26 março 2016

PERDA TOTAL

Esta semana decidi não falar de política. Basta! Até porque, essa classe tão desacreditada usa de uma estratégia bastante conhecida para mim, confundir o eleitor. E isso eles fazem muito bem.

A aviação sempre foi uma área que me fascinou
Por isso, resolvi falar de um assunto pouco comum, mas que sempre atiça minha curiosidade, a história dos acidentes na aviação. É matéria de segurança também, e está intimamente ligada à área em que estamos envolvidos. As vezes até tenho confidenciado a meus amigos e colegas que, se pudesse retomar minha juventude novamente, optaria pela carreira de piloto aéreo, tamanha minha fascinação pela aeronáutica. 

É daqueles temas que seguidamente me faz recorrer aos livros, para entender melhor causas e motivos destas tragédias. Não consigo explicar de onde herdei esta sina, provavelmente de tanto ouvir meu pai relatar histórias de quando trabalhava na manutenção de aeronaves da extinta Varig, das quais algumas acredito, e outras coloquei sob suspeita muitas vezes quanto à sua veracidade. Foram mais de doze anos, viajando inúmeras capitais brasileiras para dar assistência aos aviões da empresa. Por respeito filial, jamais refutei os relatos dele.

Ivan Sant'Anna em entrevista a Jô Soares
Sobre as literaturas, há cerca de dois anos, por curiosidade pura, adquiri na Livraria Cultural uma obra do escritor Ivan Sant'Anna, um especialista em resgate destas tragédias. O livro se chama “Perda Total”. Em menos de quinze dias devorei as páginas uma a uma. Sant'Anna descreve ali os três maiores acidentes aéreos ocorridos no Brasil: o voo 402 da TAM, saindo de Congonhas com destino ao Rio de Janeiro em 31 de outubro de 1996, e que caiu logo após decolar; o voo 1907 da companhia GOL, que partiu de Manaus em direção ao Rio de Janeiro em 29 de setembro de 2006, e foi atingido durante a rota por um jatinho que cortou sua fuselagem, contabilizando 154 mortes; e o inesquecível voo 3054, outro da TAM, que no dia 17 de julho de 2007 se chocou contra o prédio da própria empresa durante a aterrissagem, matando 189 pessoas na aeronave e mais 12 atingidas no solo. Esse voo era proveniente de Porto Alegre, e transportava pessoas mais próximas e conhecidas. Lembro bem que neste ano, eu recém terminara um trabalho na Gerdau de Sapucaia do Sul, onde havia conhecido a Andrea, gerente de Recursos Humanos da empresa. Sempre sorridente e de bem com a vida, Andrea Rota Sieczkowski era aquela pessoa que se podia considerar realmente “pró-ativa”. Infelizmente foi mais uma das vítimas do voo 3054.

A tragédia do voo 3054 da TAM foi uma das maiores do país
Foram três tragédias que não deixaram sobreviventes para relatar o drama dos últimos momentos, com exceção de alguns urros e apelos desesperados dos próprios pilotos nas gravações das caixas pretas, antecipando o momento fatídico. Por isso, o título do livro.

Mesmo que até hoje me digam que viajar de avião é mais seguro do que dirigir um veiculo nas cidades e estradas do Brasil, toda vez que embarco nestes espetaculares veículos de transporte, o frio na barriga é inevitável.

Mas este domingo, 27 de março, tem um marco significativo na história dos acidentes na aviação: faz trinta e nove anos do maior acidente aéreo de que se tem notícia. O desastre ocorrido no arquipélago das Ilhas Canárias, que pertence à Espanha, matou 583 pessoas e deixou 61 feridas.

Por coincidência deste ano de 2016, o acidente das Canárias, ou acidente de Tenerife de 1977, ocorreu num domingo, início de verão naquele continente. Devido à uma bomba lançada por terroristas no aeroporto de Las Palmas ali próximo, os voos foram desviados para o aeroporto Los Rodeos. Com turistas vindo de várias partes do mundo em busca do sol, em poucas horas o pequeno aeroporto estava saturado, além de possuir uma característica, a formação de nuvens baixas que comprometiam a visibilidade. Um Boeing 747 da PanAm americana ainda taxiava na pista principal, quando o comandante de outro Boeing 747 da holandesa KLM entendeu a permissão de decolar. Com a intensidade do nevoeiro, o resultado não poderia ser diferente, uma tragédia com duas “bolas de fogo” ardendo na pista.



Relato do Canal Discovery mostra como ocorreu o maior acidente aéreo da história

Apesar de conhecer esta realidade pelo relato de Ivan Santtana, e de outros livros que contam histórias trágicas idênticas na aviação, continuo um admirador do transporte aéreo. Fico fascinado a cada oportunidade que tenho em viajar desta forma. Todavia, o medo e o frio na barriga se fazem presentes, pois se sabe que, apesar de toda a tecnologia desenvolvida para a segurança deste sofisticado meio de transporte, pouca margem existe nele para que se possa contar aos amigos a história de algum transtorno ocorrido nestas viagens. E isso fica bem evidente cada vez que assisto uma reportagem sobre a queda de uma aeronave. Tenho amigos que dizem preferir os pés no chão, tal como fazia o mestre da sanfona Dominguinhos, que jamais entrou num avião.  

Um comentário:

Attico CHASSOT disse...

Meu caro Jairo,
é mais fácil evocar o guri caiando a cerca e evocando grandes desastres aéreos do que esquentar o duelo entre coxinhas e petralhas.
Com votos de Boa Páscoa,