05 setembro 2015

A EDUCAÇÃO OUTRA VEZ EM DEBATE

As notícias políticas da semana se repetem
Não vou falar de política esta semana, nem de Dilma, nem de Lava-Jato. Muito menos de Sartori, da crise que afeta o Estado e do parcelamento de salários. Mas vou comentar um tema que em toda esta parafernália que aí está, muito me preocupa, e no qual me sinto bastante inserido: a educação.

Comecemos pelas responsabilidades da União em relação à educação. Depois de uma esplendorosa arrancada, que parecia promissora na formação de nossos jovens através do PRONATEC, o retrocesso sucedâneo ao ano eleitoral foi um verdadeiro "balde de água fria" na nossa empolgação. Fiquei estupefato com o blefe que o governo federal deu na educação, cancelando mais de 80% das verbas destinadas às Escolas Técnicas. Sem contar ainda com o corte severo no FIES da educação superior, deixando muitos universitários desamparados e sem condições de seguir a formação tão sonhada.
  
Inesperadamente o governo federal cortou
as verbas do Pronatec
Sou testemunha do quanto as escolas técnicas investiram e se prepararam para uma nova realidade. Reformaram instalações, adquiriram mobiliário novo, estruturaram laboratórios, contrataram docentes, etc. e tal. Eis que de repente, a notícia inesperada chega de supetão: “Corte nas verbas do Pronatec.” E não foi um cortezinho! Foi uma “foiçada”! Agora, só quem está vivendo a realidade destas instituições, como eu, prá comprovar a dificuldade de retomar a antiga realidade. E muitos pais e mães, que se preparavam para matricular os filhos baseados nas alardeadas promessas de campanha, se indignaram com o cancelamento. Num primeiro momento, inclusive, atribuíram a culpa às escolas.

No caso da educação como competência do Estado, o nosso Rio Grande do Sul vai de mal a pior. Escolas caindo aos pedaços, com infraestrutura corroída pela falta de planejamento e de manutenção. O governo que entrou, como sempre, atribui o caos ao seu antecessor. O governo que saiu, como sempre, afirma peremptoriamente que deixou tudo as mil maravilhas quando entregou o bastão. Não se sabe onde está a verdade. O discurso político ridículo e enganador tem emissário de ambos os lados, sem que haja provas.

Presidente do CPERS discursa no carro de som
em frente ao Palácio Piratini
Penso que a educação de nível médio, essa sob a responsabilidade de escolas estaduais espalhadas por todo o Estado, está longe de conseguir resgatar seus tempos de glória. E uma enorme parcela deste fracasso passa pelas iniciativas de um sindicato sovina, incompetente e de ideias ultrapassadas. Um sindicato que incentiva a inoperância docente, com professores que não executam nada mais do que suas aulinhas obrigatórias, com raríssimas exceções. E o motivo disso é a tão defendida “isonomia” salarial, onde todo mundo deve ganhar a mesma coisa, independente de suas habilidades e competências. Uma desmotivação total toma conta da categoria, já que o mérito não é premiado e valorizado como ocorre na iniciativa privada. Sendo assim, o que mais se ouve por ali são coisas do tipo: “Prá que eu vou me matar, se o salário é igual pra todos?“

Aliás, cabe ressaltar que alguns governos fizeram esforços para estabelecer um plano de meritocracia que valorizasse a categoria, e que lhes atribuiria faixas salariais diferenciadas, entre eles a governadora Yeda Cruzius. Mas depois de inúmeras tentativas, de idas e vindas na justiça, não conseguiu vencer a resistência sindical. O resultado de tudo isso está sendo colhido atualmente, com um CPERS (sindicato dos professores estaduais) de discurso anacrônico e bastante repetitivo. Pude comprovar isso esta semana, ouvindo sua presidente em cima do carro de som, nas manifestações em frente ao Palácio Piratini. Vociferava aquelas mesmas palavras de ordem minhas conhecidas da época do “Olívio”, presidente do sindicato dos bancários, quando eu pertencia àquela categoria na década de 1970.  

Canoas discute um Plano de Desenvolvimento da
Educação visando a próxima década
 
Mas e a educação de responsabilidade dos municípios? Como está? Vai muito bem, obrigada. A partir de projetos de âmbito local, a maioria dos municípios tem conseguido êxito em todas as suas iniciativas. Políticas de remuneração de professores construídas a partir de negociações bem sucedidas e com a anuência de representações sindicais mais compreensivas e com pensamento contemporâneo. E um destes exemplos podem ser observados em Canoas, onde uma revolução está em andamento, tanto que a cidade tomou para si o título de “cidade educadora”. Ali foi adotada uma política de valorização dos professores, com salários baseados na experiência, na qualidade e competência docente. Ou seja, onde o mérito é valorizado.


Outros exemplos alvissareiros acontecem por todo o interior do Estado, em que dificilmente se veem reclamações em relação à qualidade deste ensino. Aliás, as reclamações de falta de qualidade no transporte de alunos e na merenda escolar, em sua maioria, são de escolas sob a responsabilidade do Estado, principalmente pela inconstância no repasse de verbas públicas.
 
José Lutzenberger: "Os tecnocratas gostam de
grandes projetos"
Nada mais oportuno do que recordar as lições de nosso grande educador ambiental, José Antonio Lutzenberger. Adepto dos projetos de baixo custo e das ações de nível local, dizia ele que todas as soluções caseiras e pontuais são muito mais eficientes do que aquelas sugeridas pelos “tecnocratas”. Para ele a tecnocracia visa tao somente grandes projetos, pois ali existe a possibilidade de “descontrole” e, principalmente, de desvio do dinheiro público. Quem sabe possamos aprender mais com estas soluções locais, reconhecendo que está na hora de mudar o pensamento em prol de uma educação que consagre, não a estabilidade crônica que acomoda e oxida as iniciativas inovadoras, mas que incentive sim o protagonismo, e que desafie os profissionais numa nova perspectiva de atuação.            


Um comentário:

Attico CHASSOT disse...

Meu caro Jairo!
Se tivéssemos que assinalar algo muito significativo nos três primeiros governos petista, a Educação é talvez o ponto alto, Também está no quarto governo a mesma Educação é das maiores vítimas dentre os desmandos da Presidente e os cortes (ou como dizes as podadas) no Pronatec os mais desoladores.
Concordo dolorido com teu texto.
attico chassot