Passados mais de 100 anos da
assinatura da Lei Áurea e o nosso país ainda convive com as marcas deixadas
pela exploração da mão-de-obra escrava. No Brasil, a escravidão contemporânea
manifesta-se na clandestinidade e é marcada pelo autoritarismo, corrupção,
segregação social, racismo, clientelismo e desrespeito aos direitos humanos.
Segundo cálculos da Comissão
Pastoral da Terra (CPT), existem no Brasil 25 mil pessoas submetidas às
condições análogas ao trabalho escravo. Os dados constituem uma realidade de
grave violação aos direitos humanos, que envergonham não somente os brasileiros,
mas toda a comunidade internacional.
Nos últimos dois anos tenho
utilizado este Blog para falar a respeito do Trabalho Escravo, uma questão inadmissível
em pleno século XXI. É lógico que não se pensa naquele tipo de escravidão que
já existia na antiga Grécia ou na Roma dos imperadores. Nem tampouco na escravidão
que levou o Brasil à condição vergonhosa de último país no mundo a erradicar o secular
cativeiro negreiro pós descobrimento. Mas, a escravidão velada existente hoje
em dia no Brasil, tem sido motivo de varias incursões do Ministério Publico do
Trabalho nos mais variados segmentos da atividade econômica.
O programa Profissão
Repórter, da Rede Globo, da última terça-feira, dia 07 de agosto, mostrou as
condições de trabalho em oficinas de costura, mostrando o regime escravo em que
muitos trabalhadores são submetidos.
A exploração dos bolivianos nas confecções do estado de São Paulo |
Entre as oficinas visitadas,
a repórter Valéria Almeida acompanhou o trabalho do Ministério Público do
Trabalho e da CPI do trabalho escravo que encontrou bolivianos vivendo
trancados em uma oficina que produzia roupas para a loja Talita Kume, uma marca
famosa pela qualidade e pelo preço de roupas de moda fashoin. A ação acabou lacrando a oficina
que tinha ligação direta com uma loja evangélica.
A repórter esteve também na
loja localizada no bairro do Bom Retiro em São Paulo, onde os fiscais tentavam
encontrar o dono da empresa para lhe informar sobre as irregularidades
encontradas na oficina. A equipe da emissora não pode filmar a reunião entre os
fiscais e o advogado que representou o dono nessa negociação.
A empresa chegou a enviar
uma nota dizendo que repudia esse tipo de condição de trabalho e alegando não
ter ciência do que acontecia dentro da oficina. Como medida imediata a Talita
Kume criou um departamento interno para fiscalizar de forma rigorosa todos os
seus fornecedores.
Marcas famosas de roupas fashion também tem se utilizado do trabalho escravo |
Outra notícia que marca o dia 07 de agosto está estampada na
Folha de São Paulo, com o título “Empresários são condenados por trabalho
escravo em Pernambuco”. Veja o texto da notícia a seguir:
A Justiça Federal em Pernambuco condenou a
sete anos e onze meses de prisão dois empresários que submetiam os empregados
de seus engenhos em Moreno (28,4 km de Recife) a condições análogas às de
escravidão.
Os irmãos Fernando Vieira de Miranda e José
Marcos Vieira de Miranda também terão que pagar multa de 250 salários mínimos
(R$ 155,5 mil).
Eles foram denunciados pelo Ministério
Público Federal em 2010. O Ministério do Trabalho identificou que 101
trabalhadores dos engenhos Contra-Açude, Furnas, Una e Capim Canela eram
expostos a condições degradantes de trabalho.
O relatório de fiscalização informou que os
trabalhadores não recebiam água potável, alimentação e equipamentos de proteção
individual. Além disso, os alojamentos deles não tinham instalações elétricas e
sanitárias adequadas.
Segundo o Ministério Público, os empregados
também não tinham registro em carteira de trabalho nem possuíam direito a
benefícios como FGTS, descanso semanal remunerado e férias.
"Restou evidente que os denunciados, de
modo consciente e voluntário, submeteram vários trabalhadores [...] à situação
degradante, causando evidente mácula às respectivas dignidades, na medida em
que os tratava como meros instrumentos de trabalho", escreveu na sentença
Flávia Tavares Dantas, juíza substituta da 13ª Vara.
Desta forma vê-se que muito ainda deve ser feito para
erradicar esse mal que assola as populações pobres, que buscam oportunidades de
emprego que lhes proporcione condições decentes de sobrevivência. E agora, alem
da submissão dos brasileiros que já é recorrente, surge no cenário nacional a exploração
de trabalhadores estrangeiros que, saídos de suas pátrias em crise para buscar
um futuro mais decente, são vitimas da exploração da sanha lucrativa de empresários
sem escrúpulos.
Fontes: Folha de São Paulo (Ed. 07/08/12) e Ministério Público do Trabalho
Um comentário:
Meu caro Jairo,
quando se lê esta blogada.... mesmo que muito já teclaste nisso --, parece que se está lendo um texto medievo.
Parece incrível que relatas o Brasil do século 21.
Abraços entristecidos,
attico chassot
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