22 fevereiro 2014

DUELO DE TITÃS



O tema já foi explorado por Hollywood

Na mitologia grega, os Titãs estão entre as entidades místicas que enfrentaram Zeus e os deuses do Olimpo em grandes batalhas pela ascensão ao poder. A palavra Titã vêm do latim Titan, que por sua vez tem origem do grego Τιτάν, Ti-tan. A essas batalhas normalmente se dava o nome de Duelo de Titãs, e que inspirou algumas tramas cinematográficas hollywoodianas. Aliás, lendas gregas dão conta de que todas as vezes que esses duelos ocorriam, um turbilhão de estrondos e ruídos podiam ser sentidos em todo o Monte Olimpo. 

Nesta perspectiva de embates travados em busca de poder e de predominância, pesquisando temas relacionados ao meio ambiente e da agressão que a ele se faz, me deparei esta semana com um verdadeiro "duelo de titãs". Todavia, este é um duelo silencioso, mas que tem tempero sórdido e infame. Vejamos como ele se dá!

Attico Chassot diz que devemos formar "cuidadores do planeta"
Sabemos nós educadores a grande dificuldade de sensibilizar nossos alunos e alunas em prol de uma mais amena exploração dos recursos naturais. É bastante intrincado formar “cuidadores do planeta”, como destaca o professor Attico Chassot, especialista em educação, desde a tenra idade, incutindo neles a importância de tratar o ambiente natural de forma integrada à vida humana, e não de um elemento que dele se servem os indivíduos na condição de dominador e dominado.

Pois enquanto ONGs e instituições de defesa do meio ambiente se esmeram em levar informações a este público, outros interesses também se mobilizam na tentativa de não cederem terreno a uma nova cultura ambiental. Foi o que descobri ao explorar a página da ANDEF (Associação Nacional de Defesa Vegetal), entidade que agrega empresas e profissionais usuários dos defensivos agrícolas como forma de melhorar a performance da agricultura nacional. Para o ambientalista José Lutzenberger (1926-2002), estes defensivos eram chamados “agrotóxicos”, expressão que o fez se tornar “persona non grata” da indústria química.
A aviação agrícola também é responsável pela aplicação dos defensivos

Conforme consta na página da ANDEF, fazem parte desta associação empresas como a BASF, a BAYER, a DOW e a DUPONT, sabidamente empresas fabricantes de produtos com grande impacto na mesa dos brasileiros.

No texto da página da ANDEF se pode ler conteúdos como esta a seguir, tratando do uso dos defensivos agrícolas:

O Brasil sempre enfrentou, ao longo de sua história, imensas dificuldades para ingressar na agricultura de alta escala e com qualidade. [...] A safra brasileira mal atendia o próprio mercado interno – exceto com café, cacau e açúcar; hortaliças e frutas de clima temperado sequer prosperavam, pois pragas e doenças grassam com maior virulência em lavouras tropicais. Essas culturas, sobretudo, necessitam ser protegidas das inúmeras pragas: insetos, ácaros, fungos, bactérias, vírus, plantas daninhas e diversos outros patógenos e animais que competem com as plantações.

Portanto, sem o controle eficiente de pragas e doenças, a agricultura não seria um dos esteios da economia no país, muito menos ocuparia a posição destacada que detém no cenário mundial.

Em outra parte da página da ANDEF, se pode ler sobre o agronegócio brasileiro, que exibe um desempenho magnífico e que as indústrias que pesquisam, desenvolvem e produzem defensivos agrícolas se orgulham em participar destes resultados. São parceiras do agricultor brasileiro na missão de gerar alimentos com qualidade e energia renovável para a humanidade.
A Secretária de Educação Municipal de Campinas apoiou o lançamento de publicação suspeita: "Proteger a Plantação"

Mas o verdadeiro “duelo de titãs” a que me referia desde o início é aquele que se dá nas Escolas. A ANDEF mantém uma página especialmente direcionada para a educação, a ANDEFedu (www.andefedu.com.br). Ali se disponibilizam vídeos e publicações que são inclusive distribuídos em escolas, conforme notícia veiculada no ano passado no Portal do Agronegócio (http://www.portaldoagronegocio.com.br/noticia/andefedu-lana-livro-sobre-a-histria-da-agricultura-para-jovens-8670). Uma destas publicações é bastante ilustrativa e atraente. O manual “Pequenas Histórias de Plantar e de Colher” traz a história da agricultura ao longo dos anos sob a ótica da indústria de defensivos agrícolas. Material deste tipo é que está sendo distribuído no Ensino Básico, contando inclusive com o apoio de autoridades municipais que deveriam rechaçar estas ações, como se vê no anúncio da ANDEF acima.

Ora, é sabido que o Brasil é um dos países cujo uso de agrotóxicos na agricultura é dos mais intensos mundialmente. Recentemente (junho de 2013), um avião pulverizou agrotóxico sobre uma Escola do assentamento Pontal dos Buritis em Rio Verde (GO), deixando intoxicados oito adultos e 29 crianças, entre 6 e 14 anos. Ainda segundo o Sindicato Nacional para Produtos de Defesa Agrícola (Sindage), cada brasileiro consome 5,2 litros de agrotóxicos ao longo do ano. Cabe lembrar aqui o documentário bastante pertinente sobre o assunto, e que está disponível na rede mundial: “O Veneno está na Mesa” (http://www.youtube.com/watch?v=8RVAgD44AGg)  
 
A Agricultura Orgânica ainda está em fase evolutiva e requer nosso apoio
A criação de uma nova forma de cultivares orgânicos, isenta destes “venenos”, está em andamento e precisa ser divulgada e incentivada. Todavia, os preços ainda não conseguem ser competitivos nos mesmos níveis daqueles produtos oferecidos corriqueiramente nos supermercados. É preciso uma maior adesão a esta “cultura da vida”, em detrimento da “cultura da morte” dos agrotóxicos. E isso tem como elemento de transformação a educação, aquela que ocorre no cerne da família e nos primeiros anos da educação formal.

Desta forma, vê-se que duelos desta magnitude continuam ocorrendo nas mais diversas esferas, muitos deles silenciosamente e imperceptíveis. Cabe a nós educadores e pesquisadores estarmos atentos para contragolpear e denunciar todas as vezes que o inimigo mostrar suas garras. 

2 comentários:

Attico CHASSOT disse...

Meu caro Jairo,
primeiro um pedido de desculpas por algumas omissões de comentário. Meu retorno de três semanas no exterior (onde li a cada semana teu blogue, mesmo que não comentasse) se aditou de uma semana muito densa, que tu prestigiaste na sexta-feira com postagem concorridíssima no FB.
Esta blogada que agora circula está excepcional. Vou indica-la para meu filho André, que se inicia na militância da agricultura ecológica, com a produção de localívoros.
Fiquei emocionado com a referência ao meu trabalho nesta edição. Estou longe de me aproximar do que fazem alguns titãs em prol do ambiente natural.
Muito obrigado pela distinção que me ofereces e pela excelência desta blogada.
A admiração
Achassot
Mestrechassot.blogspot.com

Attico CHASSOT disse...

Meu caro Jairo,
primeiro um pedido de desculpas por algumas omissões de comentário. Meu retorno de três semanas no exterior (onde li a cada semana teu blogue, mesmo que não comentasse) se aditou de uma semana muito densa, que tu prestigiaste na sexta-feira com postagem concorridíssima no FB.
Esta blogada que agora circula está excepcional. Vou indica-la para meu filho André, que se inicia na militância da agricultura ecológica, com a produção de localívoros.
Fiquei emocionado com a referência ao meu trabalho nesta edição. Estou longe de me aproximar do que fazem alguns titãs em prol do ambiente natural.
Muito obrigado pela distinção que me ofereces e pela excelência desta blogada.
A admiração
Achassot
Mestrechassot.blogspot.com