15 abril 2017

QUEM BANCA A PROPINA SOMOS NOZES


Figuras tradicionais da política brasileira participam de uma
verdadeira quadrilha instalada no poder
Embora não deixe transparecer, desânimo e ânsia de vômito deram o tom desta minha semana. Ela iniciou com uma enxurrada de vídeos, agora tornados públicos pelo Supremo Tribunal Federal, mostrando as entranhas da podridão do nosso falido sistema político.

Verdadeiras quadrilhas por detrás de siglas partidárias, se apropriaram de recursos públicos para usufruto, e agora negam tudo. O discurso é padrão, adotado de maneira combinada. Ninguém assume qualquer responsabilidade. E a maneira como os delatores descrevem o repasse de propinas deixa pouca dúvida. A riqueza de detalhes é impressionante, com datas e horas extraídas de sistemas contábeis sofisticados. Havia até um departamento de propina, com um programa requintado, o “Drousys”, de que se utilizou a Odebrecht. A empresa movimentou 3,3 bilhões de dólares em propinas de 2006 a 2014.  

Alexandre Versignassi, da Superinteressante
O jornalista e diretor de redação da revista Superinteressante, ALEXANDRE VERSIGNASSI, em seu Blog CRASH, caracterizou o Brasil como o país da “Cocolandia”. Apesar da ênfase sarcástica e de um certo humor negro, deixo de lado o pudor e resolvo tripudiar também a atual situação em que nos encontramos, mesmo que me arrependa futuramente. Por isso, aqui vai o texto do Alexandre na edição desta semana. O título é:

OS MILIONARIOS SÃO ELES.
MAS QUEM BANCA A PROPINA SOMOS NOZES.

Em 2014, um ex-líder do senado americano disse que um senador típico de lá gasta dois terços do seu dia de trabalho pedindo dinheiro para o partido. Boa parte desse tempo em um “call center” dentro do congresso, ligando para doadores até atingirem suas metas, que no caso dos congressistas de primeira linha roça em US$ 1 milhão. Não fez a meta, não ganha a chance de ser reeleito. Tem um programa do John Oliver sobre isso.

A operação que revelou o maior sistema de desvio
de dinheiro público já visto no mundo
Aqui, como estamos vendo, jamais houve esse problema. O dinheiro de boa parte dos cidadãos que vivem de política é dado por meia dúzia de senhores feudais. E US$ 1 milhão é dinheiro de pinga. Político top de linha não sai da cama por menos de dois dígitos de milhão.

Mas claro. Como disse um investigado da Lava Jato: não existe doação de campanha no Brasil. Existe empréstimo. Pago a juros de cartão rotativo.

Então olhamos em volta, e vemos que 49,7% da população não têm acesso a sistema de esgoto. Se os brasileiros sem saneamento formassem um país, essa Cocolândia seria a 14ª nação mais populosa do mundo, com 100 milhões de habitantes. Maior que a Alemanha, e com tanta gente quanto o Reino Unido e o Canadá somados.

Apesar de considerados escolarizados, 69% da população brasileira
é constituída de analfabetos funcionais
Estamos na merda literal e abstratamente: 69% da população não tem grau suficiente de alfabetização para compreender satisfatoriamente o que está escrito nestas linhas, segundo um estudo da ONG Ação Educativa. Somos 140 milhões de analfabetos funcionais, que formariam o 10º maior país do mundo em população, e, claro, um dos lanternas em riqueza per capita, ou em qualquer outro critério que meça o bem estar de uma nação.

Não poderia ser diferente. Porque quem paga aqueles empréstimos com juros não são os sujeitos que recebem esses empréstimos, lógico. É a Cocolândia. É a Repúbrica Anarfa. E até agora estava tudo bem. O cheiro da merda, afinal, não chegava às coberturas dos nossos excelentíssimos.

Agora chegou.

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