A ameaça aos direitos trabalhistas está no ar |
Vivemos um momento dúbio em
nosso país, e de certa maneira, bem “perigoso”, dadas algumas situações que
merecem atenção e extremo cuidado.
Recentemente passamos por
um processo de impedimento de uma presidente eleita, e que aqui não vou nominar
o mérito desta medida. Mas de uma coisa a maioria da população não tem dúvida:
o Congresso que tomou esta medida não tem moral suficiente para um tipo de ato desta magnitude.
Eu diria que “mudadas as
moscas”, o novo comando do país parece adotar o que uma elite descomprometida
com a população em geral ansiava há tanto tempo. Na verdade, o que ela mais
deseja está prestes a acontecer: abrir caminho para o desenvolvimento depois de
um longo período de poucos privilégios às classes menos favorecidas. É isso que
se percebe nas primeiras ações deste governo que aí está, que era interino e
agora se faz oficial. E o primeiro sinal de que as mudanças começarão é a
proposta de reforma trabalhista enviada ao congresso nacional, onde um dos
itens mais polêmicos é aquele que altera a jornada de trabalho.
O gaúcho Ronaldo Nogueira, novo Ministro do Trabalho |
Alguns direitos
conquistados a duras penas no passado recente, tendem a ser modificados sob a
justificativa de resolver a crise econômica do país. Em vez de reduzir o grande
déficit público, com despesas e gastos em todos os órgãos administrativos das
mais diversas esferas do poder, e tornar mais eficiente um serviço caótico que
emprega a cada mês um maior numero de concursados, vai-se novamente sugar o
sangue de quem pouco possui, mas sempre é conclamado “na marra” nestes
momentos.
A mudança da jornada de
trabalho, de oito horas diárias para doze horas, é um absurdo. Um aumento de
mais de 50% nestas horas possui significativo impacto em muitos aspectos da
vida do trabalhador. Poderia aqui relacionar muitos deles, como por exemplo, a educação
e a convivência com os filhos, cujas consequências já se pode antever com a
quantidade de jovens envolvidos na criminalidade. Há ainda as doenças ocupacionais
em virtude do acréscimo da jornada, principalmente naquelas atividades responsáveis
por doenças de movimentos repetitivos e que afetam o conjunto osteomuscular.
Também o aumento no convívio com ambientes e atividades insalubres, responsáveis
pelo grande adoecimento dos trabalhadores.
Ainda esta semana, o
presidente da Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho, juiz
Germano Siqueira, reagiu às declarações do atual Ministro do Trabalho, o gaúcho, ex-prefeito de Carazinho e membro da Igreja Assembleia de Deus, Ronaldo Nogueira, referindo que a nova proposta do governo Temer não vai afetar as
garantias já conquistadas. O juiz disse que é necessário entender que o Brasil
está no topo dos países que mais mata no trabalho. Só em 2014 a média de mortes
semanais por acidente de trabalho foi de 54,6 trabalhadores. Naquele ano foram
704.136 acidentes com 2.783 óbitos. Isso sem contar as subnotificações (aquelas
que deixam de ser informadas aos órgãos de fiscalização pelas empresas) e os
trabalhadores autônomos ou sem registro.
Atividades repetitivas e insalubres poderão ter jornada ampliada |
Agora, cientes destes números
assombrosos, imaginemos submeter, além das oito horas diárias atuais, um
adicional de mais 50%, estes trabalhadores
a ambientes totalmente insalubres, fábricas sem exaustão, sem conforto térmico e
acústico, tarefas repetitivas e movimentação de cargas fatigantes. Os números atuais antecipam uma verdadeira "carnificina". Será
certamente um genocídio velado, tudo em nome do crescimento do país, do
desenvolvimento da indústria nacional. Uma indústria que deveria crescer pelo
aumento dos investimentos em tecnologia e pela redução de uma carga tributária extravagante,
responsável por sustentar o segundo maior congresso político do mundo. Uma
indústria que deveria crescer qualificando sua mão de obra com relação à prevenção,
que deveria investir mais nos aspectos de saúde e segurança, implantando
melhores condições de trabalho e reduzindo o adoecimento e a mortalidade
demonstrados nas estatísticas anuais.
Os adicionais de insalubridade acabam comprando a saúde do trabalhador |
Para encerrar, deixo um
pequeno excerto da legislação prevencionista, e que sempre costumo utilizar nas
minhas aulas de segurança do trabalho. É aquele trecho que abre a NR 05, que
trata da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes. Diz ela da necessidade de “tornar
compatível permanentemente o trabalho com a preservação da vida e a promoção da
saúde do trabalhador”. Será que é esta mesmo a intenção do atual do governo, e
dos empresários que estão ávidos pela aprovação da reforma trabalhista?
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