A educação brasileira é mais uma vez motivo de nudanças |
Tenho muita saudade dos
tempos iniciais de Escola, quando criança tive contato com as primeiras letras,
com os primeiros números. Bons tempos aqueles; tudo era novidade. O professor
era temido, autoridade máxima dentro da sala de aula. Nosso respeito por ele
beirava a devoção. Jamais imaginaríamos duvidar ou contestar suas palavras. Prá
julgar se isso era bom ou ruim, muito difícil. Posso dizer que era outro
contexto. Uma geração bastante amordaçada, mas era o que conhecíamos.
A evolução aconteceu na
sociedade brasileira. A educação também evoluiu; os horizontes se ampliaram e a
tecnologia enterrou muito daquele passado. Nem de longe tenho pretensão de
afirmar, como vejo alguns fazerem, de que naquele tempo sim, se aprendia. Não é
verdade. Talvez houvesse de nossa parte mais concentração, mais foco. Até
porque isso era imposto a nós.
A educação também pode ser utilizada como meio de manipulação |
Mas hoje, depois de tudo
que o conhecimento trouxe de construtivo na minha formação, posso dizer que
estou triste. Muito triste com alguns fatos ocorridos recentemente, e que poderão
prejudicar o futuro de muitos estudantes.
Os governos que assumiram o
país após o impedimento de Collor em 1992, realizaram projetos que tiveram uma continuidade.
Ou seja, não houveram aquelas costumeiras interrupções no que estava em
andamento. E esse foi o grande diferencial para que pudéssemos gozar de um
ciclo econômico virtuoso, como os economistas gostam de tratar. Devido ao bom
momento mundial naquele período, tivemos um crescimento econômico que
proporcionou grandes expectativas.
E foi nestes “anos dourados”,
de 2004 a 2010, que depositei toda minha confiança numa nova educação brasileira;
uma educação que se redimiria de seus
fracassos, e que poderia atingir níveis jamais alcançados em décadas anteriores.
Projetos como o Pronatec, o Prouni, Ciências sem Fronteiras e tantos outros
pareciam demonstrar que agora era prá valer. Parecia que iríamos nos redimir de
uma serie de fracassos anteriores. Educação de qualidade e gratuita para muitos
jovens que não possuíam condições financeiras para tal. O regime de cotas
facilitava o acesso, e tornava popular o que antes era privilégio de uma elite.
Os programas de governo trouxeram promessa de novos tempos na educação brasileira |
Mas o ocorrido com o
segundo mandato do governo Dilma, mostrava que por detrás da campanha eleitoral
havia promessas que não seriam ou não poderiam ser cumpridas. E foi o que
ocorreu. A "Pátria Educadora" serviu somente como mote de campanha. Pude acompanhar nas escolas técnicas onde trabalho há muitos anos, o
grande “blefe” imposto por aquele governo tão logo se reelegeu. Incentivadas
pelo projeto do Pronatec, as escolas investiram pesado na infraestrutura com a promessa
dos recursos federais. Estes acabaram atrasando e alguns nem foram pagos,
colocando todo o processo em falência. Quem possuía recursos extras conseguiu
se manter no mercado. Quem não tinha ou apostou, literalmente quebrou. Ou seja,
“o sonho se esboroou”, como diz o mestre Attico Chassot.
O ministro da educação propõe mudanças no Ensino Médio |
Veio o ‘Impeachment”. Uma
parte do governo caiu, outra, se aproveitando do momento, assumiu, e novamente
colocou a educação em destaque. Mas agora, com um projeto que promete “revolucionar”
o Ensino Médio, e também o Ensino Técnico, por consequência. Mas todo o cuidado
é pouco com as intenções que repousam neste projeto.
A proposta de fixar
disciplinas e tornar outras optativas me dá a impressão de piorar a qualidade
do que vai ser disponibilizado ao estudante brasileiro. Sem levar em conta a opinião
dos verdadeiros agentes envolvidos, a classe política tenta nivelar por baixo
a educação brasileira. A seu bel prazer quer empurrar “goela abaixo” um projeto
simplista que atenda às necessidades de uma elite empresarial; elite esta que
sempre esteve preocupada em manter sob seu jugo uma mão de obra dócil e pouco
qualificada, para preencher as demandas operacionais, principalmente da
indústria e do comércio.
Paulo Freire: nosso maior educador |
Senão vejamos. Quando se
retira do conteúdo programático do Ensino Médio disciplinas como a filosofia ou
a sociologia, ou outras a elas vinculadas, extrai-se dos alunos a capacidade de pensar,
de refletir, de criticar. E a quem isso interessa? Certamente interessa às
elites, aos grandes proprietários do país, que se fazem representar pela
maioria desta classe política que aí está a se utilizar da república em causa própria
e de seus patrocinadores, e que sempre busca manter a seu serviço uma
sociedade esterilizada.
Portanto, devemos ter
cuidado com a novidade deste projeto de educação recém-proposto pelo novo (velho) governo. Não
devemos esquecer dos ensinamentos de nosso maior educador, Paulo Freire, que não se cansava de afirmar:
“Seria uma atitude ingênua esperar que as classes
dominantes desenvolvessem uma forma de educação que proporcionasse às classes
dominadas perceber as injustiças sociais de maneira crítica.”
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