20 fevereiro 2016

DISCURSO VAZIO

Sempre fui um admirador da boa oratória
e do poder de argumentação
Sempre fui um admirador dos discursos bem elaborados, da retórica bem construída, mesmo que a prudência e a precaução me diga sobre a necessidade de uma análise crítica evitando por eles ser iludido. E assim, pela idade principalmente, vamos nos tornando extremamente analíticos sobremaneira.

De posse do controle remoto, vez por outra faço algumas viagens pelos canais da televisão em busca de boas atrações, tendo em vista a pobreza que assola este meio de comunicação na maioria das horas. E não tenho pudor de confessar que em determinados momentos me detenho em canais estatais, como TV Senado ou TV Câmara, para admirar alguns proeminentes oradores. Dentre tantos, os que mais admiro não são tão conhecidos assim. Me encanta ver, por exemplo, o senador Cristovam Buarque com sua verve vibrante em prol da educação. E raras vezes faz uso de um papel, ou de um rascunho que seja. Sou admirador desse poder argumentativo. Atribuo isso a duas coisas imprescindíveis: experiência e conhecimento.

Cristovam Buarque, um dos melhores oradores do Senado Federal
Talvez por essa admiração, aprendi também ao longo dos anos a aguçar a audição buscando erros e claudicações. Por ser extremamente auditivo, sou atento na colocação das palavras e no poder do argumento utilizado pelo orador. E toda vez que ocorreum deslize, dificilmente ele passa imperceptível pelo meu crivo. Creio que isso pode ser atribuído também a vivencia que a sala de aula nos proporciona depois de tantos anos. 

Outro dia ouvia o comandante da Brigada Militar em entrevista a um repórter de emissora local. Tentava ele justificar o fechamento de postos policiais em regiões estratégicas da capital. Para quem estivesse distraído, pouca coisa acrescentaria ouvir dele que os postos foram fechados porque “a polícia precisa estar mais presente nas ruas de Porto Alegre”. Logo pensei comigo: Todo mundo sabe que o problema maior é o atual baixo contingente da força de segurança pública. Portanto, um discurso de argumento frágil e inconsistente.

Posto da BM no Bairro Rubem Berta, fechado para
melhorar o policiamento na cidade
Um discurso que nesta semana também me chamou a atenção foi a entrevista do presidente da EPTC, procurando justificar o aumento das passagens de ônibus de R$3,25 para R$3,75. Dentro do porcentual que elevou o preço a este patamar, tentou ele justificar que dez centavos do valor de aumento era para a instalação de ar condicionado em toda a frota, coisa que acontecerá nos próximos dez anos. Mais uma vez, pensei comigo, discurso sem sustentação, pois se os ônibus passarão por este processo de instalação na próxima década, porque não cobrar o valor também de maneira gradativa? Começa com três centavos e assim vai.

Por fim, no dia 17 último, não pude resistir ao que ouvi no final de uma reportagem de jornal televisivo local sobre a investigação da morte de um funcionário do SAMU esta semana no bairro Petrópolis. Encerrando a matéria, disse a jornalista: “A polícia está fazendo também um levantamento dos assaltantes que atuam no bairro, para identificar os criminosos”. Será que ouvi bem? Quer dizer, a polícia já se certificou que existem vários assaltantes agindo naquele bairro, e dentre eles, vai tentar identificar quem foi que matou. Mas o que é isso? Se ela sabe que eles agem naquela área, não fez nada para que o crime não ocorresse?


Sei lá! Estarei ficando crítico demais nas minhas audições? Ou é só impressão de que está faltando argumentos para as explicações dessas autoridades? Pelo que tenho visto, todos adotam o mesmo discurso dos técnicos de futebol da nossa conhecida dupla gre-nal, que falam muito e pouco dizem. Basta ver os argumentos apresentados depois de fragorosas derrotas. Honestamente, algum torcedor consegue se convencer com aquele discurso vazio?

2 comentários:

Attico CHASSOT disse...

Meu caro Jairo!
Com tantos políticos medíocres e repórteres (e especialmente jornalistas esportivos) incompetentes, não deve ser muita vantagem ser um auditivo excepcional como tu.
Deves ouvir asneiras aos borbortões.
Parece ser preferível ter tinitus como eu.
Digo que o melhor é ter ouvido seletivo.
Ouve-se apenas o que se quer,
attico chassot
Www.professorchassot.pro.br
Mestrechassot.blogspot.com

Attico CHASSOT disse...

Meu caro Jairo!
Com tantos políticos medíocres e repórteres (e especialmente jornalistas esportivos) incompetentes, não deve ser muita vantagem ser um auditivo excepcional como tu.
Deves ouvir asneiras aos borbortões.
Parece ser preferível ter tinitus como eu.
Digo que o melhor é ter ouvido seletivo.
Ouve-se apenas o que se quer,
attico chassot
Www.professorchassot.pro.br
Mestrechassot.blogspot.com