12 março 2016

A VIOLÊNCIA VENCEU A SOLIDARIEDADE

Página do Instituto Sanmartin na internet

A sua página de apresentação na internet diz assim: “uma entidade sem fins lucrativos que tem por objetivo auxiliar as pessoas mais carentes da nossa sociedade. A instituição atua na cidade de Porto Alegre, nos bairros Restinga e Tristeza, através de lojas chamadas brechós Solidários”. Este é o Instituto Sanmartin, fundado em dezembro de 2002 por Iara Zinn, depois do falecimento de seu filho Sanmartin Zinn Rodrigues num acidente de transito. A criação do instituto veio para amenizar a perda do adolescente e se transformou em solidariedade.

 
Prateleiras vazias, resultado do
último arrombamento

Mas a partir desta semana que vem pode-se dizer que esse “era o Instituto Sanmartin”, pois ele acaba de fechar as portas, vítima da insegurança instalada na capital. Desde a sua criação em 2002, o instituto já havia distribuído mais de duzentas e setenta toneladas de alimentos para as entidades conveniadas da região, essencialmente nos bairros Restinga e Tristeza.

 

A manchete do periódico Diário Gaúcho desta semana retrata bem o ocorrido “A Violência venceu a Solidariedade”. Foram nove arrombamentos no período de um ano. Segundo a fundadora Iara Zinn, o penúltimo foi três dias antes da entrega dos kits de Natal que a instituição havia montado para 80 famílias da região que seriam beneficiadas. Iara desabafou: “Nem isso respeitaram!”

 

Voluntárias preparam roupas do brechó troca por alimentos

Na última quarta-feira outro arrombamento decidiu o futuro do instituto: fechar as portas definitivamente. Foram levados aparelhos eletrodomésticos, ventilador, teclado musical, roupas que eram vendidas no brechó ou trocadas por outras doações e ainda alimentos, como arroz, feijão, farinha e açúcar que estavam estocados.

 

Mais uma vez a sociedade observa incólume o avanço da violência, até mesmo com entidades sem qualquer fim lucrativo. Poderia aqui fazer inúmeras reflexões sobre a origem destes atos: a educação, a família desestruturada, o potencial das drogas, etc, etc.

 

Mas, honestamente, é extremamente difícil estabelecer as verdadeiras causas desse comportamento. Pois sabe-se que, isso vem de um conjunto de componentes que vai determinar a personalidade de cada indivíduo, suas influencias e convivências ao longo da existência. Certamente, a educação quando não consegue sensibilizar desde a tenra idade, cria indivíduos que beiram a “animalidade”, a “bestialidade”. E pessoas com estas características sequer sabem o que é convívio social; muito menos o que é solidariedade. O que lhes importa é o “aqui e o agora”, saciar seus anseios e desejos prementes, independente do impacto que isso possa causar na vida de outrem.

Iara Zinn, Diretora da ONG: "Não há mais condições de continuar". 

 

Pois bem, tudo vai desaguar, como vimos, na educação.

 

E a educação deve ter início na família, bem estruturada, de convivência harmônica, sem violência, e onde deve imperar o respeito mútuo. Sem essa construção inicial, aquela que determina os valores e limites, as crianças estão previsivelmente aptas a iniciar uma vida delituosa e sem controle.

 

Numa segunda etapa vem a construção do conhecimento na Escola. Uma escola capaz de causar transformação e mostrar para o indivíduo o verdadeiro espírito cooperativo e de direitos e deveres que a cada um é estabelecido pela sociedade. Depois das regras domésticas criadas na família, o jovem terá de entender as regras que a sociedade criou para o convívio social.

 

Creche da Zona Sul, uma das maiores prejudicadas

E por último, as oportunidades que a sociedade dispõe para cada um no mercado de trabalho, com uma função ou atividade que lhe proporcione orgulho e respeito de acordo com sua capacidade. Sempre considerei que as corporações (leia-se aqui empresas, de qualquer segmento da atividade econômica) possuem também uma grande responsabilidade no desenvolvimento do indivíduo. Empresas que não estabelecem limites também são perniciosas. Empresas que incentivam a competição individual a qualquer custo criam pessoas egoístas, sem sentimentos.

 

É muito triste ver iniciativas como essa do Instituto Sanmartin se renderem à violência e ao comportamento desumano de indivíduos que certamente são a escória da sociedade. E para quem sabe sensibilizar e proporcionar apoio a estas pessoas do Instituto Sanmartin, que há 14 anos fazem o bem, sugiro fazermos um último apelo para que não desistam, seja através do e-mail instsanmartin@portoweb.com.br ou ainda pelo telefone (51)3264-6964. Vale a tentativa. Eu estou fazendo isso agora, pois não podemos nos render tão fácil à violência.   

 

2 comentários:

Attico CHASSOT disse...

Muito estimado colega e amigo Jairo!
Não conhecia o triste fim do Instituto San Martins.
O que mais podemos fazer além de lamentar a sina de dobrar sinos pela morte da solidariedade entre nós.

Attico CHASSOT disse...

Muito estimado colega e amigo Jairo!
Não conhecia o triste fim do Instituto San Martins.
O que mais podemos fazer além de lamentar a sina de dobrar sinos pela morte da solidariedade entre nós.