31 março 2012

UMA SEMANA PRÁ REFLETIR

Sou um apreciador da sabedoria e, por conseqüência, admiro as pessoas que conseguem acumular conhecimentos ao longo da vida. Meu avô materno usava um ditado que muito me chamava a atenção. Depois descobri que era de domínio público e de uso costumeiro aqui no Estado. Dizia ele: “O macaco cuida do rabo dos outros, mas não cuida do seu próprio rabo”. Ou seja, a censura era direcionada àquelas pessoas que costumam tecer críticas a outrem sem se dar conta do que ocorre em seu próprio quintal.

Da mesma forma ocorre conosco em relação à segurança do trabalho. E isso ficou provado esta semana. O Rio Grande do Sul, pasmem os senhores leitores deste periódico, é o segundo estado do Brasil com maior número de acidentes de trabalho para cada 100 mil habitantes.  Em média, pelo menos uma pessoa morre a cada dois dias, vítima deste tipo de acidente no estado. É o que diz a página da globo.com desta quarta-feira, dia 28 de março. E se poderia argumentar que se há acidentes é porque a economia gaúcha está bastante aquecida. Mas não é bem assim, pois é sabido que o RS tem ocupado posição inferior neste aspecto aos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. 
 
Somente nesta semana ocorreram 5 mortes na região metropolitana por acidente de trabalho típico, sem considerar os acidentes de trânsito envolvendo trabalhadores em atividades externas e a serviço da empresa.

Na segunda-feira, dia 26, por volta das 15 horas, dois operários da construção civil morreram na queda de um andaime no município de Gravataí. Os trabalhadores realizavam a pintura do prédio no nono andar, quando o andaime não resistiu ao esforço e peso. Ambos não possuíam carteira assinada e os equipamentos de proteção coletiva e individual estavam em péssimas condições de conservação.   

Na terça-feira, dia 27, pela manhã, o trabalhador José Gomes da Silva, de 55 anos estava afiando uma faca utilizando um esmeril na carpintaria do Palácio do Piratini do governo estadual, quando a pedra do equipamento se partiu e atingiu seu rosto. Com ferimentos graves o trabalhador foi levado ao Hospital de Pronto Socorro de Porto Alegre e submetido a cirurgia. Devido à quantidade de ferimentos não resistiu. Ele era funcionário de uma empresa terceirizada que prestava serviços no local.   

A quarta-feira, dia 28, não foi diferente. O operador de empilhadeira Rogério de Araújo Pereira, de 35 anos, foi surpreendido por uma prateleira carregada com cerca de 10 toneladas de madeira dentro do deposito da loja Léo Madeiras, na zona norte da capital. Segundo os policiais que atenderam a ocorrência, o operador assustado com a queda correu em direção ao material, tentando segurar a prateleira e morreu esmagado pela carga.

A notícia desta última quinta-feira, dia 29 de março, também trouxe ocorrência lamentável para a segurança dos trabalhadores. Amauri Domingues Filho, 39 anos, operário de empresa de fertilizantes que trabalhava no armazém C5 do cais do Porto Mauá, próximo ao centro de Porto Alegre, movia um guindaste de carga de embarcações, quando o mesmo se chocou com um portão que caiu em cima do trabalhador. O Corpo de Bombeiros e o SAMU foram chamados e tentaram reanimá-lo, sem qualquer êxito. A morte ocorreu no próprio local de trabalho.    

Em relação à preservação da vida dos trabalhadores, observa-se que a realidade de nosso estado não é tão diferente de outros no território brasileiro. Há negligência e imprudência em boa escala, tanto por parte das empresas quanto dos trabalhadores. Algumas contratações são feitas sem qualquer preparação dos contratados para as atividades que assumem. Equipamentos de Proteção Coletiva deficientes, construídos de forma improvisada. Falta de procedimentos e de políticas de segurança que exijam mais atenção por parte dos encarregados e supervisores.

Por isso, quando se trata de elogiar ou criticar a eficiência e a eficácia de alguns profissionais de segurança do trabalho, e da responsabilidade de algumas de nossas empresas em relação aos seus colaboradores, o melhor mesmo é atentar para o “nosso próprio rabo”, antes de cuidar do “rabo dos outros”; como dizia meu avô!

Não estou fazendo tábula rasa dos profissionais de SMS de nossos quadros, pois sabe-se que há muitos competentes no que fazem. Mas será que não está na hora de alguns assumirem uma postura mais responsável em relação à integridade física de nossos trabalhadores? Esse artigo não é uma peça de humor negro, mas uma conclamação a alguns profissionais que muitas vezes "brincam" de segurança do trabalho, negligenciando ações mais firmes por parte do empregador. Ou vamos ficar só esperando a auditoria-fiscal para embargar e interditar, e a perícia para rastrear culpados?  

2 comentários:

Attico CHASSOT disse...

Meu caro Jairo,
nesta semana que passou me causou estupefação — aquilo que há mais de um ano vens denunciando com competência neste blogue: a INsegurança que vivem trabalhadores.
Fico pensando como estes homens (são na maioria jovens trabalhadores do sexo masculino) deixam mulher e filhos a cada manhã, pensando que, talvez, não voltem.
Isto é cruel.
Em nome de cada uma e cada um destas vítimas eu agradeço tu voz que ensina e clama por SEGURANÇA!
Com admiração
attico chassot
http://mestrechassot.blogspot.com

Brukutu disse...

Prof. Jairo!

Gostaria de contribuir com uma citação de um dos clássicos de Charles Chaplin: "O Grande Ditador", que ao meu ver se encaixa como comentário deste triste post que revela não menos que a verdade sobre a realidade trabalhista gaúcha.

"Não vos entregueis a esses brutais... que vos desprezam... que vos escravizam... que arregimentam as vossas vidas... que ditam os vossos atos, as vossas idéias e os vossos sentimentos! Que vos fazem marchar no mesmo passo, que vos submetem a uma alimentação regrada, que vos tratam como gado humano e que vos utilizam como bucha de canhão! Não sois máquina! Homens é que sois!"

Sem mais meritíssimo!

Uilson Carvalho.