A tragédia da Boate Kiss completou quatro anos em janeiro de 2016 |
Manchete do jornal O Globo
desta semana destacava: “Quatro réus do processo criminal da boate Kiss vão ao
Tribunal do Júri”. A maior tragédia ocorrida nos últimos anos tirou a vida de
242 jovens na noite de 27 de janeiro de 2012.
Na época foram denunciados
também o prefeito de Santa Maria, o secretário municipal de obras do município
e também o comandante do corpo de bombeiros local. Estes últimos, pela condição
de trabalho, foram a julgamento militar e tiveram as penas impostas. Aqueles,
todavia, sequer forneceram as explicações plausíveis sobre a deficiência na
fiscalização, e da negligencia de seus subordinados, os fiscais de obras, em
exigir a adequação da casa noturna às regras. Simplesmente forneceram o alvará
de funcionamento nas condições apresentadas. Tenho dúvida até mesmo se foram
até a casa para fiscalizar.
A colônia agrícola penal de Charqueadas foi criada para a recuperação de presos |
Mais outra manchete da
semana intrigou a sociedade gaucha, relatando o desleixo dos órgãos estaduais
na fiscalização do regime carcerário, especificamente o “regime semi-aberto”,
que de tão ineficiente já tomou o apelido de “regime sempre aberto”. Faltam
tornozeleiras, os presos saem e voltam quando querem (e se quiserem) e os
alqueires de terra junto à maior colônia penal do Estado, que deveria ser um
campo de cultivo agrícola para ocupar e recuperar apenados, acreditem, teve
gentilmente cedida sua metade ao MST pelo governo Tarso Genro. Não questiono a destinação àquele movimento, até porque sei da sua capacidade e potencial, mas sim os motivos que levaram a esta atitude governamental.
Em campanha são sempre amistosos e empolgantes |
No caso da boate Kiss, o
Judiciário, ao invés de levar a julgamento as autoridades públicas que deveriam
responder pela responsabilidade não assumida na fiscalização rígida das
condições de funcionamento da casa noturna, leva a júri popular dois músicos e
os proprietários da boate, que ao receberem o alvará de funcionamento se viram
em condições para tal.
No outro caso, da colônia
penal agrícola, o Estado que deveria cumprir o que o Judiciário havia sugerido
(erguer na área pelo menos três albergues para reduzir a pressão nos presídios
gaúchos), realizou concessões à instituição sem levar em conta sua responsabilidade na recuperação dos detentos. Atuou pelo lado mais fácil e confortável ao atender um parceiro de campanhas políticas.
Observa-se desta forma, a
completa incompetência, e porque não dizer, a falência do Estado. Toda a vez que
é chamado a cumprir seu papel, transige ou se abstém. E ainda mais! Quando vem a público se explicar, o discurso é repetitivo com a falta de agentes e a necessidade de mais concurso público. Ora, a sociedade está cansada dos péssimos serviços e do inchaço das repartições, de funcionários que ao sabor da estabilidade característica destes cargos, resistem em deixar o ar condicionado e os confortáveis escritórios para se dedicarem às obrigações de que foram investidos na posse.
O peso dos tributos que o Estado impõe a população não é retribuído sob a forma de bons serviços |
Pois estas autoridades públicas citadas anteriormente é que deveriam ser
chamadas à julgamento, não somente nos períodos eleitorais. Na minha visão, não
deveriam possuir foro privilegiado, mas sim conduzidos sem apelação ao
cumprimento de pena quando deixassem de agir com a responsabilidade que lhes
foi imputada quando assumiram seus cargos. Naquele caso da boate, no meu
entender deveriam ser encarcerados o governador do Estado, Tarso Genro, o
Prefeito de Santa Maria, Cesar Schirmer, o Secretário de Controle e Mobilidade
Urbana do município, Miguel Caetano Passini e o superintendente de fiscalização
da Secretaria Municipal de Controle e Mobilidade Urbana, Belloyanes Orengo de
Pietro Junior, devido ao desencontro de informações que liberou o
estabelecimento. Observemos o que disseram os Promotores do Ministério Público:
“...a
investigação apontou que, no âmbito do Município, houve falha administrativa,
pois procedimentos internos de dois diferentes setores (Secretaria de Controle
e Mobilidade Urbana, por sua Superintendência de Análise de Projetos e Vistorias,
e Secretaria de Finanças, setor de Cadastro Imobiliário), aplicando dois
diferentes diplomas legais (Código de Obras e Edificações do Município de Santa
Maria e Decreto Executivo Municipal nº 32/2006 ), resultaram em pronunciamentos
antagônicos. Um afirmava irregularidade predial, enquanto outro autorizou o uso
econômico da edificação para funcionar como boate.”
O Poder Judiciário também tem sido um fardo enorme ao contribuinte |
Numa empresa privada,
atitudes como essas seriam passíveis de imediata demissão por justa causa. Por
isso, muitas vezes me pergunto sobre o que se poderia privatizar e retirar como
responsabilidade do Estado, já que este tem demonstrado extrema incompetência
nesta fiscalização, quando não ainda é motivo de inúmeras brechas para a
corrupção que campeia por todo o lado.
A teoria do Neoliberalismo
prega o fortalecimento da Economia, com a intervenção mínima do Estado. Ou
seja, preponderam neste caso as regras estabelecidas pelo mercado, onde o
Estado pouco interfere nas soluções de problemas de oferta e demanda. Desta
forma, a máquina pública poderia ser reduzida, e com ela a carga de tributos
que nos assola constantemente. É o que comumente se pode denominar de “Estado
Mínimo” ou “Estado Minarquista”. Também
pode ser entendido como o Estado “laissez-faire”, palavra de origem francesa
que significa “deixa fazer”, ou ainda, “vale-tudo”.
Mas, nunca vou esquecer de
um “puxão de orelhas” que recebi quando aluno do Programa de Pós Graduação em Educação. Num destes seminários obde fazíamos reflexões sobre as teorias neoliberais, eu defendia
efusivamente a privatização de quase todos os serviços estatais. Foi quando a professora Gelsa Knijnik me mostrou que não era esse o caminho, mas sim o saneamento da administração
pública e a escolha correta dos nossos representantes pelo voto responsável.
Mas acreditem! Vez por outra sonho experimentar uma alternativa da teoria neoliberal
mais contundente, diante de tanto descaso e incompetência. Posso até ser recriminado por isso... Mas...
Um comentário:
Meu caro Jairo,
hoje — dia que meu blogue circula no dia de seu décimo aniversário — minha visitação ao teu blogue é para agradecer ao incentivador, ao arquiteto e ao fiel leitor do mesmo.
Muito obrigado,
Attico Chassot
Mestrechassot.blogspot.com
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