02 abril 2016

A FORMAÇÃO E O "UTILITARISMO"

A multiplicidade de conhecimentos possibilita 
maior entendimento e compreensão
Dentre os conteúdos estudados nas escolas que formam profissionais em Segurança do Trabalho, muitos deles fazem com que alunos e alunas se perguntem de sua utilidade. É o que comumente se denomina “utilitarismo”. E muitos alunos são acometidos deste mal, pois entendem que se deva aprender somente o que lhes será útil imediatamente. É o chamado “imediatismo”, e que quando associado ao “utilitarismo”, torna-os cegos e radicais no entendimento do que é necessário para formar um profissional de qualidade.

O Radicalismo e o Utilitarismo já
fizeram estragos mundo afora
Como docente, assim como muitos colegas, já fui vítima de alguns questionamentos a respeito destes conteúdos. E o pior é quando não há um discernimento a este respeito. Estabelece-se o conflito inevitavelmente.

Prá que haja um entendimento mais profundo de determinada área, há necessidade de lançarmos mão de outros conhecimentos acessórios, tais como biologia, química, matemática, física, história, geografia e, até mesmo, sociologia, antropologia, filosofia, economia e ciência política.

Toda a formação de cunho técnico demanda um conhecimento abrangente, onde o profissional, para entender a complexidade da área em que vai atuar, necessita de um leque maior de saberes, ou de conhecimentos.

Minha reflexão a esse respeito é porque nesta semana foi publicado o Anuário Estatístico da Previdência Social de 2014, que traz os dados estatísticos consolidados referentes aos acidentes de trabalho e doenças ocupacionais nos anos de 2012, 2013 e 2014. Logo que soube, atiçou-me a curiosidade em saber os números constantes nele. Mas, no mesmo momento, me pus a refletir sobre a quantidade de alunos e alunas dotados de curiosidade sobre este anuário. Alguns, acredito que o desconheçam totalmente. Não somente por culpa deles, mas até mesmo de nós docentes, que deixamos de utilizá-lo como ferramenta nas aulas de estatística. Ou será que a “estatística” não possui “utilidade” no conhecimento do técnico em segurança do trabalho, como entendem alguns alunos “utilitaristas”? Será que “estatística” é “só prá encher linguiça” no conhecimento dos técnicos?  

Anuário 2014 - Dados da Região Sul
Pois bem, o anuário de 2014 publicado esta semana, como sempre, traz números interessantes e que merecem atenção e curiosidade de todos os profissionais prevencionistas, inclusive daqueles que estão em busca de formação na área. (Pode ser acessado integralmente em www.mtps.gov.br).

Dentre os dados relevantes da publicação, o que mais interessa a nós prevencionistas é a Seção IV – Acidentes de Trabalho. Depois de conceituar inicialmente “Acidente com CAT e sem CAT”, “Acidente Típico” e “Acidente de Trajeto”, rememorando a base do conhecimento prevencionista, a publicação traz o CNAE atualizado. Só na página 575 surgem os dados de todo o país, confirmando que tivemos uma redução de 2013 (725.664 acidentes) para 2014 (704.136 acidentes). Todavia, os acidentes de trajeto aumentaram no período, somando 112.183 em 2013 e 115.551 em 2014. É possível também se analisar graficamente os acidentes de trabalho por região, e “óbitos” a cada 1.000 acidentes por região. Pode-se analisar também os acidentes ocorridos na região Sul, comparando os estados do RS, SC e PR. Isso mostra que ainda continuamos liderando o ranking regional, seguidos de perto pelo estado do Paraná.

Anuário 2014 - Acidentes por Estado da Região Sul
Seriam muitas avaliações a serem feitas dentro dos números disponibilizados pelo Anuário 2014. O que destaquei acima foi tão somente um “aperitivo” do que pode ser feito com os dados. Minha intenção foi só “atiçar a curiosidade” daqueles que entendem que uma formação plena e completa não deve prescindir da diversidade de conhecimentos. E a “estatística” é só mais um destes conhecimentos que integram o arcabouço técnico necessário ao profissional prevencionista, evitando que se formem sujeitos específicos e reduzidos, cuja limitação os torna alheios, radicais e ignorantes diante da multiplicidade e diversidade que compõe o mundo contemporâneo em que vivemos.

Um comentário:

Attico CHASSOT disse...

Meu caro Jairo,
mesmo passando os olhos no denso conteúdo de tua blogada desta primeira semana abrilina, não como não me reter no primeiro diagrama que apresentas. Hoje estou cada vez mais convencido da defesa da migração das disciplinas (fatiação artificial do conhecimento) para posturas indisciplinares, numa visão do todo.
Parabéns pelos continuados desafios que propões.
Uma boa semana,
attico chassot
mestrechassot.blogspot.com