Há festas em nosso país que
dizem muito dos lugares onde ocorrem. E como o Brasil é uma mescla de
identidades, muitas destas festas possuem origem em nosso elemento imigrante,
que deixou sua pátria para começar nova vida por aqui. E não poderia deixar de
trazer suas tradições a reboque nesta vinda.
Pois assim foi também com a
Oktoberfetst. Aqui no Brasil começou na germânica Blumenau em 1984, como uma
filial do grande evento que já ocorria em Munique, na Alemanha, desde 1810. O
maior motivo da realização da festa em Blumenau foi o resgate da autoestima da população
local, em virtude das constantes enchentes que assolaram a região nos anos anteriores.
E quando começou eu estava lá. Posso lhes garantir que participei da primeira
Oktoberfest em solo brasileiro.
A culinária alemã é uma atração à parte na festa |
A festa é sem sombra de
dúvidas um tributo à cultura alemã. A bebida oficial é o chopp, acompanhado da
gastronomia típica germânica. Tem o “Eisbein”, joelho de porco com repolho
roxo; o “Hackepeter”, carne crua com temperos fortes; o “Kasseler”, um corte de
lombo de porco defumado, e o famoso “Chucrute”, prato à base de repolho cozido.
Além disso, há ainda o concurso do “Chopp em Metro”, que coloca em disputa o
consumo de uma taça especialmente confeccionada com um metro de comprimento,
cujo conteúdo deve ser consumido no menor tempo possível.
Mas uma das coisas características
da Oktoberfest são as tradicionais músicas e danças alemãs. São elas que dão o
desatque sonoro para quem comparece aos parques destas festas. Nos pavilhões da
Proeb, onde se realiza a Oktoberfest de Blumenau, as bandinhas de música alemã se
revezam por quase 24 horas no período da festa. Há bandas brasileiras e bandas
convidadas do outro lado do Atlântico.
A Oktoberfest é um culto às tradições germânicas |
Concomitante a Blumenau,
mas sem o mesmo brilho da festa catarinense, também em 1984 o município de
Santa Cruz do Sul, aqui no Rio Grande do sul, com forte influencia alemã, adotou
a Oktoberfest em seu calendário turístico. De tímido começo, aos poucos foi se
tornando famosa, e hoje já está em sua 32ª edição. A gastronomia, o chopp como
bebida oficial e o folclore alemão também são destaque por aqui.
Mas neste ano de 2016, a programação
dos shows que ocorrem durante o evento, tem suscitado muitas reclamações da população
local. Por ser uma festa que comemora e celebra a cultura alemã, a escolha de
shows de Funck para o palco principal, segundo os críticos, nada tem a
contribuir com a festa e com o público que costuma visitar Santa Cruz do Sul. Entendem
eles que esse tipo de música destoa da festa, pois os ritmos e as letras
cantadas pelos artistas contratados são uma espécie de violência às famílias que
ali comparecem.
As bandinhas alemãs animam a festa |
Alguns destes artistas
costumam fazer apologia à sexualidade e às drogas, como o caso de Valeska
Popozuda e Mr. Catra. Senão vejamos algumas letras de canções, se assim se pode
chamar. Uma das composições de Valeska Popozuda (autora de “Beijinho no Ombro”)
tem como título “Quero te dar”, onde alguns versos trazem o conteúdo abaixo:
Amor,
tá difícil de controlar
Há mais de uma semana
Que eu tento me segurar
Eu sei que você é casado
Como é que eu vou te explicar?
Essa vontade louca
Muito louca
Eu posso falar?
Há mais de uma semana
Que eu tento me segurar
Eu sei que você é casado
Como é que eu vou te explicar?
Essa vontade louca
Muito louca
Eu posso falar?
Quero te dar, quero te dar
Valeska Popozuda e Mr. Catra são atrações este ano na Oktoberfest de Santa Cruz do Sul |
E o cantor Mr. Catra,
famoso por sua capacidade de reprodução e seus 32 filhos, traz a composição “Adultério”.
Nela a letra traz algumas pérolas como:
Sabe esses dias que
tu acorda de ressaca?
Muuuiiiito louco, doidão
Sua roupa "tá" cheia de lama e a cachorra tá na cama
É o dia que a orgia tomou conta de mim... assim...
Sentada nomeu colo a gente zoa...
Gata que delícia... boaa
Ui, o bagulho tá sério, vai rolar um adultério
Ou seja, parece que
um certo desvirtuamento da concepção original da Oktoberfest ocorre neste ano
de 2016 em Santa Cruz. O interesse de empresários do hit star nacional, mais
preocupados com o cofre do que com o espírito germânico da festa, vai aos poucos
empanando o brilho desta grande festa do calendário turístico regional. Acredito
que haja gosto pra todo tipo de musicalidade. Mas trocar “marchinha” por “funck”
neste lugar, parece, no mínimo, uma decisão de extremo mau gosto. Dou razão aos
críticos de Santa Cruz: cada coisa em seu devido lugar.
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