08 outubro 2016

FUNK NA OKTOBERFEST?

Há festas em nosso país que dizem muito dos lugares onde ocorrem. E como o Brasil é uma mescla de identidades, muitas destas festas possuem origem em nosso elemento imigrante, que deixou sua pátria para começar nova vida por aqui. E não poderia deixar de trazer suas tradições a reboque nesta vinda.

Pois assim foi também com a Oktoberfetst. Aqui no Brasil começou na germânica Blumenau em 1984, como uma filial do grande evento que já ocorria em Munique, na Alemanha, desde 1810. O maior motivo da realização da festa em Blumenau foi o resgate da autoestima da população local, em virtude das constantes enchentes que assolaram a região nos anos anteriores. E quando começou eu estava lá. Posso lhes garantir que participei da primeira Oktoberfest em solo brasileiro.

A culinária alemã é uma atração à parte na festa
A festa é sem sombra de dúvidas um tributo à cultura alemã. A bebida oficial é o chopp, acompanhado da gastronomia típica germânica. Tem o “Eisbein”, joelho de porco com repolho roxo; o “Hackepeter”, carne crua com temperos fortes; o “Kasseler”, um corte de lombo de porco defumado, e o famoso “Chucrute”, prato à base de repolho cozido. Além disso, há ainda o concurso do “Chopp em Metro”, que coloca em disputa o consumo de uma taça especialmente confeccionada com um metro de comprimento, cujo conteúdo deve ser consumido no menor tempo possível.

Mas uma das coisas características da Oktoberfest são as tradicionais músicas e danças alemãs. São elas que dão o desatque sonoro para quem comparece aos parques destas festas. Nos pavilhões da Proeb, onde se realiza a Oktoberfest de Blumenau, as bandinhas de música alemã se revezam por quase 24 horas no período da festa. Há bandas brasileiras e bandas convidadas do outro lado do Atlântico.
A Oktoberfest é um culto às tradições germânicas

Concomitante a Blumenau, mas sem o mesmo brilho da festa catarinense, também em 1984 o município de Santa Cruz do Sul, aqui no Rio Grande do sul, com forte influencia alemã, adotou a Oktoberfest em seu calendário turístico. De tímido começo, aos poucos foi se tornando famosa, e hoje já está em sua 32ª edição. A gastronomia, o chopp como bebida oficial e o folclore alemão também são destaque por aqui.

Mas neste ano de 2016, a programação dos shows que ocorrem durante o evento, tem suscitado muitas reclamações da população local. Por ser uma festa que comemora e celebra a cultura alemã, a escolha de shows de Funck para o palco principal, segundo os críticos, nada tem a contribuir com a festa e com o público que costuma visitar Santa Cruz do Sul. Entendem eles que esse tipo de música destoa da festa, pois os ritmos e as letras cantadas pelos artistas contratados são uma espécie de violência às famílias que ali comparecem.
As bandinhas alemãs animam a festa 

Alguns destes artistas costumam fazer apologia à sexualidade e às drogas, como o caso de Valeska Popozuda e Mr. Catra. Senão vejamos algumas letras de canções, se assim se pode chamar. Uma das composições de Valeska Popozuda (autora de “Beijinho no Ombro”) tem como título “Quero te dar”, onde alguns versos trazem o conteúdo abaixo:

Amor, tá difícil de controlar
Há mais de uma semana
Que eu tento me segurar
Eu sei que você é casado
Como é que eu vou te explicar?
Essa vontade louca
Muito louca
Eu posso falar?
Quero te dar, quero te dar

Valeska Popozuda e Mr. Catra são atrações este ano
na Oktoberfest de Santa Cruz do Sul
E o cantor Mr. Catra, famoso por sua capacidade de reprodução e seus 32 filhos, traz a composição “Adultério”. Nela a letra traz algumas pérolas como:

Sabe esses dias que tu acorda de ressaca?
Muuuiiiito louco, doidão
Sua roupa "tá" cheia de lama e a cachorra tá na cama
É o dia que a orgia tomou conta de mim... assim...

Sentada nomeu colo a gente zoa...
Gata que delícia... boaa

Ui, o bagulho tá sério, vai rolar um adultério

Ou seja, parece que um certo desvirtuamento da concepção original da Oktoberfest ocorre neste ano de 2016 em Santa Cruz. O interesse de empresários do hit star nacional, mais preocupados com o cofre do que com o espírito germânico da festa, vai aos poucos empanando o brilho desta grande festa do calendário turístico regional. Acredito que haja gosto pra todo tipo de musicalidade. Mas trocar “marchinha” por “funck” neste lugar, parece, no mínimo, uma decisão de extremo mau gosto. Dou razão aos críticos de Santa Cruz: cada coisa em seu devido lugar.    

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