costumam ser utilizados como “saída legal” para os superfaturamentos.) Mas o Partido da República “esclarece” que na BR-101, que começa em Osório, quem dá as cartas é Hideraldo Caron, do PT gaúcho e diretor da área rodoviária do Dnit...

Delatar o cúmplice é típico do baixo mundo do crime. Mas está aí, bailando na política, já que a legislação partidária não coíbe que as quadrilhas tenham registro no Tribunal Eleitoral.

Assim, vemos Dilma Roussef (mesmo tentando levar adiante a devassa) tornar-se refém do apoio parlamentar de gente que vê a República como gazua para abrir o cofre. Que República é esta em que a presidente é refém da chantagem e nos parece normal?


Algumas pessoas marcam nossas vidas de forma inesquecível. O professor Clovis Duarte foi uma dessas pessoas que muito me ensinaram, quando freqüentei por um ano o curso Pré-Vestibular IPV, ali na Salgado Filho, no centro de Porto Alegre. Clovis tinha um domínio natural da sala de aula e catalisava a atenção de todos os alunos para as explicações convincentes dos temas da Biologia. Muito me impressionava sua forma de dar aula, quando conseguia envolver a todos por igual, conclamando à participação geral. Hoje, quando estou em sala de aula, no meu ofício docente, muitas vezes me pego adotando algumas ferramentas pedagógicas que aprendi com o professor Clovis. Confesso que tudo que não havia aprendido no ensino regular sobre Biologia, aprendi com o professor Clovis Duarte naturalmente. É mais “uma biblioteca que se queima”, como costuma lembrar meu mestre em educação, professor Attico Chassot. Fica a lembrança de um jornalista competente e de um professor que marcou minha carreira.


CLOVIS NOGUEIRA DUARTE * 06.02.1942 † 19.07.2011

2 comentários:

Anônimo disse...

Meu caro Jairo,
desde Paris renovo minha admiração por teu blogue e agradeço a ‘atualização’ de Brasil.
Linda, oportuna e justa a homenagem ao meu ex-colega Clóvis Duarte.
Com estima e continuada admiração, attico chassot

Attico CHASSOT disse...

Maeu caro Jairo, voltei a visitar teu blogue em Moscou. Não encontrei o comentario que postara em Paris acerca do passamento do Prof. Clovis,
um abraço moscovista, achassot