13 abril 2013

MENTE EMBOTADA, VISÃO ENCURTADA

Cada profissão demanda competências peculiares

Algumas profissões possuem características bastante peculiares e demandam uma série de competências por parte de quem as exerce. Por exemplo, para profissões onde haja necessidade de exposição ao risco com frequência, como bombeiro e policial, é preciso ter coragem e destemor. Imagine estes profissionais em missões para apresar criminosos, como no caso do policial, paralisados pelo medo. Bem como, no caso do bombeiro, em chamado para debelar um grande incêndio, terrificado com a altura das chamas. Sem dúvida, são profissões que requerem uma boa preparação e determinado acúmulo de conhecimentos.

Já, para atuar como músico ou como ator, por exemplo, não se deve possuir qualquer tipo de receio na exposição pública. Tente imaginar um músico que esquece a letra da canção ou erra suas notas ao tocar um instrumento em pleno espetáculo, principalmente quando a grande maioria do público já domina a melodia. Agora, imagine também o ator esquecendo o texto num momento de empolgação geral, e crucial para a conclusão de um ato? Uma falha que pode comprometer todo o desempenho.
 
O embotamento da mente faz com que não
se consiga entender o contexto da realidade
Em todos estes casos há necessidade de uma boa preparação, de uma gama bastante significativa de conhecimentos. Por isso, profissionais de destaque são aqueles que fazem com que suas mentes jamais sofram o que se chama de “embotamento”. Ou seja, estão sempre abertos a todo tipo de conteúdo, cientes de que há um conhecimento universal capaz de fazer com que se contextualize uma série de realidades através dele.

Na teoria administrava moderna costumeiramente denominamos “zona de conforto” o espaço em que nos sentimos bem, e de certa forma confortáveis. Quem decide não sair da “zona de conforto” também não conhece além dela. E quando estas pessoas são chamadas a deixar esta zona, demonstram uma enorme resistência, pois o universo do desconhecido traz a elas um grande receio. Ficam se perguntando: “Será que eu serei capaz de viver num espaço desconhecido até então?” Desta forma, preferem resistir ao desconhecido, e fazem mais, criticam quem ousa lhes desafiar ou desfazem dos que aceitam o desafio.

Para nós que lidamos com educação há bastante tempo, é comum reconhecer alunos e alunas com este perfil. Ainda que estes sejam uma minoria, pois grande parte aceita o desafio de buscar novos conhecimentos, e entendem que o universo é muito maior do que aquilo que estavam acostumados no âmbito particular ou doméstico, antes de buscarem a Escola.
 
A interdisciplinaridade faz com que os conteúdos se mesclem
em benefício de um conhecimento mais abrangente
O currículo escolar é composto de inúmeros conhecimentos que se intercambiam. É o que a pedagogia costuma reconhecer como “interdisciplinaridade”, uma característica da educação que faz com que os conteúdos conversem entre si. E em qualquer curso que busque a formação integral de alunos, profissionais de destaque no mercado de trabalho, estes conteúdos estarão presentes, dialogando e fazendo com que se tenha uma visão global da realidade, ao invés de um certo “embotamento” da mente. Aliás, é este embotamento que leva muitos profissionais a um “encurtamento da visão” profissional, tornando-os simples copiadores sem qualquer criatividade.

E dentro de nossas escolas técnicas, por vezes me surpreendo com uma minoria que demonstra resistência ao se deparar com conteúdos importantes que se mesclam com a teoria técnica. Como falar tão somente de conteúdos de Segurança do Trabalho ou de Enfermagem sem que se mesclem nesta abordagem conhecimentos de matemática, português, geografia, história, química, física e biologia? Sem contar ainda com alguns conteúdos que permeiam o conhecimento humano, tais como, filosofia, sociologia, antropologia, etc.
 
Comparativamente, a interdisciplinaridade é um
intercruzamento de conhecimentos
Não esqueço de colegas docentes que certa feita se mostraram surpresos com a reação de alguns alunos. Um deles me contou que uma aluna de enfermagem, ao saber que havia uma disciplina de “matemática instrumental” no currículo do curso enfatizou: “Mas eu vim fazer enfermagem porque não gostava de matemática!” Outro, contou-me que um aluno de segurança do trabalho, ao ser solicitado fazer uma redação, disse em voz alta: “Ah! Professor, e eu que pensei que esse ciclo em minha vida já havia se encerrado!” Como se na labuta profissional nunca mais tivessem necessidade de fazer uso destes conhecimentos.

Prá estes que creem que basta tão somente a teoria e a legislação específica na formação profissional para o mercado de trabalho, fica aqui a observação para que evitem “embotar a mente” e, desta forma, “encurtar a visão” profissional. 

2 comentários:

JAIRCLOPES disse...

Limerique

Matéria segue matéria em trilha
Pois toda sapiência se empilha
O estudo é eclético
Puro ou apologético
Nenhum conhecimento é uma ilha.

Attico CHASSOT disse...

Meu caro Jairo!
Ao teu excelente texto adito algo mais referente a nossa área: o uso de profissionis despreparados transformados em "educadores"de crianças em alta vunerabilidade social, função que seria melhor exercida por policiais.
Cumprimentos por mais uma relevante edição de teu blogue,
Attico Chassot