Figuras tradicionais da política brasileira participam de uma
verdadeira quadrilha instalada no poder
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Embora não deixe transparecer, desânimo e ânsia de vômito deram o tom
desta minha semana. Ela iniciou com uma enxurrada de vídeos, agora tornados
públicos pelo Supremo Tribunal Federal, mostrando as entranhas da podridão do
nosso falido sistema político.
Verdadeiras quadrilhas por detrás de siglas partidárias, se apropriaram
de recursos públicos para usufruto, e agora negam tudo. O discurso é padrão,
adotado de maneira combinada. Ninguém assume qualquer responsabilidade. E a
maneira como os delatores descrevem o repasse de propinas deixa pouca dúvida. A
riqueza de detalhes é impressionante, com datas e horas extraídas de sistemas contábeis
sofisticados. Havia até um departamento de propina, com um programa requintado,
o “Drousys”, de que se utilizou a Odebrecht. A empresa movimentou 3,3 bilhões
de dólares em propinas de 2006 a 2014.
Alexandre Versignassi, da Superinteressante |
O jornalista e diretor de redação da revista Superinteressante,
ALEXANDRE VERSIGNASSI, em seu Blog CRASH, caracterizou o Brasil como o país da “Cocolandia”.
Apesar da ênfase sarcástica e de um certo humor negro, deixo de lado o pudor e resolvo
tripudiar também a atual situação em que nos encontramos, mesmo que me
arrependa futuramente. Por isso, aqui vai o texto do Alexandre na edição desta
semana. O título é:
OS MILIONARIOS SÃO ELES.
MAS QUEM BANCA A PROPINA SOMOS NOZES.
Em
2014, um ex-líder do senado americano disse que um senador típico de lá gasta
dois terços do seu dia de trabalho pedindo dinheiro para o partido. Boa parte
desse tempo em um “call center” dentro do congresso, ligando para doadores até
atingirem suas metas, que no caso dos congressistas de primeira linha roça em
US$ 1 milhão. Não fez a meta, não ganha a chance de ser reeleito. Tem um
programa do John Oliver sobre isso.
A operação que revelou o maior sistema de desvio
de dinheiro público já visto no mundo
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Aqui,
como estamos vendo, jamais houve esse problema. O dinheiro de boa parte dos
cidadãos que vivem de política é dado por meia dúzia de senhores feudais. E US$
1 milhão é dinheiro de pinga. Político top de linha não sai da cama por menos
de dois dígitos de milhão.
Mas
claro. Como disse um investigado da Lava Jato: não existe doação de campanha no
Brasil. Existe empréstimo. Pago a juros de cartão rotativo.
Então
olhamos em volta, e vemos que 49,7% da população não têm acesso a sistema de
esgoto. Se os brasileiros sem saneamento formassem um país, essa Cocolândia seria
a 14ª nação mais populosa do mundo, com 100 milhões de habitantes. Maior que a
Alemanha, e com tanta gente quanto o Reino Unido e o Canadá somados.
Apesar de considerados escolarizados, 69% da população brasileira
é constituída de analfabetos funcionais |
Estamos
na merda literal e abstratamente: 69% da população não tem grau suficiente de
alfabetização para compreender satisfatoriamente o que está escrito nestas
linhas, segundo um estudo da ONG Ação Educativa. Somos 140 milhões de
analfabetos funcionais, que formariam o 10º maior país do mundo em população,
e, claro, um dos lanternas em riqueza per capita, ou em qualquer outro critério
que meça o bem estar de uma nação.
Não
poderia ser diferente. Porque quem paga aqueles empréstimos com juros não são
os sujeitos que recebem esses empréstimos, lógico. É a Cocolândia. É a
Repúbrica Anarfa. E até agora estava tudo bem. O cheiro da merda, afinal, não
chegava às coberturas dos nossos excelentíssimos.
Agora
chegou.
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