Houve um tempo em que dávamos adeus à minha mãe até a noite |
Naquele tempo, vez por
outra eu imaginava como seria atingir outras idades. Seria capaz de ultrapassar
os quarenta? Na minha mente jamais acreditava nisso. Mas quarenta de existência
me parecia suficiente. Cinquenta já seria “lucro”, e sessenta, então, se lá
chegasse, já era um “cheque especial”.
Seis décadas, e o tempo passou depressa |
Pois não é que, sem notar,
ele chegou? Esta semana sou “sexagenário”.
Seis décadas completadas,
com muita história prá contar. Desafios, vitórias, derrotas, lições,
aprendizados fazem parte desta jornada. Por isso, o dia do aniversário é tão
enigmático para cada um. É certamente um dia de reflexão, principalmente para
nós que conseguimos ultrapassar meia centena de idade. O significado deste dia
é diferente para cada um e cada uma. Ao chegar aos sessenta, a legislação estabelece
um limite, com vantagens e desvantagens. A partir de agora estamos adentrando o
patamar de “idoso”.
Das vantagens atribuídas aos
sexagenários estão algumas benesses e subsídios, como passagens de ônibus,
filas de banco, postos de saúde, etc. Das desvantagens, surgem dificuldades em
lidar com doenças, mais cuidados com os exageros, a redução da libido e os
esquecimentos. Mas todos nós algum dia teremos de passar por esta experiência.
Somos reconhecidos por nossas "pegadas" e pelas amigos conquistados |
O que me conforta é que
deixo algumas “pegadas”. São rastros que ao longo do tempo por certo vão se
apagar. Mas creio que o caminho deve ficar impregnado de boas lições, pelo
menos esta tem sido minha tentativa.
O dia do meu sessentinha
foi marcado por inúmeras manifestações de parentes, amigos, colegas e
parceiros. Amacia nosso ego ouvir e ler tantas homenagens neste dia. Daquelas
recebidas, pouco valor dou para a mensagem do gerente de banco, do vendedor da
loja de eletrodomésticos e do corretor de seguros. O tempo me ensinou o que
realmente eles me desejam. Gostei extremamente da manifestação dos meus alunos,
alguns mais afeiçoados, outros nem tanto. Talvez porque em algum momento eu
tenha sido muito áspero sem ter me dado conta. A estes peço desculpas, pois a intenção
sempre foi das melhores. E nestas manifestações, uma facilitador deve ser
elogiado, o Facebook. Nem eu imaginava ter tantos amigos.
Recebi mensagens de várias
partes do país, alem daqueles mais próximos. Duas delas ultrapassaram
fronteiras, meu amigo Daniel Mainero, professor de curso técnico em Buenos
Aires, e minha amiga e tradutora de espanhol, Maria Aldao, que trabalha numa instituição
de apoio à crianças com síndrome de Down em La Coruña, na Espanha.
O Facebook é um facilitador das datas de aniversário |
Um telefonema logo cedo me
comoveu. Meu pai ligava para me parabenizar, apesar da dificuldade na audição
que lhe acomete agora aos oitenta e sete. Assim que desligou, fui tomado pela
saudade da minha mãe, que nos deixou há três anos e da qual sinto muito a ausência
nestes períodos. No último ano de meu aniversário em que ainda estava conosco, organizou
uma pequena surpresa para mim. Ao chegar cansado da sala de aula em casa, me
surpreendi com tudo às escuras. Ela sai de trás de uma porta com um bolo na mão
e velas acesas cantando o ”parabéns”, juntamente com minha esposa, filha e meu
pai. Foi o último abraço de aniversário que desfrutei de minha mãe.
Mas o dia de hoje me faz
reconhecer que somente as boas lembranças devem ficar em nossa mente. E que o
reconhecimento de que somos motivo a cada ano depende totalmente de estarmos
sempre prontos a ajudar, muito mais do que pedir ajuda. Não poderia encerrar
esta reflexão sem trazer “pérola” do nosso poeta maior:
Quando eu for... (Mário Quintana)
|
Quando
eu for, um dia desses,
Poeira ou folha levada No vento da madrugada, Serei um pouco do nada Invisível, delicioso
Que faz com que o teu arPareça mais um olhar,
Suave mistério amoroso,
Cidade de meu andar
(Deste já tão longo andar!)
E talvez de meu repouso...
2 comentários:
Meu caríssimo Jairo!
Leio tua postagem. De imediato invoco um dos deuses muito cultuado pelos romanos. Janus, que esta semana batizou uma operação policial. Uma das faces de Janus sorria pois via como tu celebravas a ascensão à sessentinha. Trazias como convives de maneira salutar com o adensamento da maturidade. Realmente a face do deus que é homenageado no primeiro mês do ano tinha tudo para estampar alegrias,
Mas a medida que avançava bo teu emocionado relato, a outro face do deus se manifestava, Assomaram lágrimas. Janus no seu lado triste chorava. Fiquei despossuído. Eu não estava e nem devia estar entre os muitos que te parabenizavam.
Eu não te cumprimentei. Logo eu, que como pouco são acarinhados por ti em seu aniversário. Quantas surpresas tens me ensejado. Ainda no último novembro foi aquele sumarento “Uma casa: uma breve história da vida doméstica”.
Janus tinha porque chorar. Que explicação posso dar. Que me divorciei da recepção de alertas do Facebook. Vou trazer a minha esfarrapada desculpa: “cumprimentar atrasado prolonga a comemoração?” Minhas justificativas não têm qualquer abrigo.
Rogo, aceites meus cumprimentos. Elas pretensiosamente querem ser amealhados aos votos das muitos amigos e amigas que te deseja o melhor agora e sempre;
Com amizade e estendida admiração,
attico chassot
Meu caríssimo Jairo!
Leio tua postagem. De imediato invoco um dos deuses muito cultuado pelos romanos. Janus, que esta semana batizou uma operação policial. Uma das faces de Janus sorria pois via como tu celebravas a ascensão à sessentinha. Trazias como convives de maneira salutar com o adensamento da maturidade. Realmente a face do deus que é homenageado no primeiro mês do ano tinha tudo para estampar alegrias,
Mas a medida que avançava bo teu emocionado relato, a outro face do deus se manifestava, Assomaram lágrimas. Janus no seu lado triste chorava. Fiquei despossuído. Eu não estava e nem devia estar entre os muitos que te parabenizavam.
Eu não te cumprimentei. Logo eu, que como pouco são acarinhados por ti em seu aniversário. Quantas surpresas tens me ensejado. Ainda no último novembro foi aquele sumarento “Uma casa: uma breve história da vida doméstica”.
Janus tinha porque chorar. Que explicação posso dar. Que me divorciei da recepção de alertas do Facebook. Vou trazer a minha esfarrapada desculpa: “cumprimentar atrasado prolonga a comemoração?” Minhas justificativas não têm qualquer abrigo.
Rogo, aceites meus cumprimentos. Elas pretensiosamente querem ser amealhados aos votos das muitos amigos e amigas que te deseja o melhor agora e sempre;
Com amizade e estendida admiração,
attico chassot
Professor da REAMEC
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