24 março 2012

O DIA EM QUE O HUMOR PERDEU A GRAÇA

“O humor perdeu a graça”. Associo-me ao que disse o ex-jogador Ronaldo Nazário sobre a morte de Chico Anysio esta semana.
Professor Raimundo


Sou de uma geração que aprendeu a admirar esse gênio do humor, elaborador de personagens com criatividade inigualável. Personagens estes que costumavam conviver conosco na grande maioria das situações de nossa realidade diária. Me lembro que muitas vezes adotávamos os personagens do Chico no ambiente de trabalho, comparando cada um deles com os colegas e seus comportamentos.

Francisco Anysio de Oliveira Paula Filho nasceu em Maranguape, no Ceará, em 12 de abril de 1931. Trabalhou em rádio como ator e comentarista de futebol, compôs e gravou músicas, escreveu livros de contos, dirigiu comédias no teatro e pintou telas em acrílico mostrando paisagens marinhas e casarios. Mas foi com seus personagens cômicos garantiu lugar no entretenimento brasileiro.

O envolvimento com rádio começou ainda na adolescência, em 1947. Fez sucesso como imitador em programas de calouros e passou por emissoras como Rádio Clube do Brasil e Mayrink Veiga, atuando em filmes da Atlântida em paralelo. Ainda nos tempos de rádio, criou um de seus personagens mais famosos, o Professor Raimundo.
Coalhada - O craque de futebol

A carreira na televisão começou nos anos 1950. Desde então, dirigiu, escreveu e interpretou programas como Chico Total, Chico City e Chico Anysio Show, em emissoras como Excelsior, Rio e, desde 1968, na Globo.

Anysio também atuou em novelas como Que Rei Sou Eu? (1989), Terra Nostra (1999), Pé na Jaca (2007) e Caminho das Índias (2009), além de filmes como O Doce Esporte do Sexo (1971), Tieta do Agreste (1996) e Se Eu Fosse Você 2 (2009).

Depois de um dos períodos de maior sucesso na carreira televisiva — com o Chico Anysio Show, no ar entre 1982 e 1990 —, Anysio teve fases de menos exposição na Globo — em períodos dos anos 2000, tinha apenas pequenas participações no semanal Zorra Total, onde ultimamente tinha um quadro especial para o personagem Bento Carneiro.Também foi homenageado recentemente, no especial Chico & Amigos, no qual revisitou alguns de seus personagens mais famosos.
Deputado Justo Veríssimo

A marca de Chico Anysio é forte. Recentemente alguns apresentadores da televisão, como Ratinho no SBT e Gugu na Record, resgataram a famosa “Escolinha do Professor Raimundo”. Ainda em tempos anteriores, Carlos Alberto de Nobrega e Ronald Golias apresentaram a Escolinha do Golias, no mesmo formato da clássica criação de Chico. Nada comparado ao talento e à criatividade dos textos de Chico Anysio no espetáculo original. A Escolinha também tinha uma grande contribuição didático-pedagógica, como várias vezes reafirmou Chico Anysio, pois todas as perguntas feitas aos alunos tinham a resposta correta do mestre, numa forma de disseminar conhecimento pela televisão. E uma coisa há de se dizer: jamais houve qualquer cobrança de direitos autorais por parte do humorista em relação aos colegas de outras emissoras. A solidariedade e a humildade também foram marcas de Chico.
Escolinha do Professor Raimundo

Mas Chico Anysio possuía uma outra face pouco conhecida dos telespectadores. O humorista criou a Escolinha com um objetivo que mostra seu lado afetuoso e humano: congregar no programa um elenco de artistas que já eram considerados ultrapassados para as redes de televisão, ou velhos demais para a estética da mídia atual. Alguns deles, quando convidados para participar do quadro, passavam por grande dificuldade financeira ou estavam alojados em abrigos de artistas. Outros ainda estavam na ativa e são humoristas consagrados no cenário nacional. Desta forma, Chico conseguiu reunir um time de grandes astros e que o acompanharam por vários anos: Joselino Babacena (Antonio Carlos Pires), Dona Bela (Zezé Macedo), Baltazar da Rocha (Walter DÁvila), Sandoval Quaresma (Brandão Filho), Aldemar Vigário (Lúcio Mauro), Rolando Lero (Rogério Cardoso), Cacilda (Claudia Gimenez) e tantos outros.
Salomé

Alguns personagens de Chico Anysio foram criados para o programa Chico Total, que marcou época inclusive no período da ditadura, como a velhinha Salomé, de sotaque gaúcho, que ligava para o presidente João Batista Figueiredo. Uma sátira muito bem elaborada e extremamente inteligente. Um outro personagem que tinha a minha preferência era o craque “Coalhada”, que se gabava de suas jogadas fabulosas. Também o político Justo Veríssimo era uma forma de criticar a atuação de nossos políticos, mostrando o lado obscuro do comportamento do legislativo brasileiro. O galã Alberto Roberto irritava seu produtor ao modificar o texto combinado, ou trocar e remendar as falas no momento da gravação. E muitos outros eu poderia comentar ainda aqui, pois a galeria é imensa.

Vai-se o criador, ficam as criaturas. O nome Chico Anysio e seus personagens por certo estarão sempre presentes no centro das discussões que tratem do humor brasileiro. Não há como deixar de reconhecer este gênio brasileiro, que fez história ao deixar Maranguape no Ceará para mostrar seu talento no centro do país, e dali, através da televisão disseminá-lo para o Brasil e o mundo.

Por isso tudo, hoje “o humor fica um pouco sem graça!”

Fontes: www.zerohora.com.br e www.wikipedia.com.br  Acesso em 23.03.2012

Um comentário:

Attico CHASSOT disse...

Muito estimado Jairo,
merecida homenagem que faz teu blogue ao dia que ‘o humor perdeu a graça’. Da morte de Chico Anísio o mais surpreendente é o quando desconhecíamos a sua estupenda versalidade não apenas como humorista, mas o excelente compositor, escritor, artista plástico & outras facetas mais.

Talvez a grande lição que poderíamos tirar de sua morte é saber de seu arrependimento por ter fumado e o tabagismo é sua causa morte. Oportuna a decisão da viúva em criar uma fundação para ajudar às vítimas do tabaco.
Parabéns por mais uma edição do blogue que constrói a cidadania,
attico chassot