17 março 2012

NO TEMPO DAS ENCICLOPÉDIAS

Esta semana uma notícia entristeceu a minha geração, a de que a Enciclopedia Britânica deixaria de ser publicada em papel para migrar definitivamente para sua plataforma eletrônica. Não que queiramos evitar a preponderância da tecnologia em detrimento do saudosismo desta geração. Mas a Britânica foi nossa retaguarda durante muitos anos nas pesquisas que fazíamos nos trabalhos da escola. Precursora da Internet, foi ela que nos subsidiou durante tantos anos. Por isso quero trazer aqui artigo de Zero Hora tratando desta grande construção do conhecimento, e que agora começa a ceder lugar definitivamente às publicações eletrônicas da nova era da comunicação.  

Ao contrário do que o fim da Britânica pode sinalizar como desistência diante de um mundo tomado por buscadores digitais e redes colaborativas, no Brasil da ascensão da classe C os grossos volumes ainda encontram compradores.

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1) Ato de anunciar ou de ser anunciado. 2) Uma notificação ou declaração pública

Na última terça-feira, dia 13, a Encyclopaedia Britannica Inc., responsável pela publicação da mais tradicional enciclopédia do planeta, a Britânica, anunciou que não publicará mais versões impressas de suas obras, objetos de desejo de gerações.

O anúncio não significa o fim da Britânica, que continuará sendo produzida e editada como produto digital, mas representa uma vitória simbólica da mídia digital na transição entre impresso e eletrônico.

Com 244 anos de uma tradição que a transformou em um dos sinônimos para enciclopédia e até símbolo de status, a decisão de descontinuar a versão papel foi recebida como o fim de uma era.

— O fato é que o público em geral já não vinha manifestando grande interesse na versão em papel da Britânica. Na América Latina, 95% das nossas vendas já são online. No Mundo, vendemos 80% de nossas coleções em formato digital e apenas 20% em papel. Não estava mais valendo a pena mantê-la, por mais tradicional que fosse — diz Dirk Halbach, Diretor de Desenvolvimento de Negócios da Britannica para América Latina, Caribe, Espanha e Portugal.

Britânica

Encyclopædia Britannica, a mais velha enciclopédia geral de língua inglesa, publicada pela primeira vez em Edimburgo, na Escócia, em 1768.

Não foi a primeira vez que a Britânica sacrificou suas edições em papel em nome da plataforma digital. A enciclopédia já havia anunciado planos de interromper a publicação em papel ou de se dedicar apenas a edições concisas em 1998, mas retomou seu padrão regular em 2003.


A pesquisa hoje tem outro nome: Google
  A grande concorrência nesse período não era, como hoje, a Wikipédia e os portais colaborativos, e sim a enciclopédia digital multimídia Encarta, lançada pela Microsoft em 1993. Embora assumidamente menos tradicional e menos abrangente, a Encarta era prática para uso com tecnologias digitais.

A própria Encarta, contudo, foi encerrada em 2009, aí sim, vitimada não por um ou outro concorrente comercial, e sim por uma forma radicalmente nova de encarar o conhecimento.

Colaboração

Yochai Benkler, em A Riqueza das Redes: Como a Produção Social Transforma Mercados e Liberdade (2006), argumenta que o surgimento da Internet e da economia da informação significou um crescimento de formas não mercantis ou sociais de produção e de recompensas maiores para a colaboração.

O fim da versão em papel Britânica, objeto não apenas de desejo, mas de status, como atestaram a maioria dos jornalistas e colunistas internacionais que comentaram o fato, responde a uma questão de mercado, mas também é um sintoma de uma transformação na própria mentalidade do público.

Britânica, Barsa, Larousse, Mirador e outras enciclopédias que atravessaram décadas e até séculos apresentavam-se (e ainda apresentam-se) como um produto credenciado pela autoridade de sua marca e dos acadêmicos que nelas escrevem e organizam o conhecimento para apresentar ao leitor.

Mas o crescimento das redes colaborativas na internet está formando uma geração acostumada não a procurar o conhecimento por meio de especialistas, mas em construí-lo coletivamente.

— O modelo da Enciclopédia, desde a origem, lá com Diderot e D’Alembert, era o de reunir o conhecimento do mundo e dizer: toma, tá aqui. Hoje a ideia está gradualmente mudando. A massa de informações é tamanha e muda com tanta frequência que talvez seja ingênuo apresentar um compêndio de conhecimento. Hoje o necessário é organizá-lo — diz o jornalista André Pase, professor de Comunicação Digital na Pontifícia Universidade Católica (PUCRS).

Digital

Os computadores entendem apenas dois números, 0 e 1, e fazem todas as suas operações aritméticas neste modo binário.

O modelo mais bem-sucedido atualmente de construção colaborativa está na rede, com acesso aberto e gratuito e possibilidade de atualização por qualquer um que se cadastre.

A Wikipédia é hoje para o mundo digital o que a Britânica já foi para o mundo impresso: o grande concentrador de informações, que responde em tempo real às mudanças de um mundo conectado em rede.

— O mundo sempre mudou, países deixavam de existir, revoluções, desastres, mas antes não se tinha acesso tão imediato a essa informação. Hoje achar que se pode esperar a atualização do livro do ano de uma enciclopédia em papel é irreal — comenta André Pase.

Por isso mesmo as enciclopédias não se esquivaram do mundo digital – para fazer frente à internet, aos buscadores e à própria Wikipédia, ingressaram no universo digital cada qual a seu modo.

O ingresso da Britânica foi tão bem-sucedido que provocou o fim de sua versão em papel. Outras, como a brasileira Barsa, combinam a tradicional coleção de volumes impressos com CDs de conexão à rede que baixam atualizações periodicamente da base de dados central da enciclopédia.

Fonte: Zero Hora (Porto Alegre) - 17.03.2012 

Um comentário:

Attico CHASSOT disse...

Meu caro Jairo,
faço minha visita semana ao teu blogue. Uma vez mais: atual.
Não sofro com o adeus a Britânica suporte papel. Nunca tive a Britânica. A Gelsa tem, talvez não a tenha aberto nos últimos 20 anos. Tive a Mérito, 20 volumes. Doei há mais de 12 anos a uma escola do MST. Tenho a Larousse, 30 volumes. Meu índice de consulta é talvez uma vez ao mês. Fui um grande consultador de dicionários e enciclopédia em papel. Hoje uso diariamente três dicionários da língua portuguesa e um outro multi-idiomas, em suporte eletrônico. Meu índice de uso a Wikipédia é no mínimo vinte vezes ao dia.
Tenho na Wikipédia o melhor exemplo da democratização do conhecimento. Tu ainda lembras o quanto as enciclopédias papeis eram causadora de exclusão; só os abastados podiam tê-la. Hoje o universo que tem acesso a Wikipédia é imenso. Por tal, também, ajudo financeiramente (vê que ela não tem anúncios) e com verbetes a Wikipédia. Sei que tem erro e que há verbetes que não são neutro. Suporto.
A Britânica também tem erros.
Assim, não coloquei luto com a notícia desta semana.
Com admiração ~~ também ~~ por esta blogada

attico chassot
http://mestrechassot.blogspot.com
www.professorchassot.pro.br